I Coríntios 12.12
A metáfora que Paulo utiliza para falar da igreja aqui é sensacional. É
tão simples e prática que qualquer criança pode entender facilmente. Ele
compara a igreja a um corpo humano e afirma que a igreja é o corpo de Cristo.
Isto não é algo literal, é alegórico, foi a forma que ele utilizou para ensinar
para a igreja como deveria ser o seu comportamento relacional. Esta forma de
ensino é surpreendente, pela sua profundeza e simplicidade. Qualquer pessoa
consegue aplicar esta analogia. Ao longo do meu ministério tenho percebido que
o problema não é entender, mas, sim praticar. A Igreja de Corinto entendia bem
este ensino, mas, era um corpo doente. Apesar de ser uma igreja rica e cheia de
dons, não tinha o principal, a saúde do corpo.
Steve Jobs, fundador da Apple, foi um empresário de sucesso, tornou-se
bilionário com o desenvolvimento de novas tecnologias de informática, sua
fortuna foi avaliada em mais de dois bilhões de dólares, o que dá mais de dez
bilhões de reais. Porém, o seu corpo era doente, ele tinha câncer do pâncreas,
e morreu precocemente aos 56 anos de idade.
Seguindo o princípio da unidade ensinado
por Paulo, entendemos que a igreja é um organismo vivo, uma entidade, um ser, cujo
a cabeça é Cristo. Já parou pra pensar nisto? O criador do universo é o cabeça
da organização que você participa.
Baseado nisto, eu gostaria de
esmiuçar um pouco mais este tema sobre a unidade do corpo.
1. A Igreja não é um corpo sem
cabeça.
Na minha adolescência eu vi um
filme, que foi baseado em um best seller escrito por Washington Irving, em
1820, chamado: A lenda do cavaleiro sem cabeça. Bom, isto é coisa só de filme,
um corpo sem cabeça não sobrevive.
Uma criança pode ser gestada sem
o cérebro. Um corpo assim é chamado de anencéfalo. O que acontece a um corpo
anencéfalo? Segundo pesquisas: “Aproximadamente 75% dos fetos anencéfalos
morrem dentro do útero. Dos 25% que chegam a nascer, todos têm sobrevida
vegetativa que chega a 24 horas na maioria dos casos”. São raros os que
sobrevivem. E, se sobreviver, vivem como se fosse um vegetal. Não falam, não
andam, não sentem nada. Isto porque lhes falta o principal, o cérebro.
Da mesma forma, a Igreja pode
sobreviver sem pé, sem mão, sem muitos dos órgãos do corpo, mas, não conseguirá
sobreviver sem a cabeça. Cristo é a cabeça da igreja. Uma igreja sem cristo é
uma igreja anencéfala. João diz: “...tens nome de que vives e estás morto”
(Apocalipse 3:1). Está viva no diagnóstico, mas, é como se estivesse morta.
Cristo, portanto, é a cabeça
espiritual, ou seja, aquele de quem vem todo o comando para o corpo. No
entanto, uma cabeça não vive sozinha, precisa de um corpo. A Igreja é o corpo
de Cristo. Enquanto organismo vivo necessita dos membros para sobreviver. Paulo
cita alguns membros do corpo no capítulo 12 de I Coríntios: Pés, mãos, ouvidos,
olho, e membros que ele chama de mais fracos e os que parecem menos dignos e
não decorosos e membros nobres.
Imagina a confusão que seria se
um órgão do seu corpo decidisse se rebelar contra as ordens da sua cabeça e
quisesse ser autônomo fazendo sua própria vontade? Você quer escovar os dentes,
mas, ele quer pentear o cabelo. Todas as duas coisas são importantes, porém,
uma delas é prioritária. Por algum motivo relevante o cérebro entendeu que
naquele momento era preciso fazer uma coisa e não outra. Talvez estivesse na
hora de dormir ou coisa que o valha. Seja qual for o motivo, não é a mão quem
decide o que irá fazer, mas o cérebro.
O que nos leva ao nosso segundo
ponto:
2. A Igreja não é um corpo com
movimentos involuntários
Quando eu estava na Bahia uma
amiga nossa, esposa de um pastor querido teve um tipo de curto circuito em seu
sistema nervoso. Ela perdeu o controle dos movimentos do seu corpo e começou a
movimentar-se aleatoriamente, sem que pudesse se controlar. Ela estava
consciente e vendo tudo, estava lúcida, consciente, porém, sem controle. Não
foi um caso de endemoninhamento, onde a pessoa não sabe o que está fazendo, foi
uma perda somente do controle de seus movimentos. Seus braços, pernas e cabeça
se movimentavam para todos os lados aleatoriamente. Ela tinha espasmos e
movimentos involuntários em todo o corpo.
A igreja que não está centrada em
Cristo será parecida com o que aconteceu a esta minha amiga, terá muitos
movimentos, fará muita coisa, mas, nenhuma terá sentido para o corpo, porque
serão movimentos descoordenados, sem direção ou propósito.
Isto nos leva a compreender o
ponto três:
3. A Igreja é um corpo com
muitos membros, mas só uma unidade
A pergunta que podemos fazer é
como podemos promover a unidade de um corpo com membros tão distintos entre si?
A diferença entre as funções dos mais variados órgãos do corpo é exatamente o
segredo do seu sucesso. Cada órgão do nosso corpo se complementa. Cada um tem a
sua razão de existir, e cada um funciona de acordo com a sua singularidade. Todos
são necessários. Precisamos que todos funcionem bem. Paulo diz no verso 26: “De
maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele..”

A unidade no corpo humano é
possível devido a um sistema nervoso central. Todos os membros do corpo são
interligados entre si e ligados ao cérebro através deste sistema. O apóstolo,
inspirado pelo Espírito, foi muito feliz nesta comparação. O corpo é a metáfora
perfeita para a Igreja. Você consegue imaginar um membro ou órgão que não
esteja ligado ao sistema nervoso central do seu corpo? Ele não te ajudará em
nada, será um peso. Tenho um amigo muito querido que sofreu um derrame que
paralisou todo o seu lado esquerdo. Ele luta a anos com fisioterapia para
tentar recuperar os movimentos de braços e pernas, que estão paralisados. Se
compararmos a uma igreja, estes membros são aqueles que querem estar no corpo,
porém, desligados do sistema nervoso central.
4. A igreja é um sistema
organizado
É através do sistema nervoso
central que o corpo se comunica com o cérebro e o cérebro se comunica com o
corpo. Na igreja poderíamos afirmar que este sistema é a liderança. A liderança
é formada por líderes de ministérios, diretoria estatutária. Cada um destes
líderes tem uma função específica no corpo. E cada membro tem o seu papel
designado a cumprir dentro das organizações. Para que todo o corpo funcione
bem, cada um membro precisa fazer a sua parte com excelência, em unidade.
No centro do sistema nervoso
central está a medula espinhal, que se encaixa perfeitamente a figura do
pastor. Nenhum destes membros é superior ou mais importante que o outro, devido
a sua posição. Não é uma hierarquia, é uma organização. Nela, o pastor é o
elemento principal, ele é a medula espinhal, mas isto não o faz ser melhor ou
mais importante que ninguém, mas, ele tem uma função específica. Liderar o
corpo. Ser o elo de ligação entre a cabeça e o corpo.
Igualmente os líderes. Não são
melhores do que os seus liderados, mas cada um recebe uma designação
específica. Quando um membro quer fazer aquilo que não é a sua função, gera
conflito e todo o corpo sofre. Cada pessoa que assume uma função é direcionada
por Deus para desenvolver um trabalho específico.
“Mas Deus dispôs os membros,
colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve”. (I Cor 12.18)
Eu entendo que o pastor é aquele
que faz a conexão entre a Igreja e Cristo. Não como um sacerdote do Antigo
Testamento, não como um ungidão ou um ser especial, que vive da exploração da
boa-fé dos fiéis. Mas, pelo simples fato de que a igreja é um corpo e a unidade
deste corpo depende de uma organização. E, uma organização não subsiste com
várias pessoas mandando. Em qualquer organização é salutar saber quem é o
líder, e permitir que o líder tome as decisões.
5. Inimigos do corpo
Podemos chamar de inimigos do
corpo as doenças que querem destruí-lo. Por exemplo o câncer que abateu o Steve
Jobs, a covid que matou milhões de pessoas, a dengue que nos deixa
completamente debilitados, dentre tantas outras doenças.
O corpo espiritual também fica
enfermo. Há pessoas que estão dentro da igreja que nunca pertenceram ao corpo,
e causa grandes desgastes, como podemos perceber na igreja de corinto.
Percebemos por suas atitudes. Há também aqueles que estão dentro da igreja,
mas, promove dissenção e conflitos. Com isto, a igreja sofre, e pode chegar a
óbito.
O remédio para a proteção do
corpo é o desenvolvimento de uma espiritualidade sadia baseada em Gálatas
5.22-23: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão, domínio próprio..”. Quando o
nosso corpo é atacado por alguma doença, imediatamente o nosso sistema de
defesa reage, são os anticorpos agindo para deter o avanço do mal. Os
anticorpos não usam as mesmas armas da doença, se não, mataria o corpo. As
nossas armas para combater o mal na igreja precisam ser espirituais, jamais
carnais, semelhantes ao que o mal utiliza.
Conclusão
Voltando ao funcionamento do
corpo, entendo que o pastor, abaixo de Cristo, é o principal responsável por
promover a unidade e cuidar deste corpo, para mantê-lo saudável. Ele é o
responsável por ouvir a voz de Deus e estabelecer as diretrizes deste corpo.
Ainda que ele ouça sua liderança, e deve mesmo ouvir, pois na “multidão de
conselhos há sabedoria”, a decisão para onde a igreja deve ir precisa vir dele.
Todas as entidades, seja civil,
militar, governamental ou religiosa necessitam da figura de um líder para
promoção da unidade. Cabe aos liderados, concordando ou não com a visão, não
apenas obedecer, mas, através de sua função, contribuir com excelência para que
a visão seja alcançada.
Para concluir, uma igreja que
consegue que o corpo funcione em unidade é uma igreja vencedora, é uma igreja
que não terá limites para tudo o que deseja fazer.