Quem sou eu

Minha foto
Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Cidade genérica x estética religiosa pós-moderna

Cidade genérica é um conceito criado pelo arquiteto Rem Koolhaas, um teórico da arquitetura e urbanismo do Reino Unido, professor deste curso em Harvard. Ele exemplifica a sua teoria a partir dos aeroportos, que são iguais no mundo inteiro. Não há uma personalização, não há uma identidade, é tudo igual, cabe para toda e qualquer pessoa.

Eu tive a oportunidade de conhecer alguns aeroportos do mundo e de fato, é bem interessante, porque se você conheceu um grande aeroporto, praticamente conheceu a todos. São todos muito parecidos, mudam o idioma das placas, mas, os sinais, o formato de locomoção, a arrumação estética, acompanham a mesma estrutura; as placas, em geral são na língua do País e no Inglês, o que facilita para viajantes do mundo inteiro se orientarem.

Esse conceito se encaixa perfeitamente no utilitarismo do filósofo inglês Jeremy Bentham, que busca maximizar a felicidade e minimizar o sofrimento. Os utilitaristas avaliam a moralidade de suas ações pelos resultados alcançados. Se os atos praticados ou a situação em si causar bem-estar às pessoas, ela é moralmente correta e aceitável. Desta forma, se cada aeroporto no mundo tiver a sua singularidade, imagina o estresse que seria. Assim, o conceito de Koolhaas é o utilitarismo na prática, é aquilo que causa a sensação de bem-estar nas pessoas que trafegam pelos aeroportos do mundo.

Este pensamento de Koolhaas no faz tecer uma crítica interessante a respeito da igreja, os templos contemporâneos perderam o seu formato arquitetônico, hoje é uma caixa quadrada, que oferece conforto, iluminação e som de shows; muitas funcionam em Shopping Center, e/ou como um centro de consumo. Este espaço religioso está se transformando, ou já se transformou em lugar unicamente de consumo. Há cafeterias, lojas de diversos produtos, área vip, e a própria fé é anunciada como um produto a ser consumida. Não é mais um lugar que inspira a meditação ou a transcendência, mas, o consumismo. O capitalismo é a mola propulsora e não mais os ensinamentos de Cristo.  As mensagens são verdadeiros ‘mindset coaching’, instruções e desafios para se ficar fico. Os novos líderes são freestyle model, que se comunicam perfeitamente com o púbico jovem.

É uma tendência que não parece que irá retroceder, e quem não se encaixar no novo perfil já está sendo atropelado pelas novidades. A cada dia que passa uma nova igreja nasce trazendo inovações radicais atraindo a juventude. As igrejas consideradas tradicionais, estão esvaziando dia após dia, seja católica, ortodoxa, ou evangélica, de qualquer segmento. As cabeças brancas são cada vez mais evidentes nos cultos tradicionais, são a geração passada, que construíram aquela religiosidade e o espaço de culto ideal para o desenvolvimento de uma fé passada.

Esta não é uma crítica de valor, onde se discute o que é melhor ou pior, mas, um fato notório da nova realidade. Também não é um texto para construir uma resposta, mas, apenas problematizar, trazer a lume o debate. Não há como se construir uma solução para problemas do passado, sem entender bem a dinâmica do presente. E, nem sei se há uma solução para esta tendência, talvez não haja. Considerando que há 8 bilhões de pessoas no planeta, que se multiplicam em progressão geométrica, todos os conceitos precisam ser revistos, dia após dia, cada vez mais rapidamente.

Se trouxermos Bauman para a conversa e acrescentar o seu conceito de sociedade líquida para o que ocorre com a religiosidade pós-moderna, verificaremos uma conexão entre estes pensamentos. Vivemos em uma sociedade líquida, que busca relacionamentos líquidos, ou foram induzidas a eles, e que naturalmente desenvolvem ou são atraídas para uma religiosidade igualmente líquida. Tudo isto se reflete não apenas na estética dos novos templos, como no comportamento, liturgias e mensagens.

Sergio Rosa – Pastor, Mestre em Teologia.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário