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Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Vocação e crise profética

Vocação é o chamado de Deus para o  ministério. Cada um vocacionado(a) tem uma experiência diferente. Se pararmos para ouvir as muitas experiências dos pastores poderemos verificar duas coisas: A diversidade e a força irresistível do chamamento divino para o cumprimento de Sua missão.

Este texto foi produzido a partir do livro: Vocação e Espiritualidade, do Prof. Ágabo Borges de Sousa. Conheci o Ágabo durante o meu Mestrado, ele era o reitor do Seminário e professor. Esta reflexão me impactou muito e espero que fale também com você, querido leitor.

Por que Deus vocaciona alguém? Segundo as escrituras, Ele faz isto para que possa ter um porta voz para falar ao povo. Nesta tratativa Deus escolhe um homem para ser seu profeta, o seu escolhido para anunciar a sua mensagem. Este homem ou mulher, passará por uma experiência completamente singular que validará a sua vocação. Elas são singulares porque são irrepetíveis.

Vamos ver alguns chamamentos de personagens bíblicos para esclarecermos isto:

(Ex 3.2,10) Moisés vê uma sarça ardente e ouve a voz de Deus. Logo depois ele recebe sua missão. Ele teria que se rebelar contra aquele que o criara, faraó, e simplesmente afundar a economia Egípcia retirando toda a mão de obra escrava do Egito. Teria que virar-se contra a sua mãe egípcia e para todos os seus amigos e parentes egípcios adotivos. O que nos parece isto?  Não parece ingratidão?

(Sm 3.10,13) Samuel ouve literalmente a voz de Deus que o chama pelo nome, e recebe uma dura missão de Deus, ele precisará revelar a Eli, aquele que o criou, que ele e seus filhos seriam castigados por Deus por estarem fazendo coisas erradas. Ele chamaria atenção do pastor da igreja, daquele que praticamente o adotou e o criou. Era um verdadeiro suicídio ministerial, o seminarista exortando o pastor.

(Is 6.8,10) Isaias têm uma experiência nova. Após ter uma visão do trono de Deus, fica extasiado e se oferece sem saber para quê nem para onde. Então ele recebe uma missão e a informação que o resultado de sua empreita seria fracassada, ele iria falar para um povo que não iria ouvi-lo porque os seus ouvidos estariam endurecidos e os seus olhos fechados. Imagina você pregar para uma igreja sabendo que ninguém irá se converter.

(Jr 20.7,9,14) Jeremias já é bem diferente. Deus pensa em Jeremias antes de seu nascimento, não foi um oferecimento Pessoal. Jeremias sente medo pela grandeza da sua missão, para a qual se considera inapto: “Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança” (Jr 1.6). Deus o obriga a aceitar um destino que não o atrai e que ele não quer. Ele tenta não aceitar, mas, não consegue resistir a coação divina. Seu chamado era muito complexo: Jr 1.10 – “Te constituo sobre as nações e reinos para arrancar, derribar, destruir, arruinar, edificar e plantar”. Ele iria desconstruir tudo, para reconstruir novamente. Quem gostaria de experienciar um ministério deste?

(Ez 2.3,7) Ezequiel, diferente de Jeremias, aceita de bom grado o chamado. A mensagem de Ezequiel será dura, amarga, mas para ele, em sua boca será doce como o mel. A missão de Ezequiel não é apenas difícil, é absurda, condenada de antemão ao fracasso. A mensagem dele não surtiria nenhum efeito, o povo não se arrependeria e continuaria vivendo a vida da mesma forma.

(Am 7.14-15) Amós era fazendeiro, um pastor em tempo parcial, e deixou tudo para ir ao reino do norte entregar a mensagem de Deus a Jeroboão. Ele disse que o rei iria morrer e Israel seria destruída pelos inimigos. Ele também não foi ouvido, a sua mensagem rejeitada e foi convidado a se retirar da igreja. Não era aquela a mensagem que os membros daquela igreja queriam ouvir. Eles queriam ouvir que estava tudo bem, eles poderiam continuar fazendo tudo o que quisessem, e ainda assim Deus daria a vitória.

Dentre os profetas e profetisas do Antigo Testamento. Pelo menos três deles declararam desejar a própria morte: Elias, Jeremias e Jonas. Não suportaram o peso do ministério, amaldiçoaram o dia que nasceram e pediram para morrer. Nestes últimos anos tivemos a notícia de vários pastores que se suicidaram-se. Que o profeta pode entrar em crise devido à dureza da sua missão, fica claro no relato da fuga de Elias para o Monte Horebe, quando chega a pedir: “Basta, Senhor, tira-me a vida!” (I Rs 19.4b)

A vocação supõe, em certos casos, uma coação para o profeta. Toda a vida do profeta está sob coação de Deus, não lhe sobra sequer um reduto mínimo em que refugiar-se. O profeta Jonas expressou isto de forma esplendida. Nem no porão do navio nem no fundo do oceano consegue libertar-se da palavra de Deus.

Jeremias analisa a sua vocação e as consequências que esta lhe acarretou. Ele utiliza uma metáfora muito forte, se compara a um jovem inocente e ingênuo que foi enganado. Em vez de respeitar a sua ingenuidade, Deus aproveitou-se dele, enganando-o, iludindo-o. Jeremias em seguida só depara com os risos e as zombarias dos outros, carrega o peso da desonra (Jr 20.7).

Vocação e crise é algo que acontece na vida de todos aqueles que verdadeiramente foram chamados pelo Senhor. A vocação nos dá a certeza de que é Deus quem está operando, e a crise nos lembra que somos humanos que depende exclusivamente do poder de Deus para o exercício ministerial.

Quem recebe um chamado divino, experimenta na própria pele o peso desta vocação. Tem experiência com a crise, com a dor, com a dúvida, com as lágrimas, que contrastam com a alegria de fazer a cumprir a vontade de Deus, de estar no centro de sua vontade.

O pastor enfrenta uma tentação muito grande, um desejo ardente de ser um semideus. Após tantos estudos da bíblia, ainda está em moda o mito do pastor super-homem, tão bem abordado por Nietzshe. A história mostra que o povo sempre se vê tentado a seguir o pastor super-homem de Nietzshe, aquele homem forte e perfeito que consegue vencer todas as crises e permanecer de pé, sem demonstrar fraquezas. Neste conceito, Hitler seria um excelente pastor e Dietrich Bonhoeffer, assim como muitos outros profetas do passado seriam rejeitados hoje por demonstrarem que apesar de pastores ainda são humanos.

Quando me refiro a humanidade do homem, não estou falando a respeito dos que caíram em pecado, porque cabe ao homem de Deus tentar manter a sua integridade e santidade em tudo. Errou, tente se levantar, pagar pelo erro e continuar. Mas, humanidade a que eu me refiro diz respeito às suas crises, dores, dúvidas, frustrações e lágrimas, no exercício da função ministerial.

Pastor, você tem a sua vocação, o seu chamado de Deus, a sua missão, portanto, a crise é iminente. Lembre-se, que é em meio à esta crise que o Senhor aperfeiçoa os seus ministros para o exercício profético. Não queira ser um pastor super-homem, cuide de você e peça ajuda quando necessitar. Se possível, desenvolva boas amizades, isto faz muito bem.

Que o Senhor abençoe grandemente o seu ministério.

Pr. Sergio Rosa

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