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sábado, 31 de agosto de 2024

A Baixada Fluminense e o Descaso do Estado

"Disse-lhe Jesus: Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão".

Mateus 26:52

Quando chego na baixada, vindo de outros lugares, percebo o amontado de casas. Dificilmente há um terreno onde não tenha pelo menos cinco casas. A baixada se tornou um amontado de gente, que não para de crescer devido às pessoas pobres que buscam um local de moradia mais barata, muitas vindas de outros estados, e a alta fertilidade das adolescentes, que não para de gerar guris. É um lugar semiabandonado pelo Estado.

As perspectivas dos jovens são baixíssimas, a expectativa de um futuro, entre uma grande parte, quase não existe. São poucos os que pensam em buscar uma carreira, fazer um curso técnico ou uma faculdade. Muito disto devido a falta de estrutura familiar. Entretanto, há pessoas inteligentes, já saíram muitas para posições nobres, porém, não é realidade da maioria. Há muitos subempregos e serviços informais de baixíssima renda, o que só dá para não morrer de fome. A falta de perspectiva abre oportunidade para ocupações fáceis e ilícitos. Este fato torna a criminalidade crescente.

O número de mortes entre os nossos jovens, pretos e pardos em sua maioria, que são ceifados prematuramente, ou vão para a estatísticas prisionais, não para de crescer. Se prisão resolvesse algum problema, estávamos bem resolvidos. Nossa população carcerária no Brasil é de quase Hum milhão de presos. Gasta-se mais com presídios do que com prevenção. Sai bem mais barato o investimento em escolas e cursos técnicos e programas de estruturação familiar do que sustentar toda a estrutura de presídios.

Estes dados informais só nos levam a pensar em um completo descaso do Estado que abandonou a Baixada Fluminense à 'ninguendade' (expressão cunhada pelo professor Darcy Ribeiro). Este local tem virado terra de ninguém, como era o faroeste nos USA no século XIX. Onde os bandos chamados cawboys faziam o que queriam, com pouquíssima atuação do Estado, que só intervinha quando a coisa já estava interferindo nos assuntos dos grandes empresariados.

As incursões da polícia em lugares já dominados por milícias e tráfico só tem levado à mortes trágicas, tanto dos polícias, que também são de origem pobre, quanto dos integrantes de grupos criminosos, e por efeito colateral, os moradores. Vivemos uma guerra cível, considerando o número de mortes violentas. Enquanto o Estado, o Leviatã de Thomas Hobes, dorme um sono tranquilo, enquanto não é incomodado. Não se vê um projeto a curto, médio ou longo prazo para o desfazimento de um mal que iniciou logo após o fim da escravidão e que se arrasta até hoje.

O que eu acredito? É que se a solução não sair dos próprios pobres, não haverá solução para eles. Se pobres continuarem explorando, extorquindo, roubando, corrompendo, matando outros  pobres, negros e pardos principalmente, não haverá esperança. A violência só aumentará e o Leviatã, volta e meia, através dos seus caveirões somente exterminará o excesso.

Como promover uma mudança? Isto é individual e coletivo ao mesmo tempo. Individual, quando cada um buscar o seu próprio crescimento, desenvolvimento e voltar a acreditar em si mesmo. Coletivo, quando um vizinho parar de olhar o seu vizinho como inimigo e se unir em prol de melhorar o seu lugar. Comece com pequenas ações, busque a cada dia fazer algo de bom, pense no seu próximo como irmão, lute pelo outro.

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