MT. 5.21-26
D. M. Lloyd-Jones afirma que os
fariseus e escribas sempre foram culpados de reduzir o sentido e até mesmo os
requisitos básicos da lei, e quanto a isso, temos aqui uma perfeita ilustração.
Jesus disse: "Ouviste o que foi dito aos antigos: Não matarás; e: quem
matar estará sujeito a julgamento"(v. 21). "Não matarás" é um
dos dez mandamentos, somente isto, mas os fariseus acrescentaram algo ao
mandamento dizendo: "... quem matar estará sujeito a julgamento". Os fariseus
juntara Gen 20.13 com Levítico 35.30-31 e assim reduziam o mandamento. O
julgamento era o juízo de um tribunal local. Os fariseus tinham despido o
mandamento do seu conteúdo primário, reduzindo-o a uma questão meramente de homicídio literal e não
mais em uma questão de juízo divino. Reduziram o mandamento a uma questão legal e o
tribunal local passou a ter mais importância do que o mandamento de Deus.Jesus neste ponto do sermão do monte está confrontando a interpretação da lei dada pelos fariseus e está estabelecendo uma nova interpretação da lei. Os fariseus se orgulhavam de cumprir a lei, mas na verdade eles cumpriam a interpretação que faziam da lei. Jesus desmascarou a falácia dos fariseus demonstrando que aquela maneira de interpretar a lei estava errada.
Neste texto podemos ver dois pontos importantes da lei abordado por Jesus:
1. Jesus fez algo inesperado, ele ampliou o sentido
farisaico de interpretação que reduzia o mandamento, ele declarou
que também a ira sem um real motivo, guardada no coração, contra um irmão, sem
uma justa causa, deve ser levados ao tribunal. Não é preciso esperar alguém
matar para ir para o tribunal, o simples fato de irar-se ou insultar ao irmão seria
motivo de parar no tribunal. A ira guardada no coração é algo extremamente
repreensível aos olhos de Deus.
Jesus vai mais além afirmando que
jamais deveríamos utilizar expressões de desprezo para como o nosso irmão,
"qualquer que dizer a seu irmão: Raca será réu do sinédrio. Raca é uma
expressão utilizada para alguém indigno, a Bíblia na linguagem de hoje traduz
como "você não vale nada".
Palavras desta magnitude destroem o nosso semelhante. Por que Jesus
alargou tanto a interpretação deste texto? Por que pode-se destruir completamente
a reputação de uma pessoa com maledicências. Para Jesus isto é o mesmo que
assassinato e por esta razão ele diz que isto não deveria ser julgado por um
tribunal comum, mas pelo Sinédrio, a mais alta corte dos judeus. E quem
dissesse ao seu irmão tolo ou na versão de hoje, idiota, corre o risco de ir
para o inferno.
2. A segunda declaração de Jesus,
"se, pois, ao trazeres ao altar a tua
oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante
o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e então
voltando faze a sua oferta". Jesus declara que além de não podemos nos
irar e ofender ao nosso próximo, não podemos também guardar pensamentos impuros
contra eles; quando lembrarmos disto devemos nos reconciliar com nossos irmãos
urgente.
Jesus nos versos 23 e 24 chama a atenção de seus ouvintes e diz que a coisa é bem mais profunda do que simplesmente a aparência exterior da adoração. Deus está preocupado com a adoração que vem do seu interior. Havia nos fariseus
uma tentativa de fazer expiação por suas falhas. Eles achavam que desde que
dizimassem e ofertassem estava tudo certo, eles já teriam pago por seus
pecados. Entretanto Jesus afirma que não é bem assim, era necessário
primeiramente concertar-se com o irmão antes de oferecer o sacrifício. Desta
maneira Jesus demonstra que não há qualquer valor em um ato de adoração se eu
estiver nutrindo algum pecado do qual eu tenha consciência. Se você não está
dirigindo a palavra a algum irmão, ou se você tem pensamentos indignos contra
alguém, então a palavra de Deus assegura que qualquer tentativa de adoração que
você fizer não terá qualquer valor.
I Sm 15.22 diz "Tem porventura o Senhor tanto prazer em
holocaustos e sacrifícios quanto em que obedeça à sua palavra? eis que o
obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de
carneiros". Nenhum ato de adoração encobrirá as nossas falhas aos
olhos de Deus. Não podemos adular a Deus com presentes. É preciso de fato uma
vida em santidade. Não adianta querer seguir a Deus apenas em aparência.
Jesus, portanto, nos leva a
refletir na real interpretação da lei através de uma nova hermenêutica, uma
interpretação que leva em consideração a alteridade, o colocar-se no lugar do
outro. O princípio para cumprir esta lei seria o amor ao próximo e não mais o
medo de ser punido por um sistema legal.
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