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Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Cada cristão um discípulo

João 15.15

"Já não vos chamo servo, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas; tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer". 

O ministério de Jesus foi excepcional. Ele trouxe algo novo, que foi pouco entendido entre os religiosos de sua época. O judaísmo era a religião oficial, que era subdividido em diferentes grupos: Saduceus, a elite sacerdotal, que controlava o templo e de onde vinha o sumo sacerdote; os fariseus e escribas, estudiosos da torá e mestres da lei; os zelotes, que acreditavam na independência de Israel do poderio romano por intermédio da luta armada; os essênios, grupo ascético, separatista, que tinha a sua própria comunidade; e, os herodianos, grupo político-religioso pertencentes à dinastia de Herodes, totalmente ligados a Roma.

O trabalho desenvolvido por Jesus foi totalmente diferenciado de todos estes e outros modelos existentes, isto fica evidenciado em suas mensagens, principalmente no Sermão do Monte, quando ele ensinou a respeito da ética do seu Reino. A sua forma de ensinar cativava as multidões; o seu desapego ao poder, irritava aos seus opositores. Jesus não desejou ser um líder proeminente, não correu atrás de fama ou prestígio, ele queria apenas servir. Isto vinha na contramão de tudo o que todos os demais grupos ensinavam. Principalmente quando ele disse: “Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.” (Marcos 10.43-44)

Esta forma de agir de Jesus chocou a toda a liderança religiosa de seu tempo, principalmente a proximidade que mantinha de seus discípulos. Ele andava junto, comia junto, desenvolvia a obra junto com os demais. A forma de convivência diária com eles não era uma relação de poder, de domínio, de exploração, mas, de proximidade. Quebrando todo o protocolo da época, que existia entre mestre e alunos, ele chamou os seus discípulos de amigos. Nenhum outro líder, nem antes e nem depois fez tal afirmação.

A palavra utilizada por João neste texto para amigo é phílos. Phílos vem da raiz phileō, que significa “amar com afeição”, “gostar”, ou “ter carinho por”. É usado para descrever amizade íntima e voluntária. Na cultura grega, assim como em nossa cultura ocidental, phílos indica alguém com quem se compartilha a vida, os segredos e os valores. Em todos esses textos, phílos carrega a ideia de proximidade natural, diferente de obrigações formais. O discipulado cristão, portanto, é marcado por essa amizade profunda com Cristo, que se reflete na vida do seu próximo.

A palavra amigo traduz uma leveza que a religiosidade corrói. O ambiente religioso faz parte do desenvolvimento de nossa crença, mas, às vezes ele se torna tóxico, quando se afasta dos princípios ensinados por Jesus. Portanto, se olharmos para o discípulo cristão através de uma lente meramente religiosa, tudo se transforma em uma pesada obrigação. Neste momento, a satisfação em servir, o prazer da proximidade vai-se embora, e fica o enfado e o cansaço de se cumprir os ritos e as regras religiosos.

Olhando por este prisma, entendo que ser discípulo e fazer discípulo deve ser tão leve quanto desenvolver uma amizade. Não é algo que se consegue fazer rapidamente, demanda tempo e dedicação. O problema atual da igreja é que não queremos fazer discípulos, queremos formar prosélitos, apenas atrair pessoas para a igreja. E, muitos entendem que depois que uma pessoa levantou a mão pra Jesus, acabou a responsabilidade. Não é preciso mais cuidar.

Não foi este o exemplo que Jesus nos deixou. Isto não é discipular, é linha de produção religiosa.

Separei cinco características que acredito que todo amigo, portanto todo discípulo, deve desenvolver:

1. Lealdade

Um amigo está presente nos bons e maus momentos. Ele não abandona quando surgem dificuldades. Assim como um discipulador não abandona o seu discípulo.

2. Sinceridade

Um amigo fala a verdade, mesmo quando dói. Ele corrige com amor e busca o bem do outro. Um discipulador também corrige a quem discipula.

3. Empatia

Um amigo sofre junto, celebra junto, compartilha alegrias e tristezas. Ele se coloca no lugar do outro, oferecendo apoio emocional e espiritual. O discipulador sem empatia não consegue alcançar o coração de seus discípulos.

4. Confiança

Um amigo verdadeiro abre o coração, confia e é confiável. Em geral o amigo sabe o que está acontecendo com quem mantém amizade. Assim é a relação do discipulador e discípulo, ela se desenvolve na base da confiança.

5. Sacrifício

A amizade verdadeira envolve doação, tempo, energia e até renúncia. Jesus é o modelo supremo de amigo — Ele deu a vida por nós. Assim deve ser o relacionamento discipulador e discípulo, um vida de doação:

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos.” Jo 15:13

Conclusão

Sempre que penso na igreja, no convívio dos irmãos, no trabalho diário que é desenvolvido, penso em um grupo de amigos. Sei que nem todo o cristão tem esta visão, de tratar o irmão da igreja como amigo. Mas, este é o desafio, vencer a indiferença, a falta de empatia, e gerar proximidade.

Esta proximidade dá-se primeiramente com Deus, e depois, com o seu próximo. Acredito que uma pessoa cheia de Deus não queira o mal do seu próximo, mas, apenas o bem.

Uma igreja onde os membros desenvolvem tal grau de amizade, não apenas com os que já estão, mas, com os que estão chegando e os que estão de fora, torna-se uma igreja rica em comunhão, um lugar saudável para se frequentar e atrair multidões para fazer o mesmo. Como disse Bonhoeffer, a comunhão dos santos é um vislumbre do céu.

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