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Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

A Igreja e os seus paradoxos


A Igreja, como eu já afirmei diversas vezes, é um lugar maravilhoso. Não me refiro a um espaço físico, um templo, uma edificação, por mais confortável e bem estruturado que seja, mas, a um grupo de pessoas que se unem para juntos adorarem a Deus. É neste espaço que experimentamos uma das mais gratificantes experiências, a comunhão: “Onde estiver dois ou três reunidos em meu nome, ali estarei no meio deles” (Mateus 18.20). Dietrich Bonhoeffer falou com propriedade sobre a importância da vida em comunhão, que só é possível a partir de uma experiência genuína com Jesus. Ele afirmava que esta é uma experiência maravilhosa, um tipo de preliminar do céu. Mas, Bonhoeffer sentiu este paradoxo na pele, quando viu a igreja se unindo ao regime nazista.

Jesus é a base da Igreja, a pedra fundamental, todos nós sabemos disto, ainda que por teoria. Mas, esta afirmativa na prática nem sempre é verdadeira. Se considerarmos a Igreja Universal, ou seja, todo o corpo de Cristo, independente de denominações, tempo ou localidade, sim, temos convicção plena de que Cristo é o cabeça, a essência, a seiva, sem a qual ela não subsiste. Quando olhamos as particularidades da igreja, suas divisões, suas singularidades denominacionais, não é difícil perceberemos as suas incongruências e paradoxos. A impressão que dá é que as vezes a igreja cava fundo e arranca a pedra fundamental e a substitui por outra coisa. É neste momento que ela decai da fé genuína. Ainda que não desenvolva uma iconografia própria, ela já se tornou idólatra. Muitas vezes, idólatra de si mesma.

Quando examinamos a história da Igreja, percebemos que ela passou por muitas situações complexas. Logo nos primeiros séculos, durante o período da patrística, ela foi perseguida pelo império romano de forma cruenta. Cristãos que se recusavam a sacrificar aos deuses do império e adorar ao imperador como divindade eram servidos como espetáculos nas arenas. Mas, tão logo estabeleceu-se um tempo de paz, ela cresceu e se enraizou entre o próprio império. A partir de Constantino, ela começou a fazer parte do império, se tornando poderosíssima, chegando a um ponto de ser mais forte do que impérios. Este foi o pior momento que a igreja viveu, justamente na sua ascensão ao poder. É interessante este fato, porque queremos que a Igreja cresça e tome lugares relevantes na história, porém, quando isto aconteceu, foi uma verdadeira tragédia.

Esta é uma visão macro da igreja, se, entretanto, olharmos com uma lupa, veremos que no mesmo período que ela estava sendo perseguida, enfrentava lutas internas contra heresias, divisões e perseguições entre os próprios cristãos. Exemplo disto foram as inúmeras doutrinas estranhas que surgiram em sua origem. Como exemplo podemos citar o gnosticismo, grupo de pessoas que afirmavam ter um conhecimento especial. Eles desenvolveram a doutrina docetista, que afirmava que Jesus era um espírito, não tinha vinda em carne e osso. Esse foi um momento de grande divisão na igreja e também de batalhas internas contra heresias.

Quando olhamos para a igreja no presente e todos os seus paradoxos, somos tentados a pensar que um dia foi diferente, em algum tempo ou algum lugar, porém, nunca foi. Nem mesmo a igreja neotestamentária ficou livre dos enfrentamentos. O que me deixa impressionado é pensar em como a igreja sobreviveu ao longo dos séculos com todas as suas incongruências. Fico pasmo em saber que foi esta igreja cheia de defeitos e problemas, que conseguiu guardar incólume a mensagem de salvação até os tempos presentes.

Aqueles que querem achar a perfeição na igreja se iludem completamente. Nunca foi pretensão de Deus fazer uma igreja perfeita, se o fosse, não poderia nos utilizar para esta tarefa, por que somos criaturas horríveis, somos imperfeitos, somos pecadores. Um dos grandes paradoxos é entender que aquele que se justifica nesta imperfeição para fazer o mal, se constitui em um agente de satanás. E, aí nos deparamos com um grande problema, como podemos construir algo saudável quando nós mesmos somos doentes? Como sermos responsabilizados pelas falhas da igreja, quando não somos perfeitos? Talvez este seja o paradoxo principal.

Se pensarmos na igreja somente a partir dos indivíduos que a formam e a formatam, sem a presença do Espírito, teremos a construção de algo maligno; uma torre de babel; no mínimo, um império humano. Por isto, a igreja jamais pode separar-se de seu elemento fundamental, Jesus. É através de sua presença no meio da igreja que ela consegue existir e prevalecer em meio a tudo. É a presença do Espírito do Cristo no meio da igreja que a santifica e a faz cumprir a sua missão, apesar de toda a sua vacilação e tendência para o mal. Não é apenas o nome de Jesus na boca das pessoas, mas, a transformação genuína que ele provoca no coração de quem se permite, é que faz a diferença.

Como Deus não atua em templos feitos por mão humanas, ele se utiliza de pessoas que têm um coração aberto para ser utilizado por ele. Apesar de quê, ele utiliza tanto o mal quanto o bom, para cumprir os seus mistérios. Porém, aquele que se deixa usar por Deus experimenta a sua presença, e tem experiências profundas com o eterno. Enquanto o que se entrega a malícia e ao mal, pode até alcançar glórias e tesouros desta terra, mas, jamais experimentará a glória celeste.

Pr Sergio Rosa


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