Este texto foi produzido a partir do livro:
Vocação e Espiritualidade, do Prof. Ágabo Borges de Sousa. Conheci o Ágabo
durante o meu Mestrado, ele era o reitor do Seminário e professor. Esta
reflexão me impactou muito e espero que fale também com você, querido leitor.
Por que Deus vocaciona alguém? Segundo as
escrituras, Ele faz isto para que possa ter um porta voz para falar ao povo. Nesta
tratativa Deus escolhe um homem para ser seu profeta, o seu escolhido para
anunciar a sua mensagem. Este homem ou mulher, passará por uma experiência
completamente singular que validará a sua vocação. Elas são singulares porque
são irrepetíveis.
Vamos ver alguns chamamentos de personagens
bíblicos para esclarecermos isto:
(Sm 3.10,13) Samuel ouve literalmente
a voz de Deus que o chama pelo nome, e recebe uma dura missão de Deus, ele
precisará revelar a Eli, aquele que o criou, que ele e seus filhos seriam
castigados por Deus por estarem fazendo coisas erradas. Ele chamaria atenção do
pastor da igreja, daquele que praticamente o adotou e o criou. Era um
verdadeiro suicídio ministerial, o seminarista exortando o pastor.
(Is 6.8,10) Isaias têm uma
experiência nova. Após ter uma visão do trono de Deus, fica extasiado e se
oferece sem saber para quê nem para onde. Então ele recebe uma missão e a
informação que o resultado de sua empreita seria fracassada, ele iria falar
para um povo que não iria ouvi-lo porque os seus ouvidos estariam endurecidos e
os seus olhos fechados. Imagina você pregar para uma igreja sabendo que ninguém
irá se converter.
(Ez 2.3,7) Ezequiel,
diferente de Jeremias, aceita de bom grado o chamado. A mensagem de Ezequiel
será dura, amarga, mas para ele, em sua boca será doce como o mel. A missão de
Ezequiel não é apenas difícil, é absurda, condenada de antemão ao fracasso. A
mensagem dele não surtiria nenhum efeito, o povo não se arrependeria e
continuaria vivendo a vida da mesma forma.
(Am 7.14-15) Amós era fazendeiro,
um pastor em tempo parcial, e deixou tudo para ir ao reino do norte entregar a
mensagem de Deus a Jeroboão. Ele disse que o rei iria morrer e Israel seria
destruída pelos inimigos. Ele também não foi ouvido, a sua mensagem rejeitada e
foi convidado a se retirar da igreja. Não era aquela a mensagem que os membros
daquela igreja queriam ouvir. Eles queriam ouvir que estava tudo bem, eles
poderiam continuar fazendo tudo o que quisessem, e ainda assim Deus daria a
vitória.
A vocação supõe, em certos casos, uma coação
para o profeta. Toda a vida do profeta está sob coação de Deus, não lhe sobra
sequer um reduto mínimo em que refugiar-se. O profeta Jonas expressou isto de
forma esplendida. Nem no porão do navio nem no fundo do oceano consegue
libertar-se da palavra de Deus.
Jeremias analisa a sua vocação e as consequências
que esta lhe acarretou. Ele utiliza uma metáfora muito forte, se compara a um
jovem inocente e ingênuo que foi enganado. Em vez de respeitar a sua
ingenuidade, Deus aproveitou-se dele, enganando-o, iludindo-o. Jeremias em
seguida só depara com os risos e as zombarias dos outros, carrega o peso da
desonra (Jr 20.7).
Vocação e crise é algo que acontece na vida de
todos aqueles que verdadeiramente foram chamados pelo Senhor. A vocação nos dá
a certeza de que é Deus quem está operando, e a crise nos lembra que somos
humanos que depende exclusivamente do poder de Deus para o exercício
ministerial.
Quem recebe um chamado divino, experimenta na
própria pele o peso desta vocação. Tem experiência com a crise, com a dor, com
a dúvida, com as lágrimas, que contrastam com a alegria de fazer a cumprir a
vontade de Deus, de estar no centro de sua vontade.
O pastor enfrenta uma tentação muito grande,
um desejo ardente de ser um semideus. Após tantos estudos da bíblia, ainda está
em moda o mito do pastor super-homem, tão bem abordado por Nietzshe. A história
mostra que o povo sempre se vê tentado a seguir o pastor super-homem de Nietzshe,
aquele homem forte e perfeito que consegue vencer todas as crises e permanecer
de pé, sem demonstrar fraquezas. Neste conceito, Hitler seria um excelente
pastor e Dietrich Bonhoeffer, assim como muitos outros profetas do passado
seriam rejeitados hoje por demonstrarem que apesar de pastores ainda são
humanos.
Quando me refiro a humanidade do homem, não
estou falando a respeito dos que caíram em pecado, porque cabe ao homem de Deus
tentar manter a sua integridade e santidade em tudo. Errou, tente se levantar, pagar pelo
erro e continuar. Mas, humanidade a que eu me refiro diz respeito às suas crises, dores,
dúvidas, frustrações e lágrimas, no exercício da função ministerial.
Pastor, você tem a sua vocação, o seu chamado
de Deus, a sua missão, portanto, a crise é iminente. Lembre-se, que é em meio à
esta crise que o Senhor aperfeiçoa os seus ministros para o exercício profético.
Não queira ser um pastor super-homem, cuide de você e peça ajuda quando
necessitar. Se possível, desenvolva boas amizades, isto faz muito bem.
Que o Senhor abençoe grandemente o seu ministério.
Pr. Sergio Rosa
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