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Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

sábado, 23 de março de 2024

Onde está Abel, teu irmão?

 Gênesis 4.9

Disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão?

Qual foi o motivo do descontentamento de Caim em relação ao seu irmão? O que realmente o levou a matá-lo? A partir deste questionamento podemos pensar nos motivos pelos quais ocorrem tanta hostilidade entre os cristãos, repetindo o mesmo erro de Caim. Muitos imaginam que por não matar literalmente não estão fazendo a mesma coisa, mas, há um ledo equívoco neste pensamento.

No conhecido Sermão do Monte Jesus faz uma reinterpretação da Lei judaica. Os judeus utilizavam o método literal para interpretar os mandamentos, e por isto muitos tinham uma visão espiritual muito rasa do que Deus queria para eles. Por exemplo o sexto mandamento dizia literalmente “não matarás”. Jesus, porém, foi além da letra fria quando declarou:

“Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo”.

Desta forma ele deixa bem claro que a ira, o insulto ou o xingamento contra o seu irmão já deve ser considerado crime. O Código Penal Brasileiro, está em pleno acordo com o que Jesus disse, ele tipifica este fato da seguinte forma: “Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro”. Portanto, hoje no Brasil, dirigir palavras ou qualidades negativas ou xingar outra pessoa é crime passível de julgamento com “Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa”.

João é ainda mais severo em sua interpretação do que Jesus disse, ele afirma em I João 3.15: “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si”. Ele classifica como assassino aquele que destila ódio contra o seu irmão. Segundo o texto de João, o ódio contra o irmão é um impedimento para entrar na vida eterna.

Olhando para o texto de Gênesis percebemos que o assassinato de Abel foi apenas o ápice de todo um contexto. Caim havia desenvolvido um ódio muito grande contra o seu irmão Abel, portanto, ele já era um homicida em potencial. Este ódio o levou a querer silenciar o que lhe causava indignação. Ele não conseguia mais conviver pacificamente com o seu irmão; já não conseguia lidar com o contraditório; não conseguia sequer ouvi-lo.   

Pensando nisto, gostaria de pensar sobre quais algumas razões que levaram Caim a desenvolver todo aquele ódio que culminou em um assassinato?

1. Caim não era de fato convertido

Ambos, Caim e Abel andavam e falavam com Deus. Poderíamos dizer que eles participavam do mesmo culto, na mesma congregação. Desenvolviam juntos um trabalho religioso. Eles adoravam a Deus, oravam, cantavam, ouviam as mensagens, mas, havia uma diferença muito grande entre um e outro. Abel tinha um coração convertido ao Senhor. Ele de fato era um verdadeiro adorador. Caim era apenas um repetidor de ritos, alguém que se habituou com a religiosidade. Porém, o fato relevante que o texto denuncia é que suas práticas religiosas eram apenas exteriores. Ele era espiritualmente oco. Nota-se isto, a partir das suas decisões.

Essa superficialidade de Caim o levou a desenvolver uma inveja muito grande de seu irmão, pelo simples fato de não entender as coisas de Deus e não ter em si a essência divina naquilo que praticava. A prova disto é que o seu coração estava cheio de ira e rancor. Ele foi incapaz de tratar do assunto e resolver com diálogo e diplomacia, ele partiu para violência verbal e física.

2. Caim tinha uma divergência doutrinária

Algo surpreendente que esta história nos apresenta é que Caim não brigou por causa de mulher, bens materiais, dividas, ou qualquer outra coisa deste mundo. Ele se ofendeu com o seu irmão por causa de uma divergência doutrinária. A questão toda era devido a forma de ofertar. Ele se irou porque Deus reconheceu que a forma que ele estava fazendo não estava correta e sim a de seu irmão. A partir daí, ele se sentiu muito irritado com o contraditório.

A história nos mostra quantas celeumas houveram que proporcionaram rupturas enormes, perseguições, cárceres e até morte, devido divergências de ordem puramente doutrinária. A própria Reforma Protestante mostra claramente o que uma divergência doutrinária pode ocasionar, basta estudar sobre a quantidade de mortes ocorridas neste período.

Já participei de vários momentos de divergências doutrinárias na igreja. Todas ficaram para trás. Todas passaram. Coisas que eram importantíssimas na época, hoje não tem a menor importância. Mas, os cismas ocasionados pelas brigas, causaram feridas enormes impossíveis de serem curadas. Se na época Caim não tivesse matado Abel, mas, tivesse resolvido na diplomacia, poderiam ter vivido para ver as gerações futuras a eles, juntos. E, poderiam, ter percebido que aquela divergência poderia ter sido facilmente ajustada.

3. Caim agiu na covardia

Caim era inseguro, ele não estava convicto que a sua forma de ofertar estava correta. Mesmo porque, não estava. Ele possivelmente sabia disto. Ou estava se sentindo seguro diante de uma premissa falsa. A sua insegurança estava no fato de que ele queria ser aceito do seu jeito. Ele queria praticar o que queria e fazer da forma que queria, e ainda assim, queria que Deus aceitasse. Como não foi aceito, ele elaborou um plano maligno. Ele iria silenciar aquele que o fazia se sentir diminuído, menor, menos potente. Foi aí que ele decidiu covardemente matar a seu irmão. De certo ele pegou o seu irmão de surpresa e o atacou, por motivo torpe, banal, e sem dar a vítima a oportunidade de se defender. É o que muitos cristãos fazem, não com armas físicas, mas com palavras ditas nos corredores e nas sombras.

Conclusão

As ações de Caim certamente não o levaram ao céu. O lugar de justa recompensa pelo seu delito é a prisão eterna. Os crimes que cometemos nesta vida, podem nos levar, se julgados e condenados, para a cadeia. Mas, os crimes praticados contra Deus, nos levarão para a condenação eterna.

Onde está o seu irmão Abel? Esta pergunta ainda ecoa em todo o movimento religioso até o dia de hoje. Troque o nome de Abel por alguém que você tem ofendido e atentado covardemente contra ele. Pare para pensar no que você tem feito, se a tua ação está realmente agradando a Deus. Muitos talvez se enganem, como Saulo se enganava, perseguindo aos cristãos achando estar prestando um serviço para Deus. Mas, Saulo, uma hora, ouviu a voz do Senhor e se converteu. Ele se arrependeu do grande mal que estava praticando. E, após a sua conversão, ele deixou de perseguir Abel e passou a abraçá-lo.

Onde está o seu irmão Abel? Preste muita atenção no que você está fazendo contra o seu irmão em nome de Deus ou de alguma doutrina que você considera importante. Coloque diante de Deus se realmente é justa e correta a sua ofensa contra aquele que pensa diferente. Veja se você não está sendo levado pelo espírito de Caim, ou pelo espírito que levou Caim a assassinar o seu irmão.

Para Caim, já não resta mais esperança. Mas, para você pode ainda haver. Busque a sensatez, o equilíbrio, a mansidão. Busque uma solução sensata, sem ódio, para solucionar as questões de divergência.

Pr Sergio Rosa

domingo, 17 de março de 2024

Mulheres super presentes na fase embrionária da igreja

Romanos 16.1-16 

Nenhum outro capítulo da Bíblia apresenta tantas mulheres que se destacaram por seu mérito no serviço do Reino quanto em Romanos 16. Neste capítulo o apóstolo Paulo nos apresenta, através de sua saudação, uma lista de mulheres que contribuíram imensamente com o evangelho. Elas fazem parte da estruturação da igreja ainda em sua fase embrionária. Percebemos neste texto quantas mulheres fizeram parte da estruturação do cristianismo.

A Igreja que estava nascendo surge na contra mão de uma sociedade altamente machista, que desconsiderava a figura feminina como capacitada para participar das atividades de liderança tanto religiosa quanto política. Na religião judaica, que foi o útero da religião cristã, não havia muito espaço para atividades de mulheres como lideres. O sacerdócio em geral, ou seja, qualquer atividade de liderança religiosa judaica era realizada exclusivamente por homens. Mulheres não podiam, de forma alguma, ajudar no ofício levítico sacerdotal.

Jesus faz uma releitura da Lei

Jesus, em seus ensinos, faz uma releitura da lei e dos costumes judaicos, dando a eles uma nova interpretação, mais leve e menos legalista. Esta reinterpretação não caberia na religião antiga, uma vez que teria que ser descontruído diversos costumes fundamentais para dar início a um novo ensino. Jesus afirmou:

Então lhes contou esta parábola: "Ninguém tira remendo de roupa nova e o costura em roupa velha; se o fizer, estragará a roupa nova, além do que o remendo da nova não se ajustará à velha. E ninguém põe vinho novo em vasilhas de couro velhas; se o fizer, o vinho novo rebentará as vasilhas, se derramará, e as vasilhas se estragarão. Pelo contrário, vinho novo deve ser posto em vasilhas de couro novas” (Lucas 5:36-39).

Jesus, quando questionado a respeito do por que os seus discípulos não jejuavam, estendeu a resposta para todos os costumes judaicos. A sua resposta foi que os seus ensinos não caberiam na forma religiosa que eles desenvolveram. Ele estava oferecendo um vinho novo, que deveria ser colocado em odres novos. Um novo ensino, para um novo tempo, para novas pessoas. Provavelmente os seus ouvintes não compreenderam a resposta e muitos não compreendem a até os dias de hoje.

Os ensinos de Jesus incluía as mulheres

Jesus, diferentemente dos fariseus permitia que mulheres fossem suas seguidoras e que assentassem aos seus pés para aprenderem. Isto fica muito claro na leitura dos evangelhos: “Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra” (Lucas 10:39). Maria, irmã de Marta, uma das seguidoras de Jesus. Esta expressão ‘assentar-se aos pés’ era utilizada para quem estava na posição de aprendizado. Atos 22.3 diz que Paulo foi instruído aos pés de Gamaliel.

Quando chegamos na Epístola de Paulo a Romanos, no capítulo 16, podemos perceber a diversidade de mulheres que se tornaram líderes na nova religião, que aos poucos foi sendo conhecida como cristã. Era o nascimento da igreja, início de novos tempos, de uma nova doutrina, baseadas nos ensinamentos de Jesus. O mestre galileu apresentou uma nova perspectiva de adoração, bastante diferente da liturgia judaica, descentralizada do Templo de Jerusalém: "Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores" (João 4.23). Neste novo formato religioso as mulheres estavam incluídas, podendo inclusive liderar.

As mulheres destacadas por Paulo

A primeira destas mulheres apresentada por Paulo é Febe. Ela era diaconisa na igreja de Cencreia. O termo utilizado para definir “servindo” ou “serva”, é o mesmo que define o diácono. Paulo afirma que ela havia sido protetora, em outras versões diz que ela hospedara a muitos, ajudado a muitos, tem sido de grande ajuda a muitos, tem sido de grande auxílio. Febe era uma ajudadora no sentido latu sensu. Ela servia a toda a igreja (pessoas) da melhor forma que podia.

A segunda mulher mencionada é Priscila. Não se sabe porque razão, mas, o nome dela aparece antes do seu marido, Áquila, o que não era nada comum e muito menos usual. Em uma sociedade e religiosidade completamente liderada por homens. Este casal foi companheiro leal de Paulo, chegando a arriscarem a sua vida a favor do apóstolo. O que mostra a imensa participação de Priscila na obra missionária. Uma mulher capaz de correr risco de vida pelo apóstolo.

As mulheres que se seguem são: Maria, Trifena, Trifosa, Pérside, Júlia e a irmã de Nereu, que foram apresentadas como trabalhadoras; Junias, que era uma apóstola. Nesse caso específico, há uma discussão se o nome é masculino ou feminino. Se for feminino, como grande parte dos estudiosos afirmam, então havia pelo menos uma mulher no NT que se tornou apóstola. Este fato não seria tão relevante para a época, considerando que muitas mulheres já trabalhavam na liderança da novel religião. Se tornou relevante quando a igreja começou a ser estatizada e sugiram cargos oficiais, voltando assim ao antigo formato judaico do sacerdócio levítico.

Pr. Sergio Rosa

terça-feira, 31 de outubro de 2023

Deus é o nosso Castelo Forte

Salmos 46.1-11

A música Castelo Forte é de autoria do monge agostiniano Martinho Lutero. Ele a escreveu no período em que se refugiou no castelo de Wartburgo-Alemanha devido a perseguição sofrida pela igreja cristã oficial.

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero afixou na porta da Igreja de Wittemberg, Alemanha, 95 teses que criticavam a conduta da Igreja Católica. Os textos denunciavam a deturpação do evangelho, a venda de indulgências, a corrupção, o enriquecimento ilícito e a falta do celibato clerical. Além das denúncias, as teses chamavam o cristão ao arrependimento e à fé. Este evento, que hoje completa os seus 504 anos, é comemorado em todo o mundo cristão.

Embora a Igreja Batista não seja reformada, ou seja, não foi oriunda deste movimento, nós também comemoramos este evento, que ficou conhecido como o marco histórico do movimento evangélico.

A Reforma Protestante foi um cisma que dividiu o catolicismo ocidental em católicos e evangélicos. Não foi o primeiro cisma, no século XI houve a separação entre catolicismo ocidental e oriental, Igreja católica e ortodoxa.  A intensão de Lutero nunca foi dividir a igreja, mas, como um cristão piedoso, queria vê-la purificada dos seus erros. Durante muito tempo católicos e protestantes se consideravam inimigos. Creio que temos vencido esta etapa. Podemos discordar de algumas doutrinas, mas, não devemos ter inimizade com outra pessoa apenas porque ela escolheu um grupo religioso diferente do nosso.

De tudo o que aconteceu, o que ficou evidenciado na Reforma foi a convicção que Lutero tinha em Deus. A sua fé em Deus era inabalável. O rei Davi tinha esta mesma confiança, ele escreve sobre isto de diversas formas diferentes no livro dos salmos. Neste lindíssimo salmo, Davi afirma que Deus é “o nosso refúgio e fortaleza”, ou seja Deus é o nosso castelo forte!

Quais os benefícios de ter a Deus como o nosso castelo forte?

1. Não temeremos o mal (46.2)

Não temeremos..” diz o salmista de forma poética. Ainda que a situação nos seja completamente contrária, ainda que não vejamos saída, ainda que tudo esteja desmoronando, se temos convicção de nossa missão, não devemos temer. Se depositamos a nossa confiança em Deus, não nos deixaremos dominar pelo medo. Deus é o nosso socorro bem presente na hora da angústia, ele nos envia o livramento na hora certa,

Martinho Lutero, quando perseguido, contou com a proteção do príncipe Frederico, da Saxônia, que o abrigou no Castelo de Wartburgo. Muito bem protegido, Lutero pôde produzir muito material, que foi distribuído entre o povo. Contou também com a invenção da imprensa, por Johan Gutemberg, o que facilitou ainda mais a confecção dos folhetos com as suas mensagens.

Deus abriu aquela porta para que Lutero se refugiasse, se não, ele teria sido morto, como outros reformadores foram antes dele. Como exemplo podemos citar John Huss, morto aos 43 anos, cem anos da Reforma.

Não temer não significa ausência do medo, mas, não se render diante do medo. Quem permanece firme em sua missão, encontrará muitas dificuldades, porém, maior é Deus que nos dá a vitória sobre as lutas.

2. Jamais seremos abalados (46.5)

O fato de sermos cristãos, tementes a Deus, não nos isenta da perseguição e do enfrentamento do mal. Há muitas forças perversas neste mundo e elas se arvoram do poder do mundo e das armas do presente século. As forças do mal sempre tentam ocupar o espaço de poder, e lá chegando, elas promovem a corrupção e a perseguição aos seus contrários.

Martinho Lutero tinha convicção de seu chamado. A sua conversão se deu enquanto ele lia a Bíblia, ele se deparou com o livro de Romanos e entendeu que o homem é justificado exclusivamente mediante a sua fé em Deus. Romanos 1.17: “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”. A partir de sua conversão, ele começou a pregar e ensinar doutrinas que contrariavam a igreja oficial. Mas, ele não se abalou por isto, continuou a pregar incessantemente.

De forma semelhante, John Huss, apesar de perseguido, continuou firme em sua missão de pregar contra o que acreditava que eram ensinos contrários à vontade de Deus e à Bíblia. Devido às suas mensagens contrárias à venda de indulgências, ele foi identificado como herege, foi excomungado, preso e morto na fogueira. Apesar de tudo, ele se manteve firme, crendo em sua vocação.

3. Ele luta as nossas batalhas (46.9)

Quando nos colocamos à disposição de Deus, cremos que Ele luta as nossas batalhas. No domingo passado eu preguei sobre Eliseu, quando estava sendo perseguido pelo rei da Síria. Deus enviou uma legião de carros de fogo para defende-lo.

Davi tinha muita experiência com Deus neste sentido. Ele mesmo já havia experimentado o auxílio de Deus em suas batalhas. Quando ele enfrentou o gigante filisteu, Deus esteve com ele, dando uma força descomunal, a tal ponto, que ele conseguiu vencer Golias facilmente.

Nós não estamos sozinhos em nossas batalhas, Deus é conosco. E, nele podemos nos refugiar.

Conclusão

A Reforma Protestante é um marco da história dos evangélicos. Ela nos levou a retornarmos á Palavra de Deus, a fé e à graça. Acredito que precisamos viver esta reforma diariamente, para que a Reforma não tenha sido algo em vão.

Há uma celebre frase atribuída a Lutero, que demonstra a sua forte convicção chamada: “Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno”.

Lutero deixou claro para nós, através de seu testemunho que de fato Deus é o nosso Castelo Forte, assim como Davi deixa claro que Deus é o nosso refúgio e fortaleça.

Seja qual for a situação que você esteja enfrentando, creia em Deus, faça dele o seu castelo forte e o seu refúgio, o seu lugar seguro.

Pr. Sergio Rosa

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Quando somos desafiados a confiar

 Mateus 14.22-33

Em nossa caminhada com Deus sempre somos desafiados a confiar Nele. Confiar significa acreditar nas intenções do outro. Acreditar que o outro irá suprir aquilo que desejamos. Acreditar é crer que o outro é capaz. Eu diria que confiar é ter fé no outro. No que diz respeito a nossa fé, confiar, então, é crer plenamente em Jesus.

Este texto nos mostra que tudo é possível quando confiamos em Deus. Pedro foi desafiado naquela madrugada a confiar em Jesus. Era ainda madrugada, entre três e seis da manhã, quando tal fato aconteceu. Eles estavam no meio do mar da Galileia, também chamado de lago de Genesaré ou mar de Tiberíades, a cerca de cinco quilômetros da margem. Deveria ainda estar escuro, quase amanhecendo. Havia uma penumbra que os permitiam enxergar algo vindo em direção deles, andando sobre as águas. Entretanto, não conseguiram discernir exatamente o que era. Então deduziram, rapidamente, que só poderia ser um fantasma.

A palavra grega para fantasma é exatamente a mesma em português, que significa uma aparição de algo que não é deste plano terrestre, não é um ser vivo. É interessante observar que mesmo andando com Jesus já há tanto tempo, eles ainda tinham medo de fantasmas.

Quanto mais o fantasma se aproximava, mais eles sentiam medo. Entretanto, quando o fantasma se aproximou e falou com eles, reconheceram que era Jesus. - Ufa! Que alívio. - Pedro rapidamente, tomado pela emoção, pediu a Jesus para ir com ele e também andar sobre as águas. Neste momento Jesus o desafiou a ir, ele disse: Vem!

Muitas vezes somos tomados pela emoção do encontro com Jesus, e isto é maravilhoso. Porém, a nossa fé não pode ser baseada somente na emoção que sentimos nos cultos e em nossas devocionais, a nossa fé precisa ser madura. Talvez seja por isto que o Senhor nos prova a nossa fé. Nos momentos das provas somos desafiados a confiar que Jesus não nos deixará afundar.

Pedro confiou em Jesus e se lançou sobre as águas e caminhou. Porém, em determinado momento, ele desviou a sua atenção de Jesus e prestou mais atenção na força do vento.

Três fatos marcantes aconteceram que levaram Pedro desviar os olhos de Jesus:

1. Reparando na força do vento, teve medo

Em um primeiro momento Pedro teve uma tremenda convicção de que poderia andar sobre as águas. Ele era bastante impulsivo, talvez tenha feito sem pensar, mas, depois teve medo. O seu medo fez com que ele visse as ondas maiores do que Jesus. O seu medo ofuscou a sua visão e a sua fé.

Todos nós sentimos medo diante de situações difíceis. O medo nos balança e tenta nos desestabilizar. O medo não é um sentimento ruim, mas, precisa ser encarado apenas como um alerta, como aquela luz amarela ou vermelha que nos avisa do perigo. Ao receber o aviso, devemos apenas nos preparar e não nos desesperar.

O Pr Mauro Sanches fez um teste com os pastores da Meritiense. Uma das perguntas foi: De que você tem medo? Um dos pastores respondeu que era de ficar sem ministério. Como ele é pastor de tempo integral, ele tem medo de perder a sua fonte de sustento. Muitas pessoas tem o medo de ficar desempregado. Mas, o medo não pode te travar. Você precisa canalizar esta energia para o lugar certo. Quem sabe se preparar melhor, desenvolver mais a sua profissão, investir em conhecimento, buscar crescimento no que você faz, e, pedir ao Senhor para que não permita que você fique desempregado ou perca o ministério.

Pedro ao sentir medo, fez o que todos nós devemos fazer, ele clamou por Jesus e Jesus o socorreu. Aconteça o que acontecer, mantenha os seus olhos fixos no Senhor. Ele irá segurar em tuas mãos e te ajudará a vencer as suas dificuldades.

2. Reparando na força do vento, começou a afundar

Bastou Pedro começar prestar atenção nos problemas que o cercava para perder a sua fé começar a afundar nas águas.

Quando seguimos a nossa vida olhando diretamente para Jesus, ele nos sustenta diante de todos os dilemas da vida, de tal forma que podemos andar sobre as águas sem perceber os ventos contrários, porém, basta tirarmos os olhos de Jesus para que tudo em nosso entorno comece a afundar.

O Titanic foi um navio que afundou ao esbarrar em um Iceberg. Ele teve a sua lateral rasgada pelo impacto e começou a entrar água. Aquela que foi uma embarcação projetada para não afundar, afundou. Morreram 1.517 pessoas. A principal razão daquela embarcação ter afundado e ter morrido tanta gente foi a arrogância. Algumas pessoas afundam depois de estar no auge de suas carreiras, quando começam a confiar em si mesmas.

Quando Pedro começou a andar sobre as águas, primeiramente ele confiou somente no Senhor, mas, talvez um pouco de autossuficiência entrou no seu coração quando deu os primeiros passos. Ele deve ter olhado para ele mesmo e dito: Nossa! Estou andando sobre as águas. Eu sou mesmo poderoso! Neste momento ele perde Jesus de vista e começa a notar o tamanho das ondas.

Mas, Jesus, não permitiu que Pedro afundasse, ainda que Pedro tivesse perdido, momentaneamente a fé, Jesus estendeu a sua mão para ajudá-lo. Jesus sempre está pronto para nos socorrer quando começamos a afundar.

3. Reparando na força do vento, entrou em desespero

Acredito que o vento forte tenha formado grandes ondas, que batiam no rosto de Pedro, e talvez por um momento Pedro não conseguisse ver a face de Jesus. Isto acontece quando os problemas da vida nos cercam. Parece que não conseguimos ver a Jesus naquele momento. Quando isto acontece o desespero começa a tomar conta, porque nos sentimos frágeis.

Paul Tillich foi um teólogo Alemão que participou da segunda grande guerra como capelão, relata que certa noite, esgotado, andando no meio de cadáveres, muitos deles seus amigos pessoais, entrou em desespero. Ele era um cristão, porém, tinha uma visão distorcida de Deus. Ele confiava mais nos filósofos clássicos, do que na experiência com Deus. No meio da guerra, toda aquela certeza que tinha desapareceu. Ali, em meio aquela experiência terrível ele entrou em desespero. Viu toda a sua fé desaparecer. Foi em meio aquele terror que ele teve uma experiência autêntica com o verdadeiro Deus.

Diante do desespero Pedro começou a afundar. Mas, neste momento foi que ele teve a sua real experiência com Jesus. Ele começou a gritar por socorro. Ele gritou por Jesus: Salva-me, Senhor! A melhor coisa que aconteceu com Tillich e Pedro foi afundar. Só assim eles conheceram a fé verdadeira. Eles foram depurados de suas emoções e restou só a fé genuína.

Conclusão

As muitas tribulações da vida, às vezes, são tão fortes, que nos fazem temer, afundar e até mesmo entrar em desespero. Mas, neste momento sabemos que Jesus está perto, ainda que tenhamos dificuldades em vê-lo, ele está bem próximo e nos estende as mãos. Cabe a nós esticarmos a nossa mão, para que ele possa nos puxar e nos salvar.

Diante dos ventos fortes que nos atinge de forma intensa, devemos sempre confiar plenamente que Jesus irá nos salvar das tribulações. Ele estará sempre com as mãos erguidas em nossa direção para nos ajudar.

O tentador quer nos fazer desconfiar, quer nos roubar a atenção, ele lança suas setas para que olhemos para outro lado. Neste momento é preciso vencer a tentação e continuar crendo, apesar dos ventos contrários. É preciso manter os olhos fixos em Jesus e não se deixar levar pelas circunstâncias.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

A razão do meu viver

 Gálatas 2:20

Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pelo fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”.

Afirmamos que algo é a razão do nosso viver quando aquilo é muito importante para nós. Nós ouvimos muito esta frase entre os casais, onde um diz para o outro que ele ou ela é a razão do seu viver. Quando se diz isto, está implícito todo o carinho e amor que um nutre pelo outro. Esta frase denuncia que um não consegue viver sem o outro. É uma expressão forte que revela total entrega de uma pessoa para a outra.

Um marido que diz que a esposa é a razão de seu viver, é porque primeiro certamente ele a ama; segundo, porque ela deve cuidar dele de forma impecável; terceiro, porque eles devem ter uma bela história juntos. Em meu caso, tenho 35 anos de bom relacionamento com Rosana. Temos um filho de vinte e oito anos, que se casou recentemente. Sem ela eu ficaria completamente perdido, sem rumo, sem direção. Ela cuida de tudo em nossa casa, de forma que eu não sei onde tem nada. Cuida da nossa alimentação, de nossa casa, de nossa roupa, de toda a parte médica, de toda a nossa agenda. Além de tudo isto, ela me faz muito feliz, me realiza como amiga, parceira, esposa e amante. Não imagino a minha vida sem ela.

Quando afirmamos que Cristo é a razão do nosso viver, estamos afirmando basicamente a mesma coisa. É o mesmo sentimento que temos para a pessoa que mais amamos. Estamos dizendo que ele tem a primazia em nossa vida, tem o primeiro lugar, lugar de honra, tem um espaço grande e especial em nossas vidas e em nossos corações.

O apóstolo Paulo tinha este sentimento a respeito de Jesus. Ele era um homem experimentado, que amava a Jesus de todo o seu coração. E tudo o que ele fazia em sua vida, Jesus estava em primeiro plano. Nada na vida de Paulo fazia mais sentido sem a presença de Jesus.

A Igreja da Galácia estava se afastando do evangelho que Paulo pregou, estavam seguindo orientações diferentes daquela que Paulo apresentou pra eles, e assim, eles estavam se distanciando de Cristo. Jesus não estava mais sendo suficiente em suas vidas, eles queriam experimentar outras sensações. Imagina se um belo dia você diz para o seu cônjuge que ele não te é mais suficiente? Então, O apóstolo escreveu esta carta com a finalidade de renovar em seus corações a paixão por Jesus.

A partir desta introdução eu gostaria de destacar três verdades altamente relevantes que Paulo afirmou neste texto, que pode nos levar a ter Cristo como a razão de nosso viver.

1. Primeira verdade que Paulo afirmou: “Cristo vive em mim”

Já estou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas, Cristo vive em mim”.

Para entender este sentimento de Paulo, é preciso conhecer a sua história, resumida de forma direta e suscinta em Fl 3.5-8. Antes de sua conversão, Paulo tinha toda uma profunda convicção religiosa farisaica, ele vivia em função do que acreditava. Ele perseguia os cristãos, os maltratava e os prendia, sempre utilizando muita violência legal. Ele fazia isto acreditando ser uma obra para Deus, entendia que os cristãos era uma erva daninha que precisava ser arrancada a força, pisada e esmagada.

Paulo perseguiu os cristãos até que ele mesmo teve um encontro pessoal com Cristo. Este encontro foi tão avassalador que transformou imediatamente toda a sua estrutura. Ele percebeu imediatamente que tudo aquilo que ele pensava ou supunha ser verdade, era mentira. Ele entendeu que toda a sua vida havia sido construída sobre um falso fundamento.

Foi na estrada indo para Damasco que ele teve a sua experiência com Jesus. Apareceu para ele uma forte luz e uma voz poderosa falou com ele: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” – Ele perguntou para a voz – “Quem és Senhor” – A voz responde para ele – “Eu sou Jesus a quem tu persegues”. Naquele mesmo momento ele abriu o seu coração e começou a sentir o amor de Deus por ele. Ele compreendeu imediatamente o quanto equivocado estava. Descobriu imediatamente que era aquilo que durante toda a sua vida estava buscando, mas não sabia. Foi um amor que surgiu a primeira vista. A partir daquele momento Cristo passou a ser a razão do seu viver.

Em sua bibliografia C.S. Lewis conta que a sua conversão foi a caminho de um zoológico, em uma cidade chamada de Whipsnade. Estava indo com o seu irmão de moto, quando começou a refletir sobre a sua vida. E ali, no sidecar da moto de seu irmão que ele tomou, sozinho, a sua decisão por Jesus. Durante a viagem, uma lembrança dominou a sua mente, ele lembrou que quando foi para Oxford estudar, ele pegou o caminho errado, e ao invés de ir para a cidade, ele saiu dela. Quando ele olhou para traz, ele viu a cidade, só aí se tocou que estava indo na direção contrária. Lembrando deste evento ele fez uma correlação com a sua própria vida, e chegou a conclusão que espiritualmente ele também estava indo na direção errada. E decidiu simplesmente voltar-se para Deus. Ali, ao vento naquele veículo, ele abriu o seu coração, sentiu o amor de Deus e teve o seu encontro pessoal com Jesus.

A partir daquele momento ele podia afirmar que Cristo vivia nele. Ele baixou a guarda, abriu o seu coração e deixou Cristo entrar.

2. Segunda verdade que Paulo afirmou: “Ele me amou”

Creio que o apóstolo Paulo estava muito convicto deste amor, afinal, ele sabia quem ele havia sido e tudo o que tinha feito. Era impossível ser aceito por Jesus se este não o amasse muito. O apóstolo Paulo havia sido um perseguidor de Cristãos, alguém que Jesus deveria odiar, pelo fato de que ele perseguia, açoitava e prendia os seus seguidores. Mas, pelo contrário, Cristo o amou, e o seu amor foi tão grande que alcançou a Saulo naquela estrada indo para Damasco.

É preciso muito amor para se perdoar alguém que tenha cometido tantas falhas como Saulo cometeu. A prova do amor de Deus para com ele está justamente em sua transformação. Saulo, uma vez transformado através daquele encontro com Cristo, passou a ser chamado Paulo. A primeira coisa que mudou na vida dele foi a forma que as pessoas o chamavam. A segunda coisa que mudou foram as suas atitudes. Aquele que era um perseguidor de cristãos, se tornou o apóstolo mais proeminente de todo o Novo Testamento.

As escrituras nos afirmam que Deus nos ama. É o amor de Deus que faz com que ele não desista de nós, mesmo sendo quem somos, com todas as nossas falhas e imperfeições. Seja você quem você for, creia, Deus te ama. E, por te amar tanto é ele deseja que você caminhe com ele.

3. Terceira verdade que Paulo afirmou: “Se entregou por mim”

Quando Paulo se converteu já havia se passado cerca de cinco anos da morte de Jesus. O apóstolo não o conheceu pessoalmente, não caminhou com ele, a sua experiência se deu anos depois. Antes de converter-se ele não sabia ao certo o porquê de Jesus ter sido morto. Mas, quando ele tem a sua experiência pessoal, tudo toma um novo significado, ele toma noção da dimensão do sacrifício de Jesus. Ele entende que Jesus havia morrido em seu lugar.

Há algum tempo atrás ocorreu um episódio no qual uma pessoa deslizou de uma pedra, caiu no mar e estava se afogando. As ondas e a forte correnteza não estavam deixando a pessoa sair. O salva vidas entrou no mar, arriscando a sua própria vida, e conseguiu tirar a pessoa, mas, ele mesmo não conseguiu sair e estava se afogando. Um surfista vendo a aflição do salva vidas, entrou no mar e com a sua prancha conseguiu ajudá-lo a sair. Eu me emociono só de lembrar desta reportagem, e eu nem estava lá. A bravura daquele rapaz não tem preço. O que ficou ali para os que foram salvos foi o sentimento de gratidão. Nem o salva vidas e nem o surfista morreram, graças a Deus. Mas, eles se sacrificaram por um desconhecido.

Foi isto que Jesus fez por nós. Ele se sacrificou por toda a humanidade, e Paulo estava bem certo disto. O que devemos fazer é simplesmente aceitar este sacrifício de Jesus por nós.

Conclusão

Para o apóstolo Paulo, Cristo era a coisa mais importante de sua vida, Jesus era a razão do seu viver. Era o que o levava a acordar e levantar. Era a essência de tudo o que fazia e falava. Era o que dava forças para continuar vivendo a sua vida. Era o tema principal de tudo o que dizia. Era a sua força motriz.

Da mesma forma que Cristo foi a razão da existência de Paulo, Ele também espera ser a razão do seu viver. Ele deseja ser o seu tudo, o alfa e o ômega, o princípio e o fim de tudo em sua vida.

Para que Cristo seja a razão de sua vida é preciso que, assim como Paulo, você também faça uma escolha em sua vida. Escolha a Cristo. Convide-o para encher o seu coração, permita que ele dirija a sua vida. Escolha Jesus e tenha a maior experiência de sua vida.

Faça como Paulo, ouça a voz do Senhor que te chama neste momento para a sua presença. Aquele mesmo amor que Paulo sentiu, na estrada que ia para Damasco, Deus quer que você também sinta. Se renda a este tão grande amor.

Se você deseja sentir este grande amor de Deus por sua vida, fale com ele agora, em silêncio no seu pensamento ou em voz alta, não importa a forma. O que é importante é que você faça isto com todo o seu coração.

Se você quiser saber mais sobre o assunto, pode deixar o seu comentário e e-mail logo abaixo..

Pr. Sergio Rosa

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Vocação e crise profética

Vocação é o chamado de Deus para o  ministério. Cada um vocacionado(a) tem uma experiência diferente. Se pararmos para ouvir as muitas experiências dos pastores poderemos verificar duas coisas: A diversidade e a força irresistível do chamamento divino para o cumprimento de Sua missão.

Este texto foi produzido a partir do livro: Vocação e Espiritualidade, do Prof. Ágabo Borges de Sousa. Conheci o Ágabo durante o meu Mestrado, ele era o reitor do Seminário e professor. Esta reflexão me impactou muito e espero que fale também com você, querido leitor.

Por que Deus vocaciona alguém? Segundo as escrituras, Ele faz isto para que possa ter um porta voz para falar ao povo. Nesta tratativa Deus escolhe um homem para ser seu profeta, o seu escolhido para anunciar a sua mensagem. Este homem ou mulher, passará por uma experiência completamente singular que validará a sua vocação. Elas são singulares porque são irrepetíveis.

Vamos ver alguns chamamentos de personagens bíblicos para esclarecermos isto:

(Ex 3.2,10) Moisés vê uma sarça ardente e ouve a voz de Deus. Logo depois ele recebe sua missão. Ele teria que se rebelar contra aquele que o criara, faraó, e simplesmente afundar a economia Egípcia retirando toda a mão de obra escrava do Egito. Teria que virar-se contra a sua mãe egípcia e para todos os seus amigos e parentes egípcios adotivos. O que nos parece isto?  Não parece ingratidão?

(Sm 3.10,13) Samuel ouve literalmente a voz de Deus que o chama pelo nome, e recebe uma dura missão de Deus, ele precisará revelar a Eli, aquele que o criou, que ele e seus filhos seriam castigados por Deus por estarem fazendo coisas erradas. Ele chamaria atenção do pastor da igreja, daquele que praticamente o adotou e o criou. Era um verdadeiro suicídio ministerial, o seminarista exortando o pastor.

(Is 6.8,10) Isaias têm uma experiência nova. Após ter uma visão do trono de Deus, fica extasiado e se oferece sem saber para quê nem para onde. Então ele recebe uma missão e a informação que o resultado de sua empreita seria fracassada, ele iria falar para um povo que não iria ouvi-lo porque os seus ouvidos estariam endurecidos e os seus olhos fechados. Imagina você pregar para uma igreja sabendo que ninguém irá se converter.

(Jr 20.7,9,14) Jeremias já é bem diferente. Deus pensa em Jeremias antes de seu nascimento, não foi um oferecimento Pessoal. Jeremias sente medo pela grandeza da sua missão, para a qual se considera inapto: “Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança” (Jr 1.6). Deus o obriga a aceitar um destino que não o atrai e que ele não quer. Ele tenta não aceitar, mas, não consegue resistir a coação divina. Seu chamado era muito complexo: Jr 1.10 – “Te constituo sobre as nações e reinos para arrancar, derribar, destruir, arruinar, edificar e plantar”. Ele iria desconstruir tudo, para reconstruir novamente. Quem gostaria de experienciar um ministério deste?

(Ez 2.3,7) Ezequiel, diferente de Jeremias, aceita de bom grado o chamado. A mensagem de Ezequiel será dura, amarga, mas para ele, em sua boca será doce como o mel. A missão de Ezequiel não é apenas difícil, é absurda, condenada de antemão ao fracasso. A mensagem dele não surtiria nenhum efeito, o povo não se arrependeria e continuaria vivendo a vida da mesma forma.

(Am 7.14-15) Amós era fazendeiro, um pastor em tempo parcial, e deixou tudo para ir ao reino do norte entregar a mensagem de Deus a Jeroboão. Ele disse que o rei iria morrer e Israel seria destruída pelos inimigos. Ele também não foi ouvido, a sua mensagem rejeitada e foi convidado a se retirar da igreja. Não era aquela a mensagem que os membros daquela igreja queriam ouvir. Eles queriam ouvir que estava tudo bem, eles poderiam continuar fazendo tudo o que quisessem, e ainda assim Deus daria a vitória.

Dentre os profetas e profetisas do Antigo Testamento. Pelo menos três deles declararam desejar a própria morte: Elias, Jeremias e Jonas. Não suportaram o peso do ministério, amaldiçoaram o dia que nasceram e pediram para morrer. Nestes últimos anos tivemos a notícia de vários pastores que se suicidaram-se. Que o profeta pode entrar em crise devido à dureza da sua missão, fica claro no relato da fuga de Elias para o Monte Horebe, quando chega a pedir: “Basta, Senhor, tira-me a vida!” (I Rs 19.4b)

A vocação supõe, em certos casos, uma coação para o profeta. Toda a vida do profeta está sob coação de Deus, não lhe sobra sequer um reduto mínimo em que refugiar-se. O profeta Jonas expressou isto de forma esplendida. Nem no porão do navio nem no fundo do oceano consegue libertar-se da palavra de Deus.

Jeremias analisa a sua vocação e as consequências que esta lhe acarretou. Ele utiliza uma metáfora muito forte, se compara a um jovem inocente e ingênuo que foi enganado. Em vez de respeitar a sua ingenuidade, Deus aproveitou-se dele, enganando-o, iludindo-o. Jeremias em seguida só depara com os risos e as zombarias dos outros, carrega o peso da desonra (Jr 20.7).

Vocação e crise é algo que acontece na vida de todos aqueles que verdadeiramente foram chamados pelo Senhor. A vocação nos dá a certeza de que é Deus quem está operando, e a crise nos lembra que somos humanos que depende exclusivamente do poder de Deus para o exercício ministerial.

Quem recebe um chamado divino, experimenta na própria pele o peso desta vocação. Tem experiência com a crise, com a dor, com a dúvida, com as lágrimas, que contrastam com a alegria de fazer a cumprir a vontade de Deus, de estar no centro de sua vontade.

O pastor enfrenta uma tentação muito grande, um desejo ardente de ser um semideus. Após tantos estudos da bíblia, ainda está em moda o mito do pastor super-homem, tão bem abordado por Nietzshe. A história mostra que o povo sempre se vê tentado a seguir o pastor super-homem de Nietzshe, aquele homem forte e perfeito que consegue vencer todas as crises e permanecer de pé, sem demonstrar fraquezas. Neste conceito, Hitler seria um excelente pastor e Dietrich Bonhoeffer, assim como muitos outros profetas do passado seriam rejeitados hoje por demonstrarem que apesar de pastores ainda são humanos.

Quando me refiro a humanidade do homem, não estou falando a respeito dos que caíram em pecado, porque cabe ao homem de Deus tentar manter a sua integridade e santidade em tudo. Errou, tente se levantar, pagar pelo erro e continuar. Mas, humanidade a que eu me refiro diz respeito às suas crises, dores, dúvidas, frustrações e lágrimas, no exercício da função ministerial.

Pastor, você tem a sua vocação, o seu chamado de Deus, a sua missão, portanto, a crise é iminente. Lembre-se, que é em meio à esta crise que o Senhor aperfeiçoa os seus ministros para o exercício profético. Não queira ser um pastor super-homem, cuide de você e peça ajuda quando necessitar. Se possível, desenvolva boas amizades, isto faz muito bem.

Que o Senhor abençoe grandemente o seu ministério.

Pr. Sergio Rosa

sábado, 8 de julho de 2023

O homem bem-aventurado transforma solo árido em manancial

Salmo 84.5-6

Em algumas versões, no verso seis aparece a palavra Baca, que quer dizer literalmente pranto. Em algumas traduções aparece a expressão vale árido. O Vale de baca era uma região desértica, um lugar seco, sem vida. O texto fala sobre o homem bem-aventurado, que tendo passado por ali, faz dele um manancial. O que podemos aprender com isto é que, não importa o lugar onde você está, o que importa é a transformação que você poderá realizar ali. O lugar no qual você está hoje pode ser um deserto árido, mas veja o que diz o texto, o lugar poderá ser transformado em manancial, simplesmente pela sua presença ali.

Há momentos, que nos encontramos em determinados lugares, e nos perguntamos o que estamos fazendo ali. Seja em uma empresa, escola, igreja, até mesmo em uma família estranha. Parece que não estamos no lugar certo. Mas o salmista diz que o homem bem aventurado, será reconhecido pela sua capacidade de transformar um deserto em manancial. A presença deste homem ou desta mulher neste local irá fazer total diferença.

Não é fácil transformar uma terra árida em um lugar produtivo e muito mais difícil ainda é fazer surgir ali um manancial. Mas, nós cremos que com Deus podemos fazer proezas, pela fé, nós podemos fazer o impossível tornar-se possível. Então, se está enfrentando uma situação complicada, creia em Deus. Ainda que as evidências sejam as piores possíveis, não deixe de crer, não pare de acreditar no poder que vem do alto.

A terra árida mencionada pelo salmista é uma metáfora para as muitas dificuldades que enfrentamos.  São diversos enfrentamentos da vida, que nos fazem sentir como se estivéssemos atravessando um deserto seco.

O que podemos aprender quando passamos por uma terra árida?

1. Terra árida é o lugar ideal para manifestação do milagre

O povo hebreu tinha várias festas sagradas durante o ano. Estas festas eram realizadas em Jerusalém, cidade sagrada para o povo. Ali ficava o templo, o local de sacrifício e ofertas. O povo seguia várias vezes no ano em peregrinação para a cidade santa. O Vale de Baca era rota para a maioria dos viajantes. Havia longos períodos que o vale ficava completamente seco, sem vida.

O salmista afirma que o homem bem aventura, ao passar por ali, é capaz de transformar aquela triste realidade. Devido a presença deste homem naquele local, o Senhor providencia a chuva que abastece todo aquele lugar e produz vida. Lugar sem água, é lugar sem vida.

Uma outra forma de interpretar este texto é entender que o homem prepara um lugar para reter as águas das chuvas, e quando vem as chuvas, o lugar se enche das águas, se transformando em belas fontes.

Há situações que ficamos chateados por estar em um lugar seco e sem vida, e murmuramos. Pode ser que você esteja em um lugar assim e talvez ache que nem deveria estar ali. Se este é o teu caso, saiba que talvez a razão para você estar ali, é tão somente para que Deus te use para inundar aquela terra árida de chuva. Deus vai levar vida para um lugar morto, através da presença dele em sua vida. Você será usado para que o milagre aconteça. Haverá mudança, haverá vida, através de sua vida.

2. Terra árida é o lugar ideal para ter experiências com Deus

Eu imagino este homem bem-aventurado citado no texto ao chegar naquele lugar. Ele olha e vê as aparências, mas, ele enxerga além das evidências humanas, ele vê o poder de Deus. Ele pensa no que Deus poderá fazer naquele local. Então, ele ora e clama pela providência divina. Não é o homem quem faz chover, ele apenas é o agente da oração. Deus é quem derrama a chuva pelo seu poder, o homem só prepara o local para receber as águas das chuvas.

Tiago 5.17-18 diz: “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos”.

É através da oração que experimentamos as maiores experiências espirituais possíveis ao ser humano. A Bíblia está repleta de testemunhos de fé. Elias é um destes grandes exemplos. Através de sua oração, o céu reteve as chuvas, e por sua oração, o céu liberou as chuvas.

Se estivermos em um lugar de abundância não precisamos de milagre algum. Deus nos faz passar por terras áridas para que tenhamos experiências com ele. C.S.Lewis diz que Deus não deseja o sofrimento do homem, mas ele utiliza os momentos de infortúnios para que nos lembremos de buscá-lo.

Belmonte, na Bahia, foi o lugar em que mais nós orávamos. Tirávamos horas para orar. Lembro das muitas vigílias de orações que fazíamos na praia. A cidade era realmente difícil, o número de evangélicos não passava de 5%, e muitos não davam testemunho devido. Era um lugar árido, mas, foi o lugar que nós mais tivemos experiência com Deus.

Portanto, o melhor lugar para se ter experiências com Deus são os lugares áridos. Jesus quando foi tentado pelo diabo, foi conduzido pelo Espírito ao deserto. Foi ali que ele venceu o maligno. Que você tenha as suas maiores experiências com Deus, quando atravessar o deserto.

3. Terra árida é o lugar ideal para Deus te usar

Imagine se aquele bom homem passando por aquele vale árido se perguntasse: o que é que eu estou fazendo aqui? Eu penso em Deus lhe respondendo, eu te trouxe aqui porque desejo usar você para transformação deste lugar. Este lugar precisa de vida, é um lugar morto, eu confio em você para transformar este lugar.

Naquela pequena cidade do sul da Bahia, eu vi a igreja crescer, desenvolver-se e fazer coisas grandiosas. Tudo foi feito através do poder da oração. Não era apenas eu que orava, eu desafiei a igreja a orar. Orávamos muito, fizemos várias campanhas de jejum e oração de 21 e 40 dias. E, de fato vimos ali uma terra árida, lugar de pessoas incrédulas e perseguição religiosa, se tornar espiritualmente muito produtiva. Ali tivemos muitas experiências com Deus.

Para que você transforme o Vale de Baca em manancial é preciso que você esteja cheio do poder de Deus. É preciso buscar intimidade com Deus.

Conclusão

Acontece conosco, algumas vezes, estar em um lugar que não gostaríamos de estar. Mas, talvez haja uma razão para se estar ali. Na Bíblia vamos encontrar muitas histórias de homens que estavam em lugares que não gostariam de estar, mas Deus usou a eles poderosamente para transformar o lugar: José, no Egito; Daniel, na Babilônia; Paulo em Roma. Deus usou a estes homens poderosamente para transformar terra árida onde estavam em mananciais.

Deus quer usar você para transformar a sua família, sua rua, seu bairro, seu trabalho, seus colegas na escola. Porém, para que isto aconteça, você precisa estar inundado pela presença de Deus. O verso cinco diz que a força deste homem deve estar em Deus e seus caminhos precisam ser planos, sem altos e baixos. Precisa ser um homem centrado em Deus. Aquele que é inconstante, se afasta de Deus na primeira dificuldade.

Você gostaria de ser um crente bem-aventurado, do tipo que transforma desertos em mananciais? Para que isto aconteça, você precisa estar cheio da unção de Deus. É preciso ter intimidade com o Senhor. Busque ao Senhor de todo o seu coração, encha-se com a sua maravilhosa presença. Que Deus te use poderosamente para transformação de lugares áridos em mananciais.

Pr. Sergio Rosa