Mt. 5.31-32
Uma das maiores dificuldades em
entender o que a Bíblia diz sobre o divórcio não está propriamente na questão
da interpretação bíblica, mas na nossa raiz católica que acredita que
matrimônio é sacramento e por isto não se desfaz. Viemos de um berço católico e
ainda carregamos muito da sua doutrina. A nossa formação religiosa ainda tem
muitos fragmentos católicos. Isto é tão forte que em algumas igrejas batistas
fundamentalistas da Bahia uma pessoa divorciada que se casou novamente não pode
ser admitida como membro. Quando estive pastoreando naquela região recebemos um
casal, o homem era divorciado e a mulher viúva, eles relataram que haviam
sido rejeitados como membros de uma igreja batista fundamentalista do sul da Bahia
por que ela havia se casado com um homem divorciado. Estas pessoas acreditam que o
casamento só se desfaz com a morte. Na doutrina católica, ainda que você se case
novamente, somente o primeiro casamento é válido, mas qual é a visão de Jesus a respeito do divórcio?
A melhor maneira de abordarmos
esse assunto é separá-lo em três divisões:
1. O que dizia a lei sobre o divórcio -
Deut. 24.1-4 esclarece a lei do divórcio no AT. Se houvesse
uma questão
gravíssima o homem poderia divorciar-se, mas ao fazê-lo deveria dar a mulher
uma carta de divórcio garantindo a ela o direito de casar-se novamente, caso
desejasse. Não havia uma proibição para divorciar-se e nem para casar-se
novamente. O problema da antiguidade é que os homens repudiavam as suas
mulheres e com isto elas não podiam se casar, por que estando casada se elas
casassem com outro estariam em adultério e seriam apedrejadas. A coisa ficou
tão grave que em Malaquias 2.16 Deus diz que "odeia o repúdio", as
versões mais antigas traduz este verso como "divórcio". Este problema
de tradução gera uma grande confusão. Para esclarecer, a palavra hebraica
shalach usada neste texto é normalmente traduzido como “repudiada”. A palavra
hebraica para divórcio, que é keriythuwth, que significa literalmente “corte do
vínculo matrimonial”. Devido a este problema de tradução acentuado pela
doutrina católica do casamento como sacramento é que houve este entendimento de
que o divórcio seria proibido.
Para o AT a questão do divórcio
era algo comum, tanto que o profeta Jeremias assinala que o próprio Deus se
divorcia de Israel Jr 3.6. A lei do divórcio possuía dois
pontos bastante positivos: 1. Estabelecia um critério para que o divórcio não
se tornasse algo banal, ocorrendo por qualquer coisa. Só era permitido se houve
um defeito natural, moral ou físico na mulher. Isto eliminava razões frívolas
ou injustas; 2. Dava as mulheres o direito de casar-se novamente. Antes desta
lei o homem podia simplesmente abandonar a sua mulher, ou seja, repudia-la e
com isto ela ficava presa ao casamento e não podia casar-se novamente, enquanto
ele poderia contrair núpcias com outra mulher.
2. O que ensinavam os escribas
e fariseus - Em Mt 19.7 alguns fariseus perguntam para Jesus: "por que
Moises ordenou dar carta de divórcio e repudiar". Vejam são duas palavras
distintas apostasion e apoluo. Elas não são sinônimas. A
primeira significa rompimento de contrato e a segunda apenas uma separação. Os
fariseus ensinavam que poderiam repudiar por qualquer motivo. Este fato gerava
um grande desconforto e tristeza para as mulheres, que uma vez casada e
repudiada não poderia casar novamente.
A palavra grega para divórcio tem
a mesma raiz da palavra apostasia. Apostatar portanto não é apenas um abandono.
Um abandono seria um repúdio, apostatar é praticamente divorciar-se completamente
de Deus, e de acordo com a lei do divórcio em Dt 24.1-4 aquele que se divorcia
não pode retornar ao mesmo casamento.
3. O que Jesus ensinava -
Em Mt 19.3-8 quando Jesus é questionado a respeito do divórcio ele serão
os dois uma só carne". O casamento não era para se desfazer,
uma vez unidos eram para permanecerem unidos como uma só pessoa e não mais
duas. Jesus esclarece a eles que Moises só havia permitido, e não ordenado,
devido a dureza do coração do homem, que antes não divorciava, mas repudiava a
mulher a deixando escrava daquela lamentável situação. Mas Jesus esclarece que no princípio não
era assim, esta dureza entrou no coração do homem com o pecado. Jesus responde
usando o AT ele recita Gn 2.24 ".
Note que este bloco de texto faz
parte do sermão do monte, e Jesus no verso 8 fala sobre os limpos de coração,
nos verso 21 a 26 Jesus fala sobre o nosso interior, desta forma Jesus está
mostrando que o divórcio é algo mal que entra no coração e que não deveria ser
assim. Mas compreenda nem sempre quem pede o divórcio é que é o duro de
coração, ocorrem casos em que a outra pessoa passa por uma pressão tão grande
que em um ponto que não aguenta mais. Não estou falando aqui de casos
corriqueiros onde a oração e a longanimidade resolvem. Se o cristão tem um coração limpo, puro diante de Deus, ele vai buscar solução para resolver suas crises e deixará o divórcio como última alternativa, e não como a primeira. O grande problema do divórcio entre cristãos neste tempo presente está ligado diretamente a uma religiosidade estereotipada, a falta de santidade e oração, a uma fé vazia e apenas exterior, a um edonismo religioso.
Casos como incompatibilidade de gênios é ridículo, não existe compatibilidade entre um homem e uma mulher, são completamente opostos, e aí é que está a graça. Frases do tipo "eu não te amo mais", "eu quero alguém que me faça feliz". As pessoas tem confundido amor com a paixão, e quando o fogo da paixão esfria, o que é comum em relacionamentos duradouros, o amor é que sustenta. Há casos do 'fogo' acender para outra pessoa, pode acontecer com qualquer um, os fracos põem lenha na fogueira e se deixam levar achando que é amor, mas é apenas atração sexual que uma hora também esfriará. Há pessoas que buscam a felicidade em outra pessoa, quando a felicidade precisa estar dentro de nós. Se você busca alguém para te fazer feliz, nunca vai encontrar, por que você é triste. O que precisamos buscar no casamento é alguém para compartilhar nossa vida, nos completar e ao mesmo tempo para ser completada. Isto é casamento.
Casos como incompatibilidade de gênios é ridículo, não existe compatibilidade entre um homem e uma mulher, são completamente opostos, e aí é que está a graça. Frases do tipo "eu não te amo mais", "eu quero alguém que me faça feliz". As pessoas tem confundido amor com a paixão, e quando o fogo da paixão esfria, o que é comum em relacionamentos duradouros, o amor é que sustenta. Há casos do 'fogo' acender para outra pessoa, pode acontecer com qualquer um, os fracos põem lenha na fogueira e se deixam levar achando que é amor, mas é apenas atração sexual que uma hora também esfriará. Há pessoas que buscam a felicidade em outra pessoa, quando a felicidade precisa estar dentro de nós. Se você busca alguém para te fazer feliz, nunca vai encontrar, por que você é triste. O que precisamos buscar no casamento é alguém para compartilhar nossa vida, nos completar e ao mesmo tempo para ser completada. Isto é casamento.
Jesus arrebentou com o conceito
farisaico quando disse que "Todo
aquele que repudia a sua mulher e se casa com outra comete adultério; e aquele
que se casa com a mulher repudiada comete adultério” (Mt 19.9). Jesus neste
momento iguala os direitos de homens e mulheres afirmando que o homem também se
tornaria adúltero se repudiasse a sua mulher e se casasse com outra. A coisa
para os homens em geral foi tão ofensiva que no verso seguinte os próprios
discípulos declaram, "se esta é a
condição então é melhor nem se casar". Jesus deu a eles uma solução:
vocês tem outra opção, podem se tornar eunucos. Um eunuco era um homem castrado
que era usado para servir as mulheres do harém.
Vamos nos debruçar um pouco sobre
o verso 19, durante muito tempo houve uma interpretação errada sobre este
verso, devido ao ranço da doutrina católica do casamento como sacramento,
lia-se aqui que o casamento só poderia ser desfeito se houvesse ocorrido uma porneia que pode ser qualquer ato de
imoralidade sexual, entretanto sempre foi lido como adultério. Vamos ler
atentamente o que diz o verso 19 "Eu,
porém vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de 'porneia', e
casar com outra comete adultério e quem casar com a repudiada comete adultério". Para Jesus, tanto homem quanto mulher não poderiam casar-se novamente, caso houvesse apenas
o repúdio. Neste caso, Jesus disse, "aquele
que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio".
Conclusão
Embora eu entenda que não há uma proibição para o divórcio, por outro lado também não existe um estímulo para que o mesmo aconteça. Eu entendo o divórcio a partir do que Jesus declarou, que isto só existe por causa da "dureza no coração", e que no inicio não era assim por que Deus planejou que fossem uma só carne. Como filho de pais divorciados eu entendo que para a família, principalmente para os filhos o divórcio é lamentável, por que os filhos sofrem. Eu sei por que eu sofri muito. Eu tinha 15 anos quando minha mãe foi embora de casa para morar com outro homem, nem sequer se despediu. Mas eu não creio que a mulher deve ficar no casamento somente por causa de filhos, aliás esta é a razão por que muitos divórcios se dão entre pessoas com mais de vinte anos de casados, por que os filhos já cresceram e a mulher não tem mais que aturar estupros, maus tratos, humilhações, agressões físicas e verbais.
Embora eu entenda que não há uma proibição para o divórcio, por outro lado também não existe um estímulo para que o mesmo aconteça. Eu entendo o divórcio a partir do que Jesus declarou, que isto só existe por causa da "dureza no coração", e que no inicio não era assim por que Deus planejou que fossem uma só carne. Como filho de pais divorciados eu entendo que para a família, principalmente para os filhos o divórcio é lamentável, por que os filhos sofrem. Eu sei por que eu sofri muito. Eu tinha 15 anos quando minha mãe foi embora de casa para morar com outro homem, nem sequer se despediu. Mas eu não creio que a mulher deve ficar no casamento somente por causa de filhos, aliás esta é a razão por que muitos divórcios se dão entre pessoas com mais de vinte anos de casados, por que os filhos já cresceram e a mulher não tem mais que aturar estupros, maus tratos, humilhações, agressões físicas e verbais.
Para um judeu um divórcio é uma
amputação espiritual que separa uma alma unida. É uma verdadeira tragédia, um
fato lamentável, que só pode ser entendido quando o membro a ser amputado está
gangrenado e por isto precisa ser extirpado.
Embora o divórcio seja uma opção,
deveria ser sempre a última opção, quando não se tem mais nada o que fazer,
quando todas as tentativas já foram feitas, quando todas as soluções não deram
certo, quando há um perigo iminente ou quando já não existe o respeito pelo
outro cônjuge. Fora disto o que eu vejo é uma banalização do matrimônio, algo
que deveria ser considerado como eterno, ser tratado como descartável.
Muito bo sua análise sobre o tema.
ResponderExcluirGrato pela avaliação meu amigo. Sinta-se a vontade para posicionar-se sobre os demais textos. Grande abraço.
ExcluirForte hein, Pastorzao! Ótimo estudo!!!!
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