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Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Como alcançar paz interior

O maior bem que o ser humano pode encontrar é a paz interior. Pessoas em todo o planeta procuram por isto por diferentes formas. Uns procuram na riqueza, outros no prazer, outros no poder. Há inclusive aqueles que acreditam que sem a guerra não existe paz. Então procuram através do conflito e enfrentamento o estabelecimento da paz.
O sentimento de paz é aquele sentimento de tranquilidade e harmonia plena interior, onde a agonia e o tormento da alma não fazem sentido. A pessoa se sente tão bem que quase é capaz de flutuar enquanto caminha. Dorme leve e acorda esplendoroso, com um leva sorriso ao lado da boca mesmo em meio às crises. Diferente de outros sentimentos, ele é profundo, não desaparece com pequenos infortúnios.
Muitas pessoas buscam este sentimento, mas não se dão conta de que realmente é a paz que estão buscando, por esta razão erram ao procurar. Há um ditado popular atribuído a Sêneca que diz que "para quem não sabe para onde vai, nenhum vento lhe será favorável". Por não saber o que procuram, acabam procurando em lugares que somente irão produzir um certo estupor. Será somente alguns momentos de entorpecimento produzido pelos neurotransmissores dopamina e noradrenalina responsáveis pela sensação de bem estar, ou por substâncias químicas ingeridas.
Há um perigo muito grande em procurar a paz em lugares onde não se pode achar. A talentosa cantora note americana Whitney Houston, uma das mais belas vozes do mundo e de todos os tempos,
morreu em uma tentativa desesperada de encontrar a paz. Ela buscou nas bebidas e nas drogas. Os poucos momentos de paz que ela sentia eram nos momentos de suas apresentações. Ela amava o que fazia e se realizava nos palcos. Mas aos poucos aquela alegria inicial foi passando e ela precisou de substâncias entorpecentes que a fizessem sentir-se alegre e realizada novamente. Mas quanto mais drogas ela experimentava, mas vazia ficava. E isto aconteceu até levá-la a óbito.
O ser humano busca realização pessoal, riqueza e prazer. Mas quando alcança a tudo o que estava buscando ele vê que não é suficiente, tudo aquilo não o completa. Bill Gates o famoso bilionário norte americano conseguiu conquistar tudo o que um ser humano é capaz de sonhar para esta vida. Mas depois de conseguir tudo o que sempre quis, voltou-se para a filantropia. Doou grande parte de sua fortuna para caridade. Por que fez isto? por que uma pessoa faz tudo para conseguir ficar rico e depois doa parte de sua riqueza? por que ele é bonzinho. Pode ser, mas penso que é por que ele procura por algo que ainda não encontrou. Ele procura por paz. E a caridade é uma boa pista de onde podemos encontrá-la.
Monges em todo o mundo, religiosos de todos os credos fazem orações, rezas e praticam mantras em busca de uma maior espiritualidade. Outros praticam a caridade e esmolas. Mas muitos não conseguem chegar perto da paz procurada. Por que a paz não tem a ver com a religião que se segue ou o tipo de ritualismo utilizado ou a forma cultica expressada. A paz não pode ser alcançada através de manifestações ou ações do exterior. A paz é algo que só pode ser encontrada no mais profundo da alma.
A caridade nos dá uma pista de como alcançar a paz por que ela tem a ver com o amor incondicional. Aquele amor que nos faz enxergar o outro, que nos faz ver o outro e amá-lo, mesmo sem que ele nos ame primeiro ou sequer retribua. Este amor só é possível através da mais profunda revelação divina. Não há condições do ser humano conseguir esta virtude sozinho. Somente Deus pode conceber este amor. E é exatamente neste amor divino que reside a verdadeira paz.
Jesus disse: "Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou" (Jo 14.27)
Jesus é a expressão da verdadeira paz. Podemos experimentar paz momentâneas de outras formas. Mas, a verdadeira e eterna paz, somente através dele. Outro tipos de paz pode se tornar um pesadelo quando acaba. Mas a paz real em Jesus não desaparece por que dura por toda a eternidade.
Jesus não é só um nome a ser repetido ou uma cruz para ser carregada, ele é o próprio Deus manifesto em carne. Ele é a expressão humana da glória de Deus. Embora não exista uma forma específica de encontrá-lo, há entretanto algumas direções que são antagônicas ao caminho. O caminho do ódio, da perversidade, da mentira e do egocentrismo por exemplo são lugares que levam o ser humano para longe de Deus.
Outra forma de se distanciar de Deus é o caminho da idolatria. Você gostaria de estar casado com alguém que te trai? não? nem Deus. Nosso relacionamento com Deus precisa ser único. Somente através de uma ligação verdadeira com Deus é possível experimentar esta paz. A idolatria é uma forma de dizer para o outro que eu não estou satisfeito com ele, ele não me satisfaz, ele não é suficiente. Por isto o principal mandamento bíblico é: "Não terás outros deuses diante de mim". Deus é único e precisa ser recebido como único.
O profeta Jeremias nos dá outra pista de como encontrar a paz que reside em Deus: "Vocês me buscarão e me encontrarão, quando me buscarem com todo o seu coração". (Jr 29.13).
Nem religião, nem qualquer outra coisa que fizermos é capaz de suprir esta paz que somente há no encontro com Deus. A religião pode até nos ajudar, se ela apontar para Deus. Mas a grande maioria das religiões só querem prender as pessoas em seus ritos e dogmas. A religião tem a chave para a paz, mas ela não pode transmitir a paz.
Somente quando o ser humano descobre verdadeiramente a Deus é que ele pode experimentar a verdadeira paz. Por que Deus é plenitude em amor e quando o experimentamos, nos enchemos de sua essência. Nossos atos de contemplação em oração nos levam ao mais profundo estado de gozo que um ser humano pode experienciar. Nesta experimentação somos agraciados com a sua gloriosa e perfeita paz.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Fundamentalismo x Liberalismo - Briga entre irmãos

"E disse: Um certo homem tinha dois filhos". (Lucas 15:11)
Gostaria de iniciar este texto com a afirmação de que não sou LIBERAL e muito menos FUNDAMENTALISTA. Penso que ambos estão completamente fora dos propósitos divinos. Como frequentemente sou abordado sobre o assunto, penso que deveria compartilhar um pouco de minha linha teológica utilizando um texto que gosto muito e que expõe de maneira clara o que Jesus pensava a respeito do assunto.
O texto de Lucas 15 a partir do verso 11, é conhecido como A Parábola do Filho Pródigo. Entretanto Jesus começa sua fala dizendo que haviam dois filhos, logo são duas estórias, dois posicionamentos e duas abordagens.  Se olharmos esta parábola apenas pela ótica do irmão mais novo acharemos que Jesus estava pregando apenas para os pecadores, mas se partirmos do princípio de que haviam dois irmãos na parábola, então veremos que Jesus também tinha a intenção de atingir ao grupo de escribas e fariseus que também estavam ouvindo sua mensagem. Isto nos coloca diante do antagonismo entre o irmão mais velho e o mais novo; entre o moralismo e a libertinagem; entre o fundamentalismo e o liberalismo.
Os versos 1 e 2 mostram claramente que haviam dois grupos para quem Jesus estava pregando. Os pecadores e os religiosos. "E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles". (Lucas 15:1-2).Os religiosos aparecem murmurando por que Jesus estava comendo com os publicanos e pecadores. Na visão deles, se Jesus era um rabino não deveria se misturar com aquele tipo de gente. Jesus então conta a parábola onde o irmão mais novo é apresentado como um libertino que gastou toda a fortuna do pai. Fica claro que o seu posicionamento estava errado. Mas ele se arrepende e volta para a casa do pai e o pai o aceita. O irmão mais velho é um filho dedicado à casa, mas ao ouvir que havia uma festa para seu irmão mais novo fica frustrado e não aceita de forma alguma a decisão do Pai. Jesus ensina com a parábola que tanto o posicionamento do irmão libertino quanto o do irmão moralista estão errados. O libertino precisava converter-se e deixar a libertinagem e o moralista deveria da mesma maneira converter-se e abandonar o legalismo moralista. O irmão mais velho deveria ter compaixão de seu irmão mais novo e recebê-lo juntamente com o seu pai. Escribas e fariseus  deveriam aceitar os publicanos e pecadores e ajudá-los a voltar para a casa do Pai. Mas eles os rejeitam e esta a acusação de Jesus para eles na parábola.
Fundamentalismo e liberalismo são dois posicionamentos antagônicos, porém oriundos da mesma raiz, o pensamento cristão. Dois filhos com pensamentos diferentes, mas gerados pelo mesmo pai, o cristianismo. Duas formas teológicas de abordagem do mesmo assunto, porém com posicionamentos distintos.
Tenho tentado me achar no meio destas duas abordagens antagônicas. Assistindo a um programa onde  Leonardo Boff estava sendo entrevistado, me veio um direcionamento. Foi perguntado a ele sobre política e ele fez uma leitura sensacional sobre o PT. Segundo ele, o PT dialogou muito bem com as categorias de base, conversou com os pobres. Fez uma boa política de base. Entretanto umas vinte ou trinta pessoas que ocupam altos cargos deveriam ser expulsas do partido por que seu procedimento não condiz com a ideologia partidária. Disse isto e complementou - não sou petista, não tenho partido político, sou um intelectual e penso que todo intelectual deve estar livre para poder se pronunciar sobre tudo.
A partir do pronunciamento de Boff me veio a pergunta: por que tenho que ser fundamentalista ou liberal? As pessoas ao nosso redor querem a todo custo nos rotular de alguma coisa: tradicional, pentecostal, fundamentalista, liberal, neo-liberal... Mas, como pensador de teologia preciso ser livre para ler, pesquisar e analisar todo material sério produzido. O interesse da pesquisa é buscar o conhecimento, tentando ao máximo se manter isento de uma posição partidária.
Claro que não se pode ficar em cima do muro a respeito de questões fundamentais, é preciso um posicionamento a respeito dos temas importantes da existência e da religião. Mas, quem disse que há de se concordar com tudo que há no sistema onde você encontrou uma das respostas para uma das suas questões. Por que preciso escolher um único sistema teológico e achar que ele está completamente correto? Ao se divinizar um sistema teológico corre-se o risco de idolatria ou fanatismo.
A parte que me toca do fundamentalismo e que não abro mão e que é a minha base, meu alicerce, meu fundamento, meu princípio inegociável é que a salvação vem exclusivamente por intermédio de Jesus, o filho de Deus, e que a Bíblia é Revelação de Deus para que o homem venha a conhecer esta tão grande salvação. A parte liberal que aceito é a vivência do Ágape, o olhar para o outro como pessoa e não como coisa, e o desapego supremo das estruturas religiosas como se elas fossem Deus. A liberdade de pesquisa e a crítica do pensamento teológico histórico também é uma grande contribuição liberal. 
Ed Rene Kivitz em seu sermão 'Qual é a vantagem', pregado ho Haggai 2014, pergunta (parafresando): "a qual tradição cristã você diz que segue, quando afirma que segue a sã doutrina? O apóstolo Paulo quando escreveu suas cartas desconhecia completamente toda e qualquer doutrina que foi formulada após ele". Creio que esta frase do Ed é para se pensar e refletir bastante. A bíblia é para mim a única regra de fé e prática ou são as doutrinas que foram formuladas a partir de uma interpretação? Haveria hoje um sistema teológico ou doutrinário, a prova de falhas, que seria a expressão fiel do que Jesus ensinou? Se concordarmos com isto, então estaremos repetindo a infalibilidade papal. 
Quando olho para o fundamentalismo teológico, vejo uma preocupação enorme em se manter a sã doutrina, a instituição e seus dogmas. Entretanto, a que custo? cria-se um dogma em determinado momento histórico, baseado nas crenças e verdades da cultura e época, e depois se diviniza este dogma e ele se torna imutável. Um complemento da Bíblia. Uma interpretação fiel ao texto sagrado. O problema é que com o tempo surgem novas descobertas, novas pesquisas, novas informações que o derrubam e ele se torna insustentável. Para que não haja discussões e fechar o assunto sobre ele é preciso colocá-lo como mistério indiscutível que deve ser somente aceito sem restrições. Portanto, um dogma.
Na parábola contada por Jesus percebe-se que era muito mais fácil o irmão mais novo ceder e ir até o irmão mais velho, do que o irmão mais velho aceitar qualquer coisa advinda do irmão mais novo. É muito mais fácil um liberal abrir para dialogar com um fundamentalista do que o inverso. Por que o segundo está fechado para qualquer possibilidade de diálogo. Óbvio que isto não faz do liberalismo a melhor forma de se fazer teologia, mas a abertura do diálogo mostra que talvez ele possa vir a converter-se, como acontece com o irmão mais novo. Por que a "fé vem pelo ouvir" (Rm 10.17). Portanto se os ouvidos estiverem fechados e a boca aberta, não se poderá ouvir nada. 
Como poderia os dois irmãos dialogar se ambos são completamente antagônicos entre sí? Será que são? Não é verdade. Tanto um quanto o outro queriam a casa do Pai. Então temos um ponto em comum. A forma que queriam é que era o problema. Um queria fazer da forma libertina, achando que poderia fazer de tudo e que tudo era permitido. A busca pelo prazer, o hedonismo, a completa ausência de senso de moral seria para ele algo normal. Entretanto, sua estória mostra que este caminho leva a destruição pessoal e não à realização. O outro queria a casa do pai, mas se recusava a aceitar a vontade do pai em aceitar o seu irmão. Achou inadmissível que o pai fizesse uma festa para aquele filho ingrato. Não quis entrar na casa e participar da festa. Não se prontificou a ajudar e aceitar ao seu irmão. Mas o fato é que ambos eram filhos e tinham direito na herança. O pai não recusa nem o filho libertino nem o moralista, mas chama os dois a um reposicionamento.
Os escribas e fariseus tinham uma grande preocupação com a instituição religiosa. O Fundamentalismo erra pensando na proteção da instituição. No fundamentalismo a preocupação última é a instituição e seus dogmas. A preocupação com as pessoas vem em segundo ou terceiro plano, quando há. E quando isto acontece, a preocupação é sempre trazer a pessoa para dentro do seu círculo dogmático, a preocupação é sempre proselitista voltada para a instituição, nunca para o ser humano. A ideia é sempre de missão. De realizar uma tarefa. Salvar almas, sem preocupar-se com o ser humano. Quase não há a preocupação real com gente. A evidência do ágape é rara. A alteridade não se vê, a não ser entre os pares. Por isto suas atitudes são sempre radicais e cruéis com aquele a quem é considerado como oponente. Contra quem não está dentro do círculo dogmático. Por isto a ala radical do Islamismo mata. Obvio que a preocupação com a instituição deve haver sempre para que ela não morra ou seja desmontada, entretanto, deve ser moderada e há de se pesar sempre a que custo. 
Os pecadores e publicanos não se preocupavam em nada com a instituição. O pensamento liberal é que a igreja é retrograda e ultrapassada. Desta forma o liberalismo erra ao se desfazer da instituição, mas o faz tendo como preocupação última o ser humano. Isto ficou bem evidenciado na Teologia da Libertação que demonstrou uma forte preocupação com a assistência e aceitação do outro. Entretanto sua banalização da Bíblia acabou conduzindo a uma certa libertinagem existencial e relaxamento moral. No liberalismo a preocupação com o indivíduo precede à instituição. A instituição só existe para atender ao indivíduo.
Alguém pensou que se conseguíssemos colocar os dois irmãos para conversarem e tentar achar o melhor que os dois tem, talvez o posicionamento de um seria a chave para complementar o outro. Tentativas assim foram feitas, mas, daí nasceu o terceiro filho o neo-liberalismo. Um dos maiores pensadores nesta linha talvez tenha sido Karl Barth. Que na verdade criou outra coisa, e não apenas a conversa entre os dois filhos, é mais um irmão que foi rejeitado pelos outros dois anteriores a ele.
Pr. Sergio Rosa.
(TEXTO EM CONSTRUÇÃO - DEIXE SUA CONTRIBUIÇÃO E CRÍTICA)



sexta-feira, 20 de março de 2015

"The walking dead!" Uma abordagem sobre a heteronomia espiritual na atualidade

"Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados". (Colossenses 1:13-14).

Virou moda lançar filmes sobre os mortos vivos. Eu mesmo já me peguei assistindo a dois ou três desta categoria, se assim podemos chamar. Antes este tipo de filme era classificado como terror ou espanto, mas parece que está se tornado uma categoria própria de tão massificado que está no cinema. Tanto é verdade que já existem vários comerciais de TV se utilizando deste 'potencial'. Em um dos filmes que assisti o zumbi era um rapaz que se apaixona por uma moça viva. Eles se enamoram e no final a força do amor faz com que o rapaz volte novamente à vida. Foi a primeira vez que vi um filme de mortos vivos onde um zumbi volta a viver.
Volta e meia temos nossos momentos de 'good-time', onde vem às nossas mentes lembranças de bons dias do passado. Lembrei-me da minha infância. Vivíamos em seis, meus pais e quatro filhos. Sendo eu o único filho homem no meio de três meninas, duas irmãs mais velhas e uma mais nova. Era uma farra, brincávamos e brigávamos como acontece na maioria das famílias. Mas, minha mãe, 'sargentona ditadora', vinha e acabava com toda a festa, e não podíamos nem retrucar. Ás vezes, como era de costume, soltávamos o famoso: "Ah mãe!" era o suficiente para tomar uma chinelada daquelas e 'fechar o bico'.
A heteronomia não é algo fácil de definir, devido às inúmeras discussões filosóficas sobre o assunto. Quero ficar aqui com o pensamento de Kant e Paulo Freire. É estar sujeito a normação ou regulação do outro. É achar-se sujeito à leis, sem o direito de uma decisão autônoma. Segundo Freire crianças na idade estudantil estão sujeitas às regras da instituição sem o poder da contestação. Portanto, educadores de infantes devem estar bastante atentos à difícil passagem da  heteronomia para a autonomia.
A criação que recebi por parte dos meus pais foi assim, bastante heteronoma durante a infância e adolescência. Mas lembro que minha mãe foi aos poucos me estimulando a desenvolver a autonomia através de pequenas coisas do tipo, comprar minhas próprias roupas, buscar meus próprios cursos, escolher a carreira... Pena que ela morreu antes de concluir os ensinos, apesar de que sua pouca instrução a desprovia de conhecimento o suficiente para me mostrar o horizonte da autonomia em um nível mais elevado. De qualquer forma, vínhamos de uma ditadura militar onde a filosofia havia sido caçada e o pensar vigiado. Éramos ensinados a obedecer sem questionar, seja nas leis domésticas, escolares ou do estado.
Voltando aos filmes dos zumbis, uma característica geral é que todos os mortos vivos querem a qualquer custo comer  carne humana. Eles não fazem outra coisa a não ser correr atrás dos vivos para comê-los. Eles querem apenas saciar a sua fome. Outra característica é que após se transformarem em zumbis eles perdem sua capacidade cognitiva. Já não raciocinam, são apenas guiados por uma necessidade que podemos classificar como heterônoma, se pensarmos que já não existe por parte deles uma autonomia que lhes permitam decidir. Neste caso a força da necessidade seria o heteros. Aquele quem governa suas decisões.
Quando penso no cristianismo atual sou tentado fazer uma analogia entre o the walking dead e os cristãos pós-modernos. O apóstolo Paulo afirma "Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados". (Colossenses 1:13-14).
Cristo nos resgatou da escuridão e nos trouxe para a sua luz, antes portanto nós éramos escravos de satanás, vivendo debaixo da heteronomia deste mundo, sobre a regulação do príncipe das trevas. Viver o evangelho é estar em liberdade plena como seres autônomos, tendo liberdade dada por Cristo para tomada de decisões. Desta forma  a nossa autonomia se transforma em teonomia. Entretanto, se ainda vivemos como escravos do prazer, buscando incansavelmente saciar uma necessidade hedonista, cada vez mais latente em nossa sociedade, concluí-se que ou há algum problema com o evangelho ou com a nossa forma de viver o evangelho.
C.S. Lewis falando a respeito da sexualidade em seu livro Cristianismo Puro e Simples, compara o apetite sexual com pecado de glutonaria. O indivíduo já está saciado, já comeu tudo o que caberia em seu estômago, mas, ele quer a todo custo comer mais. Assim, ele faz coisas absurdas que uma pessoa comum não faria. Coisas que só de falar embrulha nosso estomago. Desta forma se comporta aquele que é conduzido tão somente por suas paixões. A busca pelo prazer sexual se torna heteronoma em sua vida. O indivíduo perde a razão e faz coisas absurdas em busca do prazer. Não há limite para saciar sua apetite sexual.
O sexo foi só um exemplo. Não estou simplificando o pecado pós-moderno e nem mesmo colocando o sexo como a primazia dos pecados, por que não é. O pior pecado deste século continua sendo o hedonismo. Há um egocentrismo narcisista exarcebado, que chega às raias de uma heteronomia, como acontece com os mortos vivos dos filmes. Sobretudo com os mais jovens que perdem o domínio de suas atitudes em função de uma necessidade de saciar sua compulsão de ser feliz a qualquer custo.
A religião cristã, aquela que deveria ensinar o indivíduo a viver a sua liberdade em Cristo, aquela que deveria conduzir portando-se como um aio, levando da heteronomia para uma teonomia espiritual, não o faz. O cristianismo atual escraviza outra vez o indivíduo privando-o de toda a capacidade crítica profética. Jesus disse: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós". (Mateus 23:15). Eu imagino Jesus levantando-se no meio de uma convenção de qualquer denominação Cristã e proferindo estas palavras. Com certeza ele seria expulso. 
Viver na teonomia é caminhar sobre os princípios de Deus na prática da fé e do amor (ágape). É andar em conformidade com a Presença Espiritual (Paul Tillich). Teonomia não pode ser confundida com viver sob o jugo de uma religião manipuladora ou de um moralismo escravizador.  Nem mesmo uma observação literal cega às leis vetero-testamentária sem uma reflexão plausível. É um viver sob a Palavra de Deus. É viver em intimidade com Deus. A religião só será verdadeiramente espiritual se tiver a capacidade de levar o indivíduo à libertação da heteronomia do pecado, ensinando-o a viver uma liberdade em Cristo.
Desta forma concluo que uma religiosidade onde as pessoas são 'alcançadas' com finalidade de serem controladas, usadas, exploradas e manipuladas para um fim que não seja tão somente o pleno conhecimento de Deus, fracassou em sua missão de ser igreja de Jesus. Sua consequência será gerar pessoas que se concentram cada vez mais em si mesmas e em como saciar e preencher sua necessidade existencial.

Pr. Sergio Rosa.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Ostracismo Batista - Paramos de avançar

"Portanto ide e fazei discípulo em todas as nações" (Mateus 28.19-20)
A Igreja Batista sempre foi conhecida pela seriedade com o estudo da Bíblia e por missões. No entanto, sem pegar em relatórios, apenas fazendo uma simples observação do panorama geral, percebe-se que paramos de avançar. Se fizermos um levantamento e compararmos como era o avanço da implantação de igrejas em décadas atrás e como é hoje perceberemos que a situação é grave.
Não sou velho, tenho apenas 47 anos, todos vividos dentro desta denominação. Lembro-me de ver diversas congregações crescendo até se transformarem em igrejas. Hoje, parece que há um ostracismo e/ou comodismo que está apagando o ardor por esta forma de realizar missões. Temos nos contentado em apenas contribuir financeiramente com a Junta de Missões, os que ainda o fazem. Entretanto, a Junta é uma só, enquanto igrejas temos milhares. Portanto, o trabalho de implantação de igrejas jamais pode ser relegado a uma única e pequena instituição, é um trabalho da igreja local. A não ser, em casos específicos devido a pormenores onde a presença da Junta se faz necessária. Por outro lado, seria bem interessante se a Junta pudesse coordenar este trabalho em parceria com as igrejas, provendo-as de informação, conhecimento técnico, resultados de pesquisas e outros. Sabemos que isto já acontece, embora não seja muito constante. Há um distanciamento enorme entre Igreja e Junta, que só diminui nas épocas das campanhas. Isto nas igrejas que ainda fazem contribuem com seriedade.
Por outro lado, os seminários não param de gerar bachareis em teologia e a Ordem (ainda que seja a Igreja que solicite) não para de consagrá-los. Resultado deste desencontro é que atualmente temos uma gama imensa de pastores sem igreja, sobretudo nos locais onde há seminários. Homens, e agora também mulheres, vocacionados, que atenderam ao chamado, se prepararam e não tem para onde ir prestar o serviço clerical. E, por outro lado, devido a falta de uma boa comunicação e um trabalho sério de recolocação e/ou investimento, faltam pastores em  algumas regiões.

O que me impressiona é que parece que não estamos prestando muita atenção nisto. As igrejas continuam fazendo apelos para despertar novos vocacionados, e as pessoas continuam atendendo ao chamado e indo para os seminários prepararem-se, mas quando estão prontos há uma enorme decepção com o que vem depois. Nada! Não há um plano denominacional para aproveitar a mão-de-obra técnica formada. Alguns são convidados por igrejas locais, que são poucas em relação aos candidatos, outros servem como ministros auxiliares. Na maioria das vezes estes auxiliares são mal remunerados e tem que dividir o seu tempo com um trabalho secular para complementar a renda e garantir o seu sustento. Os que sobram ficam batendo cabeça. Há quem diga que este é o processo de Deus para peneirar os seus escolhidos. Ouvimos muito coisas do tipo: "Se você foi chamado, o Senhor providenciará uma igreja para você". Interessante, por que eu tinha em conta de que o Senhor atribuiu esta tarefa aos homens. Caberia portanto à denominação se ater a este detalhe e gerenciar melhor isto. Desta forma talvez o Senhor tivesse uma forma menos cruel de 'escolha'.  
O problema que isto representa é grave e muito sério. Esta 'parada' na implantação de igrejas acabaram concentrando o alcance da igreja em uma determinada região ou cidade onde está alocada, enquanto lugares até mesmo próximos à igreja ficam sem nenhum trabalho batista. Tive conhecimento de algumas igrejas que investem altas somas em projetos missionários localizados a centenas de kilometros de distância, enquanto não investem um único centavo nas comunidades e pessoas próximas em estado de vulnerabilidade social.
Quando olho para alguns lugares em grande crescimento demográfico no RJ fico assustado. Há um número muito grande de prédios sendo erguidos rapida e frenéticamente. Estas são regiões que precisam ser olhadas com carinho por que daqui a pouco ficará muito difícil implantar igrejas ali por falta de espaço. É sabido que as igrejas existentes nestes locais crescem junto com o desenvolvimento habitacional. Por isto não há glória alguma para a liderança em afirmar que a igreja cresceu. É uma tendência natural. Difícil é lidar com a vaidade pessoal. O problema é que elas ficaram concentradas e centradas em si mesmas e de forma alguma irão conseguir atender à altíssima demanda espiritual emergente. Sem contar que há entre líderes eclesiásticos um grande temor pela 'concorrência' devido a falta de ética de alguns ministros. No entanto, se a coisa for estratégicamente pensada e bem feita, certamente este problema não acontecerá.
"Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra". (Atos 1:8)
Lembro do tempo que as igrejas de maior porte tinham várias congregações. Em Belmonte/Ba, onde pastoreei uma igreja de porte médio, tínhamos três congregações, uma delas emancipou-se e continuamos com duas. Hoje, a coisa mais difícil é encontrar igrejas que estão implantando congregações de forma pensada e planejada. Algumas existentes são mais frutos de cisão.
Estamos nos concentrando em Jerusalém e nos esquecendo da Judéia e Samaria. Dos confins do mundo só nos lembramos em época de campanha missionária onde doamos uma pequena quantia e só. Em um mundo onde as invenções malignas não param de crescer, parar no tempo é o mesmo que retroceder.
O ostracismo leva ao provicianismo, ao empobrecimento cultural, ainda que se fale de um lugar desenvolvido e resulta em uma atrofia espiritual. Igrejas que alcançaram um determinado número de membros correm o perígo de começar a sentir-se realizada e aí ocorre o começo da derrocada. Já vimos este filme diversas vezes.
"Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e
as portas do inferno não prevalecerão contra ela
". (Mateus 16:18)
Como não resistirão se a igreja parou de fazer frente? É preciso voltar a avançar, deixar o ostracismo e voltar a olhar para Judéia e Samaria.
Se nada for feito corremos o risco de estagnarmos de vez, satisfeitos com o que temos. A consequência será a consolidação do ostracismo batista redundando na construções de belas catedrais erguidas para saciar o nosso próprio ego. Uma Convenção cada vez mais distante da realidade da igreja local. Um esfriamento denominacional cada vez maior com missões através da igreja.

(Texto ainda em elaboração e correção, toda contribuição será bem recebida)


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O PREÇO DO LUXO

“Ouvi esta palavra, vós, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que quebrantais os necessitados, que dizeis a seus senhores: dai cá, e bebamos” (Am 4.1).


Certa vez vi um filme com o título de "diamante de sangue" (Blood Diamond) do diretor Edward Zwick. O filme conta a história de Danny Archer (Leonardo DiCaprio), um ex- mercenário e Solomon Vandy (Djimon Hounson), um pescador da etnia mende. A Força Revolucionária Unida está em busca do poder de Serra Leoa. Para financiar a guerra com o governo a FRU trafica diamantes garimpados pela população escravizada. Solomon vê sua aldeia ser destruída pelos revolucionários e o seu filho ser sequestrado para ser soldado da FRU. No meio do campo ele encontra um grande diamante rosa e se arrisca a escondê-lo. Interessante que há uma jornalista Maddy Bowen (Jennifer Connelly),  norte-americana que está investigando com a finalidade de denunciar o tráfico de diamantes que são contrabandeados para os países ocidentais. A finalidade é que as pessoas ricas saibam de onde vem os diamantes que estão usando e talvez assim tomem uma atitude de não mais comprá-los.
Este filme é baseado em fatos reais. A partir desta denúncia cinematográfica, comecei a pensar um pouco mais sobre o assunto, e me veio esta pergunta: qual o preço do luxo? qual o preço do excesso de conforto? o que está por detrás dos iates, lanchas, campos de golfe, mansões, joias, carros, templos suntuosos e tantas outras coisas mais?
Vivemos em um mundo onde a distribuição da riqueza é cruel. Países ricos ainda colonizam países pobres explorando suas riquezas. Esta riqueza fica concentrada nas mãos de poucos poderosos que não tem limites de contentamento. São cisternas rotas ou sem fundos.
Olhando com uma lupa para dentro deste sistema cruel enxergamos pessoas não tão ricas, quanto aos príncipes donos da terra, mas, que também vivem em seu mundo pessoal praticando a mesma barbárie. Utilizam o mesmo princípio. Não exploram colônias, por que não podem, mas exploram outras pessoas. Sub empregam, maltratam, humilham, roubam, sonegam direitos, corrompem, compram produtos produzidos por mão de obra escrava... Por que fazem isto? grande parte o fazem para que os seus preços fiquem mais competitivos no mercado e não percam para a concorrência. Seria incoerente supor que com esta cultura os que mais exploram se tornarão os mais ricos?
Estava conversando com a minha esposa, ela disse que iria comprar um determinado produto e que iria em tal estabelecimento por que lá era mais barato. Eu perguntei a ela, sabe por que lá é mais barato? Por que aquela empresa sonega impostos, paga os menores salários do mercado, nega os direitos básicos e compra produtos sub-faturados. Além de outras coisas mais. É por isto que ela consegue superar os seus concorrentes em preço. Por que não existe mágica para vencer a concorrência é preciso enxugar a máquina e comprar bem. E nesta concorrência quem não pratica estas coisas vai ficando pra trás. Ou fecha os olhos ou fecha as portas. Há não ser que já tenha um nome ou marca consolidada na praça. Lamentável.
Quando olho um carro de luxo na rua acho lindo, como qualquer admirador de carros. Mas, me pergunto, quantas pessoas deixaram de comer ou comem mal para que uma pessoa possa dirigir um carro de um milhão de dólares. Quantas pessoas precisam vestir-se de forma maltrapilha para que se possa vestir roupas de dez mil dólares.
Olhando para o texto de Amós, verificamos que a nação de Israel estava vivendo um período de grande prosperidade.  Neste período a nação gozava de uma relativa paz. O reino Norte achava-se em seu apogeu no que tange a expansão territorial. Um tempo de riqueza havia se instalado nas terras de Israel, o que, consequentemente trouxe certo conforto aos seus cidadãos. Foi um período conhecido como a “idade de ouro”. A sociedade esbanjava luxo e ostentava pompa. Os homens naquela época saturavam-se na busca do prazer pelo prazer. O hedonismo havia conquistado aquele povo. O profeta denuncia a vida fútil daquelas mulheres. A nação de Israel estava experimentando uma apostasia e elas permaneciam indiferentes, porque estavam ocupadas demais satisfazendo os seus apetites e caprichos. As mulheres vacas de Basã existem até hoje, juntamente com os bois. Não perderam suas características. Permanecem materialistas. Estão preocupadas exclusivamente com sua riqueza e o prazer que ela pode gerar.
Paro um pouco e olho para a igreja, que deveria ser um referencial para modificar esta situação e lutar contra a opressão, mas, parece que ela está andando no mesmo ritmo ou pior. Há construções faraônicas de prédios cristãos todo paramentado, com equipamentos multimilionários de última geração. Constrói-se templos em países de terceiro mundo com o mesmo padrão americano de sofisticação, mas utilizando-se a miséria do povo. Enquanto isto, a mesma não faz nada em favor dos pobres que ali frequentam. As que fazem algo e quando fazem é apenas uma fachada para 'massagear o coração e sair bem na foto'. As ações são apenas para marketing. O percentual das verbas e irrisório. O discurso é que é tudo para Deus. Mas, na realidade é apenas para saciar o ego dos dirigentes e elevar seu status sócio-religioso. Fecha-se os olhos para a pobreza, que afinal é culpa do governo, e acumula-se riqueza para o Senhor. Será mesmo? Estaria o Senhor concordando com a avareza que o apóstolo Paulo tão sabiamente e inspirado pelo Espírito Santo condenou?
Quero aqui salientar que não sou contra ao conforto ou a riqueza. Sou explicitamente contra a avareza e o amor ao dinheiro. Sou contra ao esquecimento do pobre em favor do luxo. Sou contra a opressão, colonização e exploração do próximo.
Sei que não vamos mudar o mundo com nossas observações e ponderações a respeito do assunto e não é esta a minha pretensão. A minha intenção é alcançar e chamar você para fazer diferença no ambiente em que se encontra.
Como e o que pode ser feito? Deixa eu começar dizendo o que não deve ser feito. Não é para fazer assistencialismo, a não ser em casos excepcionais e urgentes. Não é para sair distribuindo o seu dinheiro para os pobres. Isto seria um grande desperdício. Eles não saberiam usar e esbanjariam tudo. Basta ver os ganhadores da loteria. Faça Ação e Promoção Social. Pense em coisas que mudariam a vida de uma pessoa. Certa vez eu paguei um curso de cabeleireira para uma adolescente, por que vi nos olhos dela o entusiasmo  para fazer. Resultado, hoje ela tem uma profissão e trabalha ganhando seus recursos. Foi uma coisa tão pequena que mudou uma história. Desenvolvi alguns projetos para que outras pessoas pudessem fazer cursos gratuitos. Nem todos deram valor, mas muitos aproveitaram. Certa ocasião levei a nossa igreja a construir duas casas, mesmo estando no meio da obra do novo templo para duas famílias que haviam perdido seus pais. Aquele ato mudou a hisória de duas famílias. Estes são pequenos exemplos. Talvez você esteja em uma posição em que possa fazer muito mais ou talvez menos. Importa é que você faça alguma coisa.
Não feche os olhos para a dura realidade da vida. Talvez a sua riqueza esteja sendo patrocinada pela pobreza de muitos. Mude o seu mundo. Talvez assim aquele que iria nos assaltar e matar não o fará mais por que teve uma oportunidade para não entrar na criminalidade. Quem sabe aquele que iria abarrotar as cadeias (onde só são presos os pobres) tenham um futuro melhor.
Com a inteligência do sábio, a força do trabalho e o amor ao próximo podemos mudar o nosso mundo. Não mudaremos o mundo dos que não querem, apenas o nosso.

Pr. Sergio Rosa



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ENTRE PROFETAS E SACERDOTES DA ATUALIDADE

E Israel esteve por muitos dias sem o verdadeiro Deus, e sem sacerdote que o ensinasse, e sem lei. (2 Crônicas 15:3)
O peso que viu o profeta Habacuque. (Habacuque 1:1)

Quando parei para escrever este texto fiquei pensando, como escrever sobre algo tão profundo de maneira que todos possam entender? Difícil esta tarefa. Mas vamos tentar realizá-la de maneira simples, sem, no entanto, ser muito simplista.
Vamos pensar no sacerdote como aquela pessoa que tem por ofício dar continuidade ao sistema religioso. Se você frequenta uma igreja, já percebeu que existem pessoas que fazem a coisa acontecer e outras só participam das coisas que vão acontecendo. O sacerdote é aquele que faz com que o culto aconteça. A ele é conferido a autoridade de oficializar os cultos e zelar pela continuidade doutrinária e perpetuação dos ritos religiosos.
O fato de vivermos hoje em um sacerdócio universal, onde todos os remidos são sacerdotes, não faz de cada pessoa um sacerdote em potencial. Se não, teríamos que viver em uma anarquia, onde todos podem tudo e tem o papel de fazer o tudo acontecer: o culto, a perpetuação da religiosidade, o ensino religioso, os ritos, as práticas, o doutrinamento. Todos os remidos são sacerdotes na abertura que se tem de buscar a Deus sem a interferência de um mediador humano. Jesus é o único mediador entre o homem e Deus. Nas palavras de Paul Tillich dentro da Comunidade Espiritual todos são sacerdotes, mas, o mesmo não cabe dentro da Comunidade Eclesiástica.
Eu tive o privilégio de ter tido alguns pastores. Dentre eles, lembro de um que era extremamente ranzinza, ele vivia de cara fechada. Com o tempo de convivência percebemos que aquela cara era somente uma defesa para que as pessoas não se aproximassem demais. Lembro que ele tentava manter a disciplina e a ordem de maneira incisiva e a fisionomia sempre fechada testemunhava a favor de sua austeridade. Ele dizia: "quando o Pastor estiver de pé a congregação toda deve ficar de pé também". Lembro de sua firmeza doutrinária, defendendo a Carta Doutrinária Denominacional como sendo expressão fiel das verdades bíblicas.
A verdade é que precisamos de sacerdotes. Sem a existência do sacerdote, acontece o que aconteceu com Israel: "E Israel esteve por muitos dias sem o verdadeiro Deus". Qual a razão desta afirmação? por que eles estavam sem Deus? o texto responde, eles estavam "sem sacerdote que o ensinasse, e sem lei".
Este é um dado assustador, por que aqui percebe-se a relevância do sacerdócio. Sem sacerdotes que ensinem não há a perpetuação da religião, o povo cai em descrença, a presença de Deus desaparece em meio a incredulidade. Aqui não se discute o discipulado ou a qualidade do que se ensina ou como se ensina. Queremos nos ater aqui apenas na discussão do oficio sacerdotal.
A simples existência do sacerdote, embora garanta a continuidade da coisa, não é garantia de que tudo ande na linha e em perfeita harmonia com Deus. O teólogo Paul Tillich em seu livro de 'Teologia Sistemática' falando sobre 'a realidade da revelação' afirma que "uma administração mecânica de ritos religiosos pode excluir qualquer presença reveladora da realidade sagrada". Esta atitude sacerdotal pode levar a falência do sistema religioso. Ainda que em teoria continue funcionando, já não alcança mais seu objetivo.
Neste momento se faz necessário a interferência profética, a revelação divina e a orientação para o povo. No AT percebemos muita desta interferência no percurso da história. O Profeta Habacuque carrega a preocupação de um esfriamento religioso, o que para ele se transforma em um grande peso. A palavra então vem até ele. Ele sofre pelo povo, intercede pelo povo, e profetiza para o povo.
O profeta é aquele que tem uma experiência extática que muda a sua vida, a sua história, e a história de todos os que o cercam. A mensagem divina e divinamente recebida não se contém dentro do profeta. Ela exige que seja pronunciada, ainda que esta não seja a vontade de seu portador. Esta mensagem irá de encontro com as imperfeições de maneira contundente.
O profeta portanto é aquele que pronuncia o juízo divino e sua sentença, sua aliança ou destruição. O sacerdote irá acatar ou não a mensagem profética. Ele se encontra em uma situação dificílima por que não tem como provar que a mensagem profética é verdadeira ou falsa. Não há muitos parâmetros para julgá-la. Se por um lado ele aceitar a mensagem como divina, ele corre pelo menos dois grandes riscos: 1. Estar errado e a mensagem não ser verdadeira e levar a sua congregação à ruína. 2. Estar certo, e o povo rejeitá-lo por ir de encontro aos maus costumes que ficaram enraizados.
O oficio sacerdotal terá que viver com este dilema. Não há resposta segura para respondê-lo. Faz parte do desempenho de sua função vivenciar este problema. É viver pisando em ovos. O que de certa forma não é ruim, por que esta insegurança vai levá-lo a uma dependência do divino. A falsa segurança sacerdotal é demoníaca. Por demoníaca aqui entenda-se como processo destruidor do ser espiritual e o distanciamento da plenitude da espiritualidade autêntica. A confiança em si mesmo e no seu próprio eu leva o líder religioso à ruína espiritual.
Por outro lado, para o profeta não existe saída. Ele é o que é, um profeta. Ele sente antecipadamente a dor que o povo sentirá e vê aquilo que ningúem está vendo. Aquilo corrói a sua alma, queima em suas entranhas. Ele recebe a palavra e entrega para o povo. Por vezes será aceita e por vezes será rejeitada. Não é sua função convencer o povo de que suas palavras são verdadeiras e as vezes em sua ira humana nem quer que o povo realmente acredite. Não lhe cabe uma oratória convincente ou vibrante. A forma com que vai pronunciar o oráculo é sua última preocupação. Muito embora o profeta tema por sua vida, sua dignidade, seu status social, família, etc., ele não terá como rejeitar o anúncio sagrado.
Sabemos que o termo profeta está profundamente desgastado em nossos dias, e há uma profunda preocupação em se saber qual é o profeta verdadeiro e o falso. Este desgaste não é novo, desde a antiguidade sempre houve e sempre haverão profetas verdadeiros e falsos. E não há como saber qual é qual. Não existe uma fórmula humana para se saber. Esta dúvida sempre esteve presente no meio da religiosidade. Ainda que o que o profeta disse aconteceu, não é garantia de que seja verdadeiro, pode ter sido uma mera coincidência.
Isto nos tira um pouco a paz e a tranquilidade por que gostamos de certezas. Gostamos de respostas diretas. Gostamos de nos sentir seguros. Mas este não é o caminho profético. Na maioria das vezes o pronunciamento profético ira mexer com a 'zona de conforto'. Ele irá denunciar e trazer a tona a sujeira humana e o estado lamentável da alma, sobretudo entre os poderosos que estão assentados confortavelmente sobre a corrupção.
Há casos em que o oficio profético e sacerdotal será encontrado em uma mesma pessoa. Neste caso ele levará sobre si a responsabilidade sacerdotal e o peso profético. Ao mesmo tempo que precisará perpetuar a ordem religiosa ele será um agente contrário a ela, quando for o caso, não só de sua congregação, mas, de toda a existência religiosa. O que certamente o levará a um grande conflito pessoal.
Sei que nesta altura alguns já estão se perguntando se existem ainda hoje profetas, por que sacerdotes sabemos que existem. Lamento, mas, não posso responder à sua pergunta diretamente. Muitos tem se levantado como profeta em nossos dias e anunciado pretensos oráculos dizendo "assim diz o Senhor", quando o Senhor  não falou nada. O que é verificado da palavra profética é que ela é como uma bomba nuclear, quando proferida, nada pode pará-la, nem reis, nem sacerdotes e  nem mesmo o profeta.
Sobre a forma da revelação profética, que causa uma enorme dúvida, o que se pode afirmar é que o profeta não perde sua consciência no momento em que recebe a palavra, ainda que a mensagem seja recebida através de uma experiência extática. Quem faz o indivíduo perder sua razão são forças demoníacas e não o poder divino. O divino se apodera da pessoa e soma com ela. A revelação não se dá por uma perda de sentidos, embora o transe é uma particularidade profética. Não se fala aqui de um transe esotérico, de uma programação mental, mas de um estado onde a alma humana é ligada diretamente ao divino. E neste momento de contato o profeta entende e recebe o mistério do divino, que mesmo após revelado, ainda continua sendo misterioso.
 (texto ainda em elaboração, deixe sua participação para melhora desta construção)
Sergio Rosa




terça-feira, 28 de outubro de 2014

Dorcas, razões para ressuscitar

Atos 9.36-43
Muitas pessoas marcaram a história de maneira relevante, dentre as quais, algumas mulheres. Madre Tereza de Calcutá, uma mulher magra, de pequena estatura, de aparência frágil, mas, uma leoa, no que diz respeito a ajuda humanitária, escreveu o seu nome na história por ajudar aos pobres indianos. Dentre os batistas a missionária Analzira se destaca por sua determinação missionária e perseverança em Huambo, Angola.
Durante o período do Novo Testamento houveram muitas pessoas que se destacaram por sua envergadura humanitária e dentre elas Tabita se destaca de maneira contundente. O nome Tabita é a forma Aramaica do vocábulo grego Dorcas. Não se sabe qual a razão pela qual o escritor sacro apresenta o nome nos dois idiomas. 
Pouca coisa se sabe também sobre Jope, sabe-se no entanto que era uma cidade portuária distante cerca de 50KM de Jerusalém, hoje conhecida como Jafa.
Os poucos versículos que falam de Dorcas é de uma profundidade impressionante. Poucos são os personagens bíblicos que receberam tal apreciação e destaque por parte dos escritores sacros.
Quatro qualidades na vida desta grande mulher:
1. Tabita era uma discípula (v. 36) -  A palavra discípulo vem do hebraico talmid, que significa aprender. O vocábulo talmidin ou 'discípulos' veio a ser usado para indicar aqueles que seguiam algum rabino específico e a sua escola de pensamento e é originário da palavra hebraica talmude, que é o conjunto de escritos judaicos utilizados para aclarar as Escrituras. No livro de Atos a palavra discípulo ocorre mais de 250 vezes, nota-se portanto sua devida importância.
Ser escolhido como discípulo por um rabino não era uma coisa qualquer, era um privilégio de poucos. O fato de um rabino selecionar entre tantas pessoas e escolher um especificamente fazia do discípulo uma pessoa especial. Olhando por este lado, conseguimos entender melhor por que os discípulos de Jesus largam imediatamente o que estavam fazendo, redes, coletoria e todos os seus ofícios para se tornarem seus discípulos.
A ordem de Jesus em Mateus 28.19 é para fazer talmidins e não apenas seguidores de uma nova seita. Para tornar-se um discípulo era necessário renunciar a tudo, tornar-se um copo vazio que seria cheio de um novo conhecimento e não simplesmente aceitar uma nova religião.
Como Igreja necessitamos formar discípulos que irão alimentar a próxima geração, é a única chance de ver algo diferente acontecendo.  
2. Gozava de boa reputação (v. 36) - A versão Revista e Atualizada da Sociedade bíblica, 2ª edição diz que Tabita "era notável". Ser notável é ser acima da média. É fazer algo a mais do que todos estão fazendo. Ser notável implica em ser uma pessoa agradável de bom caráter. Tabita era tão notável que o apóstolo Pedro não poderia deixar de atender ao chamado para estar ali em seu sepultamento. O texto não diz o que motivou os outros discípulos chamarem a Pedro, se era pra trazer consolo ou se visavam o milagre da ressuscitação de Tabita. Fato é que Pedro ao defrontar-se com a situação orou, e sentiu-se impulsionado pelo Espírito a ordenar que ela voltasse a vida. Há poucos relatos de ressuscitação na bíblia, portanto, jugo que Tabita era tão notável que sua ótima reputação influenciou até o céu.
3. Praticava boas obras (v. 36) - Tabita agia humanitariamente utilizando-se de seus próprios recursos. Desta forma ela tornou-se notável pelas boas obras e esmolas que fazia. A etimologia da palavra esmola nos mostra que ela vem do grego ἐλεημοσύνη (Elemuosune), que tinha a ver com caridade, ou auxílio prestado em favor do desfavorecido. Este favor era revestido de carinho humanitário e desejo de apoio material. Hoje esta palavra ficou corroída e em geral quer dizer um simples dar o que sobeja ou dar um trocadinho a um pedinte na rua.
Em Belmonte, uma pequena cidade ao sul do litoral baiano, onde tive a honra de pastorear a Primeira Igreja Batista, haviam algumas pessoas muito caridosas, dentre eles eu poderia destacar a Cal, ela era uma jovem senhora muito caridosa, gostava muito de ajudar com seus bens. Ela era proprietária de uma loja de roupas e seu esposo era vereador e dono de uma das pousadas da cidade, ela era membro de nossa igreja.  Lembro que todas as festas que fazíamos em nosso projeto social, onde atendíamos cerca de cinquenta crianças, Cal fazia questão de doar todos os presentes e roupas. Ela era muito conhecida e respeitada na cidade por suas boas obras.
Como cristãos necessitamos ser despertados para a prática das boas obras, por que elas tocam os céus e podem mudar a história das pessoas.
4. Era muito querida (v. 39) - Diz o texto que a colocaram-na no cenáculo, ou sala superior que havia nas casas dos judeus para receber visitas. Muitas pessoas a quem ela havia ajudado estavam ali para velar o seu corpo e chorar a sua morte.
Nas cidades pequenas e interior ainda se realiza o velório nas casas e o cortejo mortuário sai pelas ruas em direção ao cemitério. É um evento bastante interessante, por onde o cortejo vai passando, baixa-se as portas do comercio em respeito. Algo que se pode notar é que se a pessoa morta é muito querida segue-se uma quantidade bem grande de pessoas, no entanto, se fosse alguém sem muita relevância não vai muita gente.
Se fosse em Belmonte Tabita encheria todas as ruas devido a sua grande reputação e o carinho que o texto trata a respeito dela.

Conclusão
O apóstolo Paulo nos diz em Efésios 2.8-9, "não vem pelas obras para que ninguém se glorie". Sabemos que o fazer obras não leva ninguém à salvação. Realmente não somos salvos pelas boas obras, mas creio que somos salvos para praticá-las. Atos 10 diz que Cornélio fazia boas obras, mas, ele precisou de ouvir a exposição do evangelho e ser batizado. Apesar de não ser salvo suas boas obras e ajuda ao próximo subiram ao céu, de tal forma que o apóstolo Pedro foi convocado diretamente por Deus para levar o evangelho a ele e sua família. Aprender a fazer o bem é um desafio do profeta Isaias, percebemos ao ler o Profeta que as deixar de fazer boas obras desagradam ao Senhor, logo, as boas obras o agradam.
Dorcas realizava grandes obras aos olhos de Deus e por isto ela foi notada pelo Senhor ao ponto de ser ressuscitada. Gostaria que você pensasse em algo: se você morresse hoje e tivéssemos entre nós pessoas com tal poder de orar e ordenar que um morto ressuscite, quais seriam as razões pelas quais você deveria ser ressuscitado? quais são as suas boas obras? o que o mundo contaria ao seu respeito depois de sua morte?
O livro de Apocalipse 21.12  diz: "e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras". Se você fosse chamado ainda hoje diante da presença do Senhor para prestação de contas, o que seria lido no livro da vida ao seu respeito?

Gostaria de convidá-lo a construir uma vida de boas obras e de ajuda ao próximo. Que o Senhor te direcione para este propósito. Amém!