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Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

terça-feira, 19 de julho de 2016

Não seja um show man

Mt 6.1-4
Chegamos a Mateus 6, após uma longa e detalhada exposição de Mateus 5. O primeiro verso diz que devemos “guardar de nossa justiça diante dos homens, com o fim de sermos vistos por eles; doutra forma não tereis galardão junto ao Pai celeste”. Nas versões mais literais diz esmola.  Algumas versões na linguagem de hoje usam a expressão “serviços religiosos”, esta tradução não reflete o que o texto quer nos ensinar. Penso que a melhor tradução aqui seria “boas obras”.

Se compararmos este verso com Mt 5.16 onde lemos: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que veja as vossas boas obras e glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus”. Pode surgir a seguinte dúvida, como os homens verão as minhas obras se eu me guardar para ninguém ver? Se eu orar somente em secreto no meu quarto, se eu ajudar a alguém ninguém ficar sabendo, se eu fizer boas coisas e ninguém souber, como glorificarão ao Pai, como servirei de exemplo para que sejam meus imitadores? E como a glória do Senhor brilhará através dos meus atos se ninguém ver o eu fiz?

Não há contradição aqui, embora em um primeiro momento pareça que exista. O texto de Mateus 6.1 está nos orientando para seguir um caminho contrário ao dos escribas e fariseus que quando iam dar uma esmolas faziam tocar uma trombeta para que todos vissem quão boa ela era. Toda boa ação que faziam eles eram louvados pela obra praticada. Jesus esta dizendo que se você fizer isto, você já recebeu seu galardão. Ou seja você não deve fazer estas coisas buscando vanglórias, buscando enaltecer a si mesmo, em palavras diretas, você não deve fazer boas obras para se aparecer.

Tive uma ovelha que era uma boa pessoa, crente, fervoroso, ‘pau pra toda obra’, homem de oração, a igreja podia contar com ele pra tudo. Entretanto ele tinha um problema sério, ele gostava de se enaltecer, se ele expulsasse um demônio, pronto, falava daquilo o tempo todo; se orasse por alguém e a pessoa fosse curada, pronto, o testemunho não parava. Desta forma a glória não estava sendo dada a Deus e sim a ele. Acredito que ele poderia contar como testemunho em algum lugar, caso fosse necessário para a edificação de alguém, mas não era o caso, ele falava para se auto afirmar, para mostrar o quanto ele era bom.

1.       Não seja um show man

Lloyd-jones afirma que o crente não deve desejar ser um ‘show man’, um espetáculo admirado pelos homens. O crente deve viver de maneira que as pessoas ao olhar para ele glorifiquem a Deus. Que Ele (Jesus) cresça e eu diminua, esta deve ser a posição do homem de Deus.

"Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;”

Não devemos tentar nos aparecer quando fazemos boas ações. Devemos fazer boas obras sem levantar bandeira para chamar atenção para nós mesmos. Este texto vem nos ensinar mais uma vez sobre a nossa essência, sobre o que nos motiva a fazer o que estamos fazendo; o que estamos praticando é para minha glória pessoal ou para que Deus seja glorificado? Se for para se auto promover, você já recebeu a sua recompensa. Não terá mais galardão nos céus.

3.       O orgulho precede a queda

Glorificar-se a si mesmo gera orgulho e já sabemos que o orgulho é o princípio da queda (Prov. 16.18). Até mesmo o homem natural já descobriu isto. Veja como eram as entrevistas de jogadores de futebol antigas e veja como são as de hoje. São todas palavras voltadas para humildade. Embora seja só uma falácia, por que eles são treinados para dizerem aquilo, houve um estudo por profissionais para que o jogador não demonstre soberba. A ideia é se mostrarem humildes, por que as pessoas assimilam melhor a ideia de pessoas que se comportam desta maneira. Há uma tendência de rejeição a quem é soberbo, todos ficam torcendo e esperando que ele perca para quem é mais humilde.

4.       O que te motiva a fazer boas obras?

O cuidado que devemos ter é olhar para dentro de nós, Jesus sempre nos leva a um auto exame, “examine-se o homem a si mesmo”, e responder sinceramente, o que nos motiva a fazer o que estamos fazendo, e a resposta precisa ser sempre a mesma: eu estou fazendo isto para a glória de Deus; Faço isto por que assim Deus nos orienta a amar (servir) ao próximo; Faço isto por que estou inundado do amor de Deus.

sábado, 9 de julho de 2016

Amai os inimigos

Mateus 5.43-48

Chegamos a um dos pontos mais difíceis do sermão do monte. Como amar a uma pessoa a quem detesto com todas as minhas forças? Como amar a alguém que me humilhou, me fez grande mal ou até mesmo não gosta de mim? Seria isto possível? Vamos ver o que Jesus orientou a respeito disto no sermão do monte.

Está é a sexta das seis ilustrações que Jesus se utiliza para nos ensinar sobre a lei de Deus, em contraste com a interpretação dos escribas e fariseus.  Eles ensinavam “amarás ao teu próximo e odiará ao teu inimigo”. Para eles o próximo era sempre outro israelita. Porém, Jesus vai ensinar na parábola do ‘bom samaritano’ que qualquer pessoa pode ser o seu próximo, até mesmo aquele a quem você considera inimigo, por que Judeus consideravam samaritanos como povo inimigo. Jesus declara para eles: “Eu, porém, vos digo, amai a vossos inimigos e orai pelo que vos perseguem”. Estas palavras de Jesus devem ter doído um bocado.

Origem da interpretação dos escribas e fariseus

Em que os escribas e fariseus se basearam para chegar a esta interpretação? Segundo Lloyd-jones foi
no fato de que o povo hebreu quando estava para entrar na terra prometida recebeu ordens de Deus para exterminar aos cananeus. Para Lloyd-jones foi neste fato que eles baseavam toda estrutura hermenêutica de interpretação. Durante toda a ocupação da terra prometida, foi necessário cumprir esta ordem. Porém, o povo hebreu não o fez em sua totalidade. O resultado foi que até o dia de hoje ainda existem guerras naquele local.

O que Jesus está dizendo no sermão do monte é que naquele tempo foi necessário agir daquela forma, mas que agora é um novo tempo, e se faz necessário amar aos nossos inimigos. Nos versos anteriores Jesus havia dito que é preciso oferecer a outra face e caminhar outra milha, agora no verso 44 ele diz que precisamos amar estas pessoas. Difícil, se pensarmos em fazer isto naturalmente. Mas se você rever as bem aventuranças, há de se lembrar daquelas características: humilde de espírito, quebrantado, manso... Portanto, para cumprir o que Jesus disse, só é possível para aquele que genuinamente é dirigido pelo Espírito de Cristo.

Amai a vossos inimigos

Partindo deste princípio divino precisamos urgente repensar a forma com que tratamos aos outros. Quais tem sido os nossos pensamentos e sentimentos em relação a bandidagem que assolam o nosso Rio de Janeiro. Já vi alguns posts na internet desejando que morram. Não estou aqui defendendo bandidos e nem afirmando que são pessoas dignas de serem amadas. Não devemos amá-los por que eles merecem, por que de fato, não merecem; estão colocando terror nos cidadãos de bem. Não estou sequer advogando a seu favor, por que são indignos aos nossos olhos. Entretanto a orientação de Jesus é que devemos amá-los e orar por eles. Devemos amá-los por quem somos, pelo que há em nós, por que Deus é amor e vivemos no seu amor.

A maioria das pessoas não pensam assim por que são pessoas naturais, elas fazem tudo conforme a sua natureza humana. Por que devemos agir de forma diferente destas pessoas? Por que somos crentes e o crente é alguém que foi separado do mundo. Se vivermos conforme o mundo, que diferença temos? O crente não pertence mais a este mundo, o nosso Reino não é deste mundo. O crente é alguém transformado, é uma nova criatura; por isto ele consegue ver as coisas a partir de uma perspectiva diferente. Ele experimentou o amor de Deus e vive sobre este amor.

Amar não é uma questão sentimental

Perceba que não se trata aqui de um sentimentalismo do tipo: eu vou ser bondoso com as pessoas e elas se tornarão bondosas. Há muitas pessoas perversas no mundo que estão à procura de pessoas bondosas somente para dar golpes e se aproveitar. Há pessoas ligadas aos direitos humanos que advogam que todo bandido deve ser tratado com bondade para que ele seja transformado; por causa disto muitos bandidos têm se aproveitado do sistema para ter penas mais brandas. Penas mais brandas não simbolizam amor e sim injustiça. O amor de Deus não está ligado a indolência e nem a injustiça, pelo contrário, seu amor caminha junto com sua justiça.

Amar não quer dizer passar a mão sobre a cabeça ou amenizar o castigo. Quem comete crimes precisa responder por eles. Pais que dizem amar aos seus filhos, mas não impõe limites, não estabelece regras e não pune os erros, certamente confundiu amor com passividade. E esta criança irá crescer e se tornará um adulto sem limites. O fato de amar as pessoas diz respeito a tratá-las com humanidade dentro de um ambiente de justiça. E não apenas isto, devemos orar por elas, para que haja uma transformação real, realizada pelo Espírito Santo.

Por que devemos orar pelos que nos perseguem?

Por dois motivos: 1. Por que a oração pode transformar a vida daquela pessoa; 2. Por que a nossa oração nos faz enxergar a situação pelos olhos espirituais. Quando oramos por alguém que nos persegue o Senhor vai quebrantando o nosso coração e vai limpando o ódio e o rancor.

Seja perfeito como Deus

No último verso deste capítulo Jesus surpreende dizendo: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste”.

O sermão do monte é um discurso desafiador, ele nos desafia a fazer coisas bastante difíceis.  Vejamos: 1. A nossa justiça tem que exceder a dos escribas e fariseus; 2. Não podemos olhar para uma mulher com intenção impura; 3. Temos que dar a outra face; 4. Não podemos insultar, chamar o irmão de idiota ou de maluco; 5. Temos que perdoar as pessoas antes de adorar a Deus; 6. Amar e orar por nossos inimigos.  Por outro lado, se conseguirmos fazer tais coisas, seremos parecidos com o Senhor.

O verso 45 diz “para que vos torneis filhos do Pai”. Qual filho é inteiramente parecido com os seus
pais. Por menos que se pareça, sempre temos algumas características, mas não todas. De qualquer forma quando alguém olha pai e filho sempre diz que algo nos filhos faz lembrar aos seus pais. Como não somos filhos naturais, e sim adotivos mediante a sua graça, não iremos parecer tanto com ele. Jesus, seu filho legitimo nos orienta o que devemos fazer para nos parecermos com o nosso Pai adotivo.


Este texto é o nosso grande teste para saber se você realmente foi adotado pelo Pai. Se for, em algum lugar irá se parecer com ele de tal forma que as pessoas irão testemunhar que você realmente é filho de Deus, por que se parece com Deus em alguns detalhes. Quanto mais nos aproximamos de Deus e cumprimos sua vontade, mas ficamos parecidos com ele.

sábado, 11 de junho de 2016

Virar a outra face? Eu prefiro olho por olho, dente por dente!

Mateus 5.38-42
O que você sente quando alguém te dá uma fechada no trânsito, ou quando alguém te apronta uma que te deixa todo embaraçado na frente de todo mundo. Em geral sentimos uma revolta e queremos descontar a ofensa. Isto é o que qualquer pessoa natural faria.  Chegamos a um texto que muitos consideram impossível de ser praticado. Será? Vamos examinar, a partir das ponderações de Lloyd-jones e David Bosh, e tentar descobrir se é possível praticar este ensino, ou teria Jesus ensinado algo que é descartável?

A declaração do AT “olho por olho, dente por dente”, aparece nos trechos de Ex 21.24 e Dt 19.21. O principal motivo pelo qual este preceito foi outorgado foi para controlar os excessos praticados contra o outro. Era preciso regular a respeito da ‘desforra’ ou uma espécie de indenização pelo mal praticado. Todos nós temos nos tornado culpados desse pecado. O revide faz parte de nosso instinto natural. Basta uma pequena ofensa para que a pessoa ofendida procure se vingar, podendo até mesmo matar. Desde a mais tenra idade as crianças manifestam esse impulso para a vingança; esse é um dos mais odiosos resultados da queda do homem. A finalidade desse preceito mosaico foi o de controlar e reduzir esta inclinação, devolvendo certa ordem à sociedade dos homens.

O que a lei de Moises veio normatizar? se um homem chegasse a cegar a outrem, não deveria ser morto por esse motivo. Antes, seria “olho por olho”. Ou então, se viesse a arrancar um dente de um seu semelhante, a vítima só tinha o direito de exigir que o ofensor perdesse um dos seus dentes. Se tirasse a vida, pagaria com sua vida. O castigo era sempre equivalente à ofensa, sem jamais excedê-la. Até hoje este é o princípio do direito moderno de indenização, ou seja, ressarcir os danos causados a outrem.

É importante frisar que este preceito não foi dado para os indivíduos, mas antes, foi dirigido aos juízes, que eram os responsáveis pela lei e pela ordem. Aos juízes competia averiguar se a justiça estava sendo efetuada, não cabia isto aos indivíduos em particular. O seu principal objetivo era introduzir o elemento de justiça e retidão, e não legalizar o que denominamos justiceiros, ou seja, aquele que faz justiça pelas próprias mãos. Quem cometeu o delito precisa sofrer ou pagar o equivalente ao delito cometido, mas quem determinaria isto seriam os magistrados e não pessoas comuns.

No que diz respeito ao ensino dos fariseus e escribas, a dificuldade central deles é que ignoravam totalmente o fato de que esse ensino se destinava exclusivamente aos juízes, mas antes, dele faziam uma questão de aplicação pessoal. Jesus apresenta uma nova interpretação que era totalmente contrária ao conceito farisaico. Com isto, ele não estava estabelecendo uma nova lei que iria substituir a lei de Moises; pelo contrário, o que ele pretendeu foi enfatizar o espírito da lei, o por um fim ao entendimento farisaico da lei.

É importante frisar que este não é um texto que pode ser entendido isoladamente. Aliás, nenhum texto pode ser interpretado separadamente. Este bloco de texto faz parte do sermão do monte e portanto, precisa ser entendido a partir de seu contexto. Jesus iniciou o sermão com as bem-aventuranças: “bem-aventurados os humildes de espírito”, “aqueles que choram”, “os mansos”, “aquele que tem fome e sede de justiça”.  Desta forma o ensino de todo o restante precisa ser entendido a partir destas qualidades. O homem natural será incapaz de entender, somente aquele que nasceu de novo será capaz de aceitar o que Jesus ensinou.

O que Jesus está afirmando é que a justiça é expressa por meio da fórmula “olho por olho, dente por dente” e que não havia nada de errado na lei. O individuo que não se põe debaixo da graça divina, precisa ser mantido debaixo da lei.  A lei, portanto, é necessária para manter o perverso sob controle e puni-lo em caso de abusos, foi o próprio Deus quem determinou assim.

Podemos ver neste texto os aspectos que versa sobre à reação pessoal do crente diante das coisas que lhe acontecem. Certamente só existe um princípio básico neste preceito, a saber, a atitude de uma pessoa para consigo mesma. Jesus disse: “... mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”. E então Jesus diz, inesperadamente: “Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”. E isso nos impele imediatamente a indagar: Que tem a ver essa questão dos empréstimos com a questão da não-resistência ao perverso, de não revidar e não brigar com o próximo? Jesus estava interessado na questão do “eu”, está em pauta o que eu penso de mim mesmo, bem como qual é a minha atitude para comigo mesmo diante da ofensa. Quem tem um senso de justiça próprio muito elevado será incapaz de enxergar o outro, ver a necessidade do outro, não consegue praticar a alteridade, sua visão é só de si mesmo.

Com isto Jesus não está dizendo para você se deixar ser esbofeteado por qualquer um. Se um bêbado ou louco quiser esbofetear sua face ou mesmo pegar um dinheiro emprestado, ele nãos sabe o que está fazendo. Na verdade ele não tem noção do mal que está praticando. O que Jesus está dizendo? que você não deve cobrar a divida ao perverso e não deve querer pagá-lo na mesma moeda, se você assim proceder, você se igualou a isto, você voltou a lei 'olho por olho' e portanto abandonou a graça. 

Me permita ilustrar com um fato real. Conta-se que certa vez o missionário Hudson Taylor estava na China quando acenou para um barqueiro, quando o bote já estava se aproximando, um rico chinês lhe empurrou, ele caiu na lama e o chinês quis entrar em sua frente. Taylor não disse nada, mas o barqueiro indignado se recusou a levar o chinês e disse, ele me chamou primeiro. Taylor então entrou no bote e logo em seguida convidou o chinês para entrar e ir com ele. No bote Taylor aproveitou a oportunidade para evangelizá-lo.

Jesus estava desmascarando tudo aquilo que se refere ao espírito de autodefesa, que aflora prontamente quando alguém nos faz alguma injustiça, esse espírito de retaliação, de justiça própria, que tanto caracteriza o homem natural. Não deveríamos nos preocupar tanto com ofensas e insultos pessoais que nos vitimam.

Jesus também fala “... e ao que demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa”. Jesus aqui falava a respeito de nossa tendência de exigirmos os nossos direitos. De conformidade com as leis judaicas, um homem não podia de forma alguma ser despojado de suas roupas mais externas, embora pudesse sê-lo de sua roupa interior.

O crente não precisa preocupar-se com insultos e ofensas pessoais. Porém quando se trata de uma questão de honra e de justiça, de retidão e de verdade, o crente deve preocupar-se e fazer o seu protesto. Quando a lei não é honrada, quando ela é quebrada de modo flagrante, não por causa de algum interesse pessoal, e nem a fim de nos protegermos a nós mesmos, mas para que se promova a justiça.

Sobre o que Jesus fala de “andar a segunda milha”. No mundo antigo uma autoridade romana podia determinar a qualquer pessoa carregar uma bagagem ou levar algo para outrem. O exército romano exercia controle sobre as vidas dos judeus e com frequência exigia que levasse suas bagagens, o que despertava revolta. Jesus disse, se alguém te obrigar ir uma, vai duas com ele. Desta forma o teu testemunho falará mais do que muitas palavras.

O crente não deve exibir o amargor de espírito do homem natural. Mas, isto não quer dizer que ele
precisa se conformar e não lutar por mudanças na lei de uma forma geral, mas sim que ele não deve viver amargurado. Martin Luther King foi alguém que lutou contra leis injustas que oprimiam o seu povo, sem usar o revide ou a revolta. Apenas lutou contra leis injustas por que tinha fome e sede de justiça.


Uma ultima coisa que Jesus levanta é sobre a questão de emprestar. “Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”. Isto não quer dizer que devemos dar dinheiro a todos que nos pedirem, mas sim que devemos ter os olhos abertos ao necessitado. Se você der um dinheiro para um bêbado ou drogado estará contribuindo para sustentar o seu vício e isto não é correto, da mesma forma se você der dinheiro a um golpista não estará o ajudando. O que Jesus estava considerando é a tendência do ser humano em só olhar para si mesmo e não ajudar ao próximo. I João 3.17-18 diz que devemos ajudar ao nosso semelhante por que isto é a manifestação do amor de Deus.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Fale sim, sim ou não, não. Tenha palavra!

Mt. 5.33-37
Como as pessoas podem se tornar crentes? Uma das maneiras mais comum é observando a vida do crente. Talvez esta seja a melhor e a mais frágil forma de evangelização. As pessoas gostam de vigiar a vida do crente, isto nos traz grande responsabilidade. Com as nossas atitudes podemos levar pessoas a Cristo ou afastá-los completamente de uma possibilidade de salvação.

Lloyd-jones salienta que neste bloco do sermão do monte, Jesus mais uma vez levanta um ponto da lei mosaica que os fariseus desvirtuavam de seu real significado. "Também ouvistes o que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos". Não existem estas palavras em nenhuma parte do AT, esta era uma interpretação que os fariseus faziam da lei, talvez a partir de Ex. 20.7 "Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão"; Lv. 19.12 "...nem jurareis falso pelo meu nome..". A partir da junção de versos isolados eles montavam sua sistemática, desviando-se do sentido real da lei mosaica. Tudo parecia fazer sentido e apoiado na lei, mas Jesus mostra que não era bem assim.

O principal sentido das afirmações de Moisés era “por um freio” nas inclinações humanas para a mentira. Moisés estava enfrentando um problema muito grande, as pessoas estavam mentindo deliberadamente e já não se podia confiar no que elas estavam dizendo uns aos outros. O propósito da lei era justamente parar esta tendência maligna.

A dificuldade dos fariseus e escribas era que a atitude deles era ditada inteiramente pelo legalismo.
Preocupavam-se muito mais com a letra da lei do que com o espírito da lei. Durante todo o tempo em que pudessem persuadir a si mesmos de que estavam observando a letra da lei, se sentiam perfeitamente satisfeitos. Eles haviam torcido de tal maneira o significado dos juramentos, interpretando os trechos bíblicos segundo os moldes legais que permitiam a si mesmos um amplo espaço para fazerem muitas coisas que eram abertamente contraditórias com o espírito da lei. Assim sentiam estar isentos de qualquer culpa, pois, para eles, nunca haviam quebrado a letra da lei.

A falsa interpretação dos fariseus e escribas traçava uma linha de distinção entre diversos tipos de juramento, afirmando que algumas modalidades de juramentos eram obrigatórias e outras não. Se alguém fizesse um juramento pelo templo, tal juramento não seria considerado válido; mas, se jurasse pelo ouro do templo, então estava obrigado a cumpri-lo. Se alguém jurasse pelo altar, não haveria necessidade de observar tal juramento; todavia, se jurasse pela oferta posta sobre o altar, estava forçado a cumpri-lo. No trecho de Mateus 23.16-22 o Senhor lançou todas essas noções no ridículo, salientando a desonestidade envolvida nelas.

Jesus disse: "Eu, porém, vos digo". Ou seja, não obstante ao que os antigos falaram ou o que vocês ensinam, eu sou o Legislador e tenho autoridade para esclarecer este assunto para vocês. Nos versos 37 Jesus fecha a questão sobre a matéria, ele diz: “Vocês tem que ter palavra! Qualquer coisa a mais é do diabo”.

Não é sobre a questão do juramento a preocupação de Jesus, mas sobre o homem ter palavra. Isto tem a ver com o caráter. Mais uma vez aqui voltamos para o aspecto da santidade. Não é uma questão mera de moral, por que o fariseus e escribas julgavam serem homens de moral (Mt. 23.28), era um problema de santidade. Pessoas que buscam somente a moral podem se perder em meio ao legalismo, mas quem busca a santidade evidencia o caráter de Jesus e de suas palavras. Os fariseus se mostravam impecáveis em seu exterior, mas o seu interior era sujo.

Há pessoas que dizem que não mentem. Isto em si já é uma grande mentira. É impossível viver neste mundo e nunca ter mentido. Então, para trazer conforto e paz aos seus corações eles maquiam suas próprias mentiras. Vou ilustrar para ficar mais claro. Certa vez uma pessoa estava dando um 
'tristemunho' e contou que o patrão dela havia dito que se alguém ligasse era para dizer que ele não estava, ela ficou preocupada por que não podia mentir, então o telefone ligou e ela disse que ele não poderia atender naquela hora. Ela se sentiu aliviada por que não mentiu. Oras, vamos analisar isto, o que ela disse era verdade? Obviamente que não. A verdade era que ele estava, mas não queria atender o telefone. Não existe meia verdade, ou é sim ou não. É isto o que Jesus estava dizendo. Não podemos arrumar desculpas para o nosso pecado. Há pessoas que dizem: "há, eu faço isto por que todo mundo faz". Ok, há coisas erradas que infelizmente somos forçados a fazer, devido ao risco de danos maiores, mas temos que ter a dignidade de admitir que o que fizemos não está correto. Não estou afirmando que temos que nos acostumar com o erro, mas sim para não dissimularmos, por que era isto que os fariseus faziam e acusavam os pecadores do erro. Eles escondiam seus erros e apontavam os dos outros.  É preciso ter coerência na sua fala. É preciso ser assim: sim, sim, não, não. Os fariseus desconstruíam o espírito da lei e reconstruíam em um formato sistemático que não os acusasse, assim eles podiam mentir e jurar e não se sentirem culpados.


Possuímos um mecanismo de defesa que nos induz a mentir para sofrermos menos, ou evitar problemas. E isto nos induz a mentir. Faz parte da nossa psique. Por outro lado existe a cobrança por sermos crentes e sabermos que não devemos mentir, isto nos leva a um paradoxo. Satisfazemos o nosso eu e nos sentimos melhor ou agradamos ao Senhor? Este paradoxo na verdade não existe, é uma mentira de satanás. O ditado que diz “a mentira tem pernas curtas” é bem verdadeiro. O que precisamos é levar uma vida de integra de verdade. Apenas tenha o cuidado de como se fala a verdade, por que há diversas maneiras de se falar a verdade sem ser grosseiro ou indelicado; há também tempo para tudo, inclusive para se falar a verdade, portanto, seja sábio. Outra coisa, eu não gostaria que você mentisse, mas se em algum tempo você precisar mentir, tenha a decência de assumir que mentiu, não dissimule. Vá a presença de Jesus e diga para ele o por que isto aconteceu e peça a ele para que você tenha condições de não mais ter que fazer isto. Viva uma viva de verdade, tenha palavra.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

A visão de Jesus sobre o divórcio

Mt. 5.31-32
Uma das maiores dificuldades em entender o que a Bíblia diz sobre o divórcio não está propriamente na questão da interpretação bíblica, mas na nossa raiz católica que acredita que matrimônio é sacramento e por isto não se desfaz. Viemos de um berço católico e ainda carregamos muito da sua doutrina. A nossa formação religiosa ainda tem muitos fragmentos católicos. Isto é tão forte que em algumas igrejas batistas fundamentalistas da Bahia uma pessoa divorciada que se casou novamente não pode ser admitida como membro. Quando estive pastoreando naquela região recebemos um casal, o homem era divorciado e a mulher viúva, eles relataram que haviam sido rejeitados como membros de uma igreja batista fundamentalista do sul da Bahia por que ela havia se casado com um homem divorciado. Estas pessoas acreditam que o casamento só se desfaz com a morte. Na doutrina católica, ainda que você se case novamente, somente o primeiro casamento é válido, mas qual é a visão de Jesus a respeito do divórcio?

A melhor maneira de abordarmos esse assunto é separá-lo em três divisões:

1.  O que dizia a lei sobre o divórcio - Deut. 24.1-4 esclarece a lei do divórcio no AT. Se houvesse
uma questão gravíssima o homem poderia divorciar-se, mas ao fazê-lo deveria dar a mulher uma carta de divórcio garantindo a ela o direito de casar-se novamente, caso desejasse. Não havia uma proibição para divorciar-se e nem para casar-se novamente. O problema da antiguidade é que os homens repudiavam as suas mulheres e com isto elas não podiam se casar, por que estando casada se elas casassem com outro estariam em adultério e seriam apedrejadas. A coisa ficou tão grave que em Malaquias 2.16 Deus diz que "odeia o repúdio", as versões mais antigas traduz este verso como "divórcio". Este problema de tradução gera uma grande confusão. Para esclarecer, a palavra hebraica shalach usada neste texto é normalmente traduzido como “repudiada”. A palavra hebraica para divórcio, que é keriythuwth, que significa literalmente “corte do vínculo matrimonial”. Devido a este problema de tradução acentuado pela doutrina católica do casamento como sacramento é que houve este entendimento de que o divórcio seria proibido.

Para o AT a questão do divórcio era algo comum, tanto que o profeta Jeremias assinala que o próprio Deus se divorcia de Israel Jr 3.6. A lei do divórcio possuía dois pontos bastante positivos: 1. Estabelecia um critério para que o divórcio não se tornasse algo banal, ocorrendo por qualquer coisa. Só era permitido se houve um defeito natural, moral ou físico na mulher. Isto eliminava razões frívolas ou injustas; 2. Dava as mulheres o direito de casar-se novamente. Antes desta lei o homem podia simplesmente abandonar a sua mulher, ou seja, repudia-la e com isto ela ficava presa ao casamento e não podia casar-se novamente, enquanto ele poderia contrair núpcias com outra mulher.

2. O que ensinavam os escribas e fariseus - Em Mt 19.7 alguns fariseus perguntam para Jesus: "por que Moises ordenou dar carta de divórcio e repudiar". Vejam são duas palavras distintas apostasion e apoluo. Elas não são sinônimas. A primeira significa rompimento de contrato e a segunda apenas uma separação. Os fariseus ensinavam que poderiam repudiar por qualquer motivo. Este fato gerava um grande desconforto e tristeza para as mulheres, que uma vez casada e repudiada não poderia casar novamente. 

A palavra grega para divórcio tem a mesma raiz da palavra apostasia. Apostatar portanto não é apenas um abandono. Um abandono seria um repúdio, apostatar é praticamente divorciar-se completamente de Deus, e de acordo com a lei do divórcio em Dt 24.1-4 aquele que se divorcia não pode retornar ao mesmo casamento.

3. O que Jesus ensinava - Em Mt 19.3-8 quando Jesus é questionado a respeito do divórcio ele serão os dois uma só carne". O casamento não era para se desfazer, uma vez unidos eram para permanecerem unidos como uma só pessoa e não mais duas. Jesus esclarece a eles que Moises só havia permitido, e não ordenado, devido a dureza do coração do homem, que antes não divorciava, mas repudiava a mulher a deixando escrava daquela lamentável situação. Mas Jesus esclarece que no princípio não era assim, esta dureza entrou no coração do homem com o pecado. Jesus responde usando o AT ele recita Gn 2.24 ".

Note que este bloco de texto faz parte do sermão do monte, e Jesus no verso 8 fala sobre os limpos de coração, nos verso 21 a 26 Jesus fala sobre o nosso interior, desta forma Jesus está mostrando que o divórcio é algo mal que entra no coração e que não deveria ser assim. Mas compreenda nem sempre quem pede o divórcio é que é o duro de coração, ocorrem casos em que a outra pessoa passa por uma pressão tão grande que em um ponto que não aguenta mais. Não estou falando aqui de casos corriqueiros onde a oração e a longanimidade resolvem. Se o cristão tem um coração limpo, puro diante de Deus, ele vai buscar solução para resolver suas crises e deixará o divórcio como última alternativa, e não como a primeira. O grande problema do divórcio entre cristãos neste tempo presente está ligado diretamente a uma religiosidade estereotipada, a falta de santidade e oração, a uma fé vazia e apenas exterior, a um edonismo religioso.

Casos como incompatibilidade de gênios é ridículo, não existe compatibilidade entre um homem e uma mulher, são completamente opostos, e aí é que está a graça. Frases do tipo "eu não te amo mais", "eu quero alguém que me faça feliz". As pessoas tem confundido amor com a paixão, e quando o fogo da paixão esfria, o que é comum em relacionamentos duradouros, o amor é que sustenta. Há casos do 'fogo' acender para outra pessoa, pode acontecer com qualquer um, os fracos põem lenha na fogueira e se deixam levar achando que é amor, mas é apenas atração sexual que uma hora também esfriará. Há pessoas que buscam a felicidade em outra pessoa, quando a felicidade precisa estar dentro de nós. Se você busca alguém para te fazer feliz, nunca vai encontrar, por que você é triste. O que precisamos buscar no casamento é alguém para compartilhar nossa vida, nos completar e ao mesmo tempo para ser completada. Isto é casamento.

Jesus arrebentou com o conceito farisaico quando disse que "Todo aquele que repudia a sua mulher e se casa com outra comete adultério; e aquele que se casa com a mulher repudiada comete adultério” (Mt 19.9). Jesus neste momento iguala os direitos de homens e mulheres afirmando que o homem também se tornaria adúltero se repudiasse a sua mulher e se casasse com outra. A coisa para os homens em geral foi tão ofensiva que no verso seguinte os próprios discípulos declaram, "se esta é a condição então é melhor nem se casar". Jesus deu a eles uma solução: vocês tem outra opção, podem se tornar eunucos. Um eunuco era um homem castrado que era usado para servir as mulheres do harém.

Vamos nos debruçar um pouco sobre o verso 19, durante muito tempo houve uma interpretação errada sobre este verso, devido ao ranço da doutrina católica do casamento como sacramento, lia-se aqui que o casamento só poderia ser desfeito se houvesse ocorrido uma porneia que pode ser qualquer ato de imoralidade sexual, entretanto sempre foi lido como adultério. Vamos ler atentamente o que diz o verso 19 "Eu, porém vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de 'porneia', e casar com outra comete adultério e quem casar com a repudiada comete adultério". Para Jesus, tanto homem quanto mulher não poderiam casar-se novamente, caso houvesse apenas o repúdio. Neste caso, Jesus disse, "aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio".

Conclusão

Embora eu entenda que não há uma proibição para o divórcio, por outro lado também não existe um estímulo para que o mesmo aconteça. Eu entendo o divórcio a partir do que Jesus declarou, que isto só existe por causa da "dureza no coração", e que no inicio não era assim por que Deus planejou que fossem uma só carne. Como filho de pais divorciados eu entendo que para a família, principalmente para os filhos o divórcio é lamentável, por que os filhos sofrem. Eu sei por que eu sofri muito. Eu tinha 15 anos quando minha mãe foi embora de casa para morar com outro homem, nem sequer se despediu. Mas eu não creio que a mulher deve ficar no casamento somente por causa de filhos, aliás esta é a razão por que muitos divórcios se dão entre pessoas com mais de vinte anos de casados, por que os filhos já cresceram e a mulher não tem mais que aturar estupros, maus tratos, humilhações, agressões físicas e verbais.

Para um judeu um divórcio é uma amputação espiritual que separa uma alma unida. É uma verdadeira tragédia, um fato lamentável, que só pode ser entendido quando o membro a ser amputado está gangrenado e por isto precisa ser extirpado.

Embora o divórcio seja uma opção, deveria ser sempre a última opção, quando não se tem mais nada o que fazer, quando todas as tentativas já foram feitas, quando todas as soluções não deram certo, quando há um perigo iminente ou quando já não existe o respeito pelo outro cônjuge. Fora disto o que eu vejo é uma banalização do matrimônio, algo que deveria ser considerado como eterno, ser tratado como descartável.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

A questão do adultério aos olhos de Jesus

Mateus 5.27-30
Chegamos em um ponto do sermão do monte onde Jesus está trazendo uma nova interpretação da lei e confrontando os costumes dos fariseus. No verso 20 Jesus declara que a justiça de seus seguidores teriam que exceder em muito a dos escribas e fariseus. Talvez os seus ouvintes tenham feito uma tremenda cara de assustados ao ouvir tal coisa. Então Jesus começa a ensinar como deveria ser o comportamento diário de cada um, e como deveria ser a posição diante dos assuntos mais delicados da lei.

Jesus começa com uma questão elementar que é o relacionamento individual irmão com irmão. Eles conviviam juntos, mas viviam se engalfinhando. Pelo fato de não matar literalmente o irmão, achavam que estava tudo certo, mas Jesus diz que não era bem assim: "Quem se irar contra o seu irmão deve ser julgado, quem chamar de idiota deve ser réu da mais alta corte judaica, e quem chamar de maluco, está correndo o risco de ir para o inferno" (Mt 5.22).

Depois Jesus passa para a parte da adoração, e diz que se você nutre pensamentos maus para com o teu irmão, para tudo o que está fazendo imediatamente, e vai primeiro e se acerta com o teu irmão e depois volte para adorar (23-24).

Jesus estava levando o povo refletir sobre a profundidade da lei, enquanto os escribas e fariseus estavam preocupados apenas com o exterior, apenas como se deve fazer para 'sair bem na foto'. Por esta razão acredito que os fariseus não devem ter gostado muito do que Jesus estava ensinando.

Jesus levanta o problema do sétimo mandamento: "Não adúlteras". Os fariseus haviam diminuído o significado do adultério ao ato físico. Não levavam em conta o décimo mandamento que diz "Não cobiçaras a mulher do próximo...". Jesus os leva a olharem mais profundamente para a questão "quem olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela". Imagino quantos homens começaram a olhar para baixo desconcertados. Talvez houvessem ali muitos que que nunca haviam tocado em outra mulher, mas já haviam se permitido imaginar-se com diversas, achando que assim mesmo estavam puros diante de Deus. Jesus havia dito pouco antes que "bem-aventurados são os limpos de coração". Nas bem aventuranças Jesus nem toca nesta questão de corpo, por que quem é limpo de coração domina a sua carne.

Se você não é um cristão a este momento deve estar achando bastante engraçado ou pensando, é impossível fazer isto. Porém, se você tem um desejo de alcançar algo, tem uma paixão ou um objetivo; então você entenderá que é possível. Se você nunca experimentou o que é ser movido por uma paixão, será um pouco mais difícil entender.

Conheci uma jovem que estava terminando o curso de direito e colocou no seu coração o desejo de ser uma promotora. Esta era sua paixão. A sua vida girava em torno de passar no concurso. Ela tinha uma disciplina muito rígida, estudava cerca de 10 horas por dia. Durante anos ela abriu mão de passeios, diversão, esportes, televisão, cinema, shopping.. Tudo em sua vida funcionava em favor de um só objetivo, tornar-se uma promotora. Quando nos encontramos com Jesus e ele se torna o foco de nossa vida, a nossa paixão, tudo o mais perde a sua importância. Tudo o que fazemos é pensando em Jesus.

Através desta reinterpretação da lei Jesus chama os seus ouvintes a uma introspecção, a olhar para dentro de si, a uma auto análise. Isto nos leva a refletir sobre a questão da hamartiologia, ou seja o estudo da doutrina do pecado. D. M. Lloyd-jones declara que a doutrina do pecado é vital para que se faça verdadeira a ideia da santidade. Um falso entendimento do pecado nos leva a um evangelismo superficial e perder a essência da santidade. A santidade é uma questão de interior e não do exterior. Se o interior for sujo, não adianta querer limpar o exterior. Era exatamente isto que os fariseus faziam, por esta razão Jesus os chama de sepulcros caiados.

Aquilo que chamamos comumente de pecado nada mais são do que sintomas de uma enfermidade
chamada pecado. Não devemos nos preocupar com os sintomas, por que eles se manifestam de muitas formas. Nossa preocupação precisa ser sobre a enfermidade, por que ela é quem mata e não os sintomas. Os sintomas só servem para nos alertar de que existe algo errado. Quando uma pessoa está com febre, tossindo ou mesmo sentido dores ou alergias, é necessário investigar o que está causando aqueles sintomas, diagnosticar a enfermidade, para que seja tratado.

Quais sintomas pecaminosos hoje se manifestam em sua vida? Pare um pouco, examine-se a si mesmo, e tente achar qual é a causa destes sintomas. Talvez seja apenas uma questão de limpeza do interior.

O fato de você nunca ter cometido adultério diante de Jesus não quer dizer que você tenha um coração limpo. Você pode ser uma pessoal moralmente correta. Isto é bom, quer dizer que tem o respeito da sociedade, nunca fez algo que envergonhasse a você e sua família. Mas e diante de Jesus, como está o seu coração? Como estão os seus pensamentos e sentimentos?

O pecado não é tanto que eu faça alguma coisa, mas aquilo que me impulsiona a praticá-lo. É aquilo que me desperta a vontade de cometê-lo. ".. do coração procede maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, etc.. (Mt 15.19). Esta é a razão pela qual você precisa limpar o seu coração. Um coração cheio de desejo impuro é um potencial adúltero, e a qualquer momento poderá praticar aquilo que já tem vontade de fazer. 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Não matarás, pela lente de uma nova hermenêutica

MT. 5.21-26
 D. M. Lloyd-Jones afirma que os fariseus e escribas sempre foram culpados de reduzir o sentido e até mesmo os requisitos básicos da lei, e quanto a isso, temos aqui uma perfeita ilustração. Jesus disse: "Ouviste o que foi dito aos antigos: Não matarás; e: quem matar estará sujeito a julgamento"(v. 21). "Não matarás" é um dos dez mandamentos, somente isto, mas os fariseus acrescentaram algo ao mandamento dizendo: "... quem matar estará sujeito a julgamento". Os fariseus juntara Gen 20.13 com Levítico 35.30-31 e assim reduziam o mandamento. O julgamento era o juízo de um tribunal local. Os fariseus tinham despido o mandamento do seu conteúdo primário, reduzindo-o a uma questão meramente de homicídio literal e não mais em uma questão de juízo divino. Reduziram o mandamento a uma questão legal e o tribunal local passou a ter mais importância do que o mandamento de Deus.

Jesus neste ponto do sermão do monte está confrontando a interpretação da lei dada pelos fariseus e está estabelecendo uma nova interpretação da lei. Os fariseus se orgulhavam de cumprir a lei, mas na verdade eles cumpriam a interpretação que faziam da lei. Jesus desmascarou  a falácia dos fariseus demonstrando que aquela maneira de interpretar a lei estava errada.

Neste texto podemos ver dois pontos importantes da lei abordado por Jesus:

1. Jesus fez algo inesperado, ele ampliou o sentido farisaico de interpretação que reduzia o mandamento, ele declarou que também a ira sem um real motivo, guardada no coração, contra um irmão, sem uma justa causa, deve ser levados ao tribunal. Não é preciso esperar alguém matar para ir para o tribunal, o simples fato de irar-se ou insultar ao irmão seria motivo de parar no tribunal. A ira guardada no coração é algo extremamente repreensível aos olhos de Deus.

Jesus vai mais além afirmando que jamais deveríamos utilizar expressões de desprezo para como o nosso irmão, "qualquer que dizer a seu irmão: Raca será réu do sinédrio. Raca é uma expressão utilizada para alguém indigno, a Bíblia na linguagem de hoje traduz como "você não vale nada".  Palavras desta magnitude destroem o nosso semelhante. Por que Jesus alargou tanto a interpretação deste texto? Por que pode-se destruir completamente a reputação de uma pessoa com maledicências. Para Jesus isto é o mesmo que assassinato e por esta razão ele diz que isto não deveria ser julgado por um tribunal comum, mas pelo Sinédrio, a mais alta corte dos judeus. E quem dissesse ao seu irmão tolo ou na versão de hoje, idiota, corre o risco de ir para o inferno.

2. A segunda declaração de Jesus, "se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e então voltando faze a sua oferta". Jesus declara que além de não podemos nos irar e ofender ao nosso próximo, não podemos também guardar pensamentos impuros contra eles; quando lembrarmos disto devemos nos reconciliar com nossos irmãos urgente.

Jesus nos versos 23 e 24 chama a atenção de seus ouvintes e diz que a coisa é bem mais profunda do que simplesmente a aparência exterior da adoração. Deus está preocupado com a adoração que vem do seu interior. Havia nos fariseus uma tentativa de fazer expiação por suas falhas. Eles achavam que desde que dizimassem e ofertassem estava tudo certo, eles já teriam pago por seus pecados. Entretanto Jesus afirma que não é bem assim, era necessário primeiramente concertar-se com o irmão antes de oferecer o sacrifício. Desta maneira Jesus demonstra que não há qualquer valor em um ato de adoração se eu estiver nutrindo algum pecado do qual eu tenha consciência. Se você não está dirigindo a palavra a algum irmão, ou se você tem pensamentos indignos contra alguém, então a palavra de Deus assegura que qualquer tentativa de adoração que você fizer não terá qualquer valor.
I Sm 15.22 diz "Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que obedeça à sua palavra? eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros". Nenhum ato de adoração encobrirá as nossas falhas aos olhos de Deus. Não podemos adular a Deus com presentes. É preciso de fato uma vida em santidade. Não adianta querer seguir a Deus apenas em aparência.

Jesus, portanto, nos leva a refletir na real interpretação da lei através de uma nova hermenêutica, uma interpretação que leva em consideração a alteridade, o colocar-se no lugar do outro. O princípio para cumprir esta lei seria o amor ao próximo e não mais o medo de ser punido por um sistema legal.