Mt. 5.5 - "Bem
aventurados os mansos, por que eles herdarão a terra"
Na minha juventude tive um Pastor
chamado Alcides Motta, homem enérgico, totalmente seguro de suas atitudes, que
pastoreou por cerca de dez anos a Primeira Igreja Batista em Vilar dos Teles/SJM/RJ.
Certa vez, durante uma assembleia bastante tumultuada um dos diáconos irritou-se e esbravejando partiu pra cima do pastor. Da forma que ele estava permaneceu. Não
se moveu, não reagiu e também não se intimidou, apenas continuou conduzindo a
assembleia. Foi necessário que os demais diáconos segurassem aquele homem enfurecido tamanha era a sua ira.
Segundo Lloyd Jones há uma
sequência lógica nas bem-aventuranças e não apenas isto, há também uma
progressão da dificuldade em realizá-la. A cada uma delas que é pronunciada, a
próxima vai se tornando mais difícil. Jesus começa tratando com aquele que é
humilde de espírito, Jones defende a ideia de que esta é aquela pessoa quebrantada de si mesmo e totalmente
dependente de Deus; no verso seguinte Jesus fala sobre os que choram, segundo o mesmo autor estas são aquelas
pessoas que reconheceram sua condição de pecador e sua alma chora por seus
pecados e clama por perdão a Deus; No verso em destaque Jesus fala sobre a condição de
mansidão em um mundo de disputas e guerras.
Cada uma das bem-aventuranças revelam aspectos que são completamente contrárias a tudo quanto o homem natural pensa. O pensamento natural é que a conquista da terra será feita por alguém super-poderoso, líder de uma superpotência mundial. Porém neste texto Jesus vai na contra-mão do que pensamos, são os mansos que herdarão a terra. Quando Jesus pronunciou esta bem-aventurança para os judeus de sua época deve ter dado um tremendo choque, por que eles aguardavam um messias que viesse para libertá-los da opressão romana, um rei como Davi que viesse para liderá-los em guerra. Mas, Jesus diz para eles que são os mansos que herdarão a terra.
Quem é o manso? como ele se parece?
Abraão é um bom exemplo de mansidão. Quando estava com seu sobrinho Ló permitiu que ele escolhesse a melhor terra. Ló, portanto, foi tranquilo habitar em Canaã, nos carvalhais de Manre, junto a Hebrom, sem reclamar, sem murmurar, sem ficar indignado. Isto é mansidão.
Moisés foi descrito como o homem mais manso da face da terra. Ele não impunha sua própria vontade aos outros embora fosse o líder de milhares de pessoas. Ele havia desfrutado de todas as delícias do Egito, mas não se agarrou a fama e nem ao poder. Preferiu lutar por seu povo e rejeitou a enganosa riqueza do Egito. Ele humilhou-se diante da vontade de Deus para cumprir a determinação do Senhor em sua vida.
Vemos a mansidão em todos os atos de Jesus principalmente em sua reação contra os seus acusadores e perseguidores. Jesus não se levantou para defender-se. Conforme foi sugerido por dois dos seus mais achegados discípulos, Tiago e João, ele poderia ter pedido para cair fogo do céu e consumido aqueles homens, mas ele não o fez. Preferiu não retaliar os seus opositores e continuou em seu propósito.
Tibieza não é mansidão
Há pessoas que parecem mansas,
mas na verdade são indolentes, frouxas, complacentes. São inseguras e não
reagem por puro medo ou falta de motivação, isto é tibieza. Tibieza é o sujeito
que não tem ânimo pra nada, e é subserviente. Obedece todas as ordens sem
questionar, ainda que aquela ordem coopere contra seus princípios e valores. A
mansidão portanto nada tem a ver com a tibieza. O
homem precisa ter uma posição. Precisa raciocinar e lutar pelo que acredita.
A tibieza é uma falha de personalidade, é uma fraqueza, é a completa falta de expressão. Diferente disto a mansidão é a maior característica de uma personalidade forte e decidida.
A mansidão é compatível a grande força de caráter e autoridade. O homem manso defende a verdade a tal ponto que, se necessário, até morre por ela. Os mártires foram pessoas mansas, mas lutaram por seus ideais até a morte. Já a tibieza leva a complacência e a concordar com tudo, sem lutar por nada, sem um objetivo na vida, sem um ideal.
Mansidão e a longanimidade
Ser manso é usar de paciência e longanimidade, mesmo quando sofremos injustamente. O apóstolo Paulo declara: "A mim pertence a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor" (Rm 12.19). Não precisamos de vingança, nos basta confiar e entregar nossas causas a Deus. A mansidão faz com que a pessoa abaixe suas defesas naturais e as suas armas, por que reconhece e confia que o Senhor é o seu escudo e fortaleza. Desta maneira o manso não fica na defensiva, pronto para reagir a qualquer coisa que considera uma ameaça.
O manso não é uma pessoa boboca, dominada, sem opinião própria. Jesus era manso e não apresentava esta pobreza de caráter. Porém, quando perseguido não reagiu a altura para defender-se. Parece que alguns dos discípulos ainda não haviam desenvolvido esta característica espiritual: Lucas 9.54 "E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?". Este era ainda o entendimento dos discípulos, mesmo andando com Jesus, ouvindo a mensagem diretamente da fonte e vendo o seu comportamento, eles ainda não haviam entendido direito. Jesus os repreende dizendo: 55 "Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois".
Um pastor amigo em quem observo esta característica da mansidão e admiro muito é o Marcos Lopes, presidente da OPBB - Ordem dos Pastores Batista Brasileira, sessão Fluminense (Estado do Rio de Janeiro). Mesmo quando confrontado não perde a linha. Percebe-se nele um espírito manso. Isto é bem diferente daqueles que apenas tem aparência de manso e não reagem por falta de oportunidade ou por mera política.
Tempo de igreja não gera mansidão
Existem na Igreja pessoas que andam com Jesus há muito tempo e não conseguem entender isto, assim como Tiago e João. Talvez seja preciso levarem uma repreenda de Jesus a respeito de qual espírito são. Somente pode entender o que é ser manso aquele que é humilde de coração, por que sua dependência de Deus o quebranta e reconhece que não é nada, ainda que ocupe altos cargos.
Para concluir, penso que os mansos herdarão a terra devido a sua capacidade de julgar sem precisar se blindar, se proteger ou legislar em causa própria. Eles terão equilíbrio para promover a paz e uma administração em excelência em favor puramente do Reino e não em benefício próprio.
É para estes que desenvolveram esta característica espiritual que está prometido herdar a terra. Não são os arrogantes e pretensiosos que herdarão, estes caem com suas próprias pernas e não tem herança junto a Deus. A herança do manso é eterna a do arrogante é passageira.
Nosso desafio é nos perguntarmos ao final de cada reflexão do sermão do monte se os ensinos ali descritos é para o cristão de hoje ou não. Se você reconhece que é para a igreja de hoje e você ainda não tem esta característica, permita que o Espírito te quebrante, chore amargamente por sua arrogância e peça ao Espírito Santo que gere em você um espírito manso.