Lucas 18.9-14
Quando
cheguei aos 44 anos comecei a ter dificuldades de enxergar de perto. A cada ano
o grau aumenta e é preciso trocar as lentes dos óculos para enxergar melhor. Já
usei óculos para miopia, mas ela retrocedeu e hoje só tenho problemas com
hipermetropia, dificuldades para enxergar de perto. O remédio para isto é a
utilização de óculos.
Através da
lente correta, aquilo que era desfocado, passa a ter uma imagem nítida. Lente é
um objeto que nos possibilita enxergar melhor. Sem ele, eu não poderia ler
nenhum livro, nem mesmo a minha bíblia de letra extra gigante eu não consigo
enxergar.
No primeiro
sábado de maio é comemorado o dia Batista de Ação Social. Neste dia, trazemos
aqui vários atendimentos sociais, dentre eles, trazemos um optometrista, que é
o profissional que faz o exame para medir nosso grau. Todo ano eu faço. E ele
me coloca para ler aquelas letrinhas e vai trocando as lentes até achar uma que
me faz enxergar melhor. Ele vai perguntando: essa é melhor? Então, ele continua
testando outras lentes até achar a correta. Aquela que me faz enxergar
nitidamente.
Gostaria de
te convidar a examinar a parábola do fariseu e o publicano através de duas
lentes: a lente da lei e a lente da graça. Vamos verificar através de qual das
duas conseguimos enxergar melhor a vontade de Deus para as nossas vidas.
1.
Primeiro vamos verificar a lente da lei (v. 11-12)
Jesus estava
contando uma parábola. Antes de qualquer coisa, precisamos saber para quem
Jesus estava contando esta parábola. As parábolas de Jesus tinham a intenção de
confrontar o ouvinte consigo mesmo. Neste confronto alguns se convertiam,
outros ficavam irados, e outros fingiam que não entendiam o que Jesus estava
dizendo. Quem estava sendo confrontado? Lucas 17.20 responde a esta pergunta: “Interrogado pelos fariseus..”. Os
fariseus eram os caras mais certinhos do Novo Testamento. Eles eram homens
altamente religiosos. Eram os guardiões e interpretes da lei de Deus. Aqueles
responsáveis em manter as tradições religiosas e o ensino. Eles conheciam
profundamente a Torah, o Antigo Testamento, jejuavam e frequentavam a sinagoga
regularmente.
Lembro de uma
amiga nossa, ela nos contou que, quando criança, ela morava em uma fazendo com
a família. Certa vez, ela pegou um pintinho para tomar conta, e torceu o
pescoço do bicho até ele morrer. Daí, ele ficou quietinho, então ela disse que
havia colocado ele pra dormir. Em sua visão distorcida de criança, ela pensou
que estava fazendo uma coisa boa.
Os fariseus
realmente achavam que estavam fazendo algo bom. Eles se sentiam fazendo a
vontade de Deus. Achavam que o que faziam os aproximava de Deus. Eles tinham
uma visão distorcida da vontade de Deus, porque estavam utilizando a lente
errada. Eles estavam tentando enxergar a vontade de Deus a partir da lente da
lei. Acreditavam que uma obediência superficial e exterior da lei de Deus era
suficiente.
Jesus, então,
conta esta parábola sobre os dois homens que subiram ao templo para orar. O
primeiro é identificado como fariseu e o segundo como publicano.
O Fariseu representa a lente da lei – a
obediência aparente à lei os fazia pensar que estavam fazendo a vontade de
Deus. Os fariseus pensavam que se fizessem tudo aparentemente certinho, estava
quite com Deus. Por isto, na parábola, ele ora dizendo: “eu não sou como os demais homens, corruptos, injustos e adúlteros e
muito menos como este publicano..” Não havia problema no que ele estava
fazendo. Tudo aquilo era bom. E até melhor do que a lei, que ordenava jejuar
uma só vez na semana.
Jesus não está
condenando o que ele fazia, mas mostrando que não adiantava ele fazer aquilo só
de exterior.
2. Segundo
vamos verificar a lente da graça (13)
O Segundo
personagem desta parábola é o publicano.
O Publicano representa a lente da graça
– a desobediência à lei o fazia pensar que não estava fazendo a vontade de
Deus. E de fato não estava. Ele era um tipo de ‘traira’ de sua nação. Os
publicanos trabalhavam para Roma na função de coletores de impostos dos judeus.
Eles oprimiam o povo com altas taxas, e por isto eram odiados. Quando ele chega
ao templo orar, ele tem noção clara de quem ele era. E ele abre o coração para
Deus: “tem misericórdia de mim Senhor,
porque sou pecador”. Jesus diz que ele saiu dali justificado.
A graça nos
mostra quem realmente somos. Ela descortina todo o nosso ser. Esta parábola
mostra que não adianta você querer aparentar para Deus quem você na verdade não
é. Ele não se deixa enganar. Não esconda quem você é atrás de uma religião. A
graça é uma chamada ao arrependimento, um convite à transformação.
Conclusão
Diante da
graça importa o que verdadeiramente o que você é, e não quem você aparenta ser.
De nada adianta um teatro religioso diante de Deus. As suas ações diante de
Deus são medidas por quem você verdadeiramente é. Por isto Jesus condenou os
fariseus por querer entregar uma esmola e se aparecer (Mt 6.2). Os fariseus só
se preocupavam com a aparência. Eles queriam aparentar algo que na verdade não
eram, isto se chama hipocrisia.
Às vezes
precisamos parar, meditar, orar, e nos perguntar se não existe nada de errado
com a nossa religiosidade. É preciso uma reflexão pura e sincera a partir da
lente da graça. Aquela que nos despe completamente, aquela que nos faz enxergar
quem realmente nós somos.
O apóstolo
Paulo diz: “Examine-se pois o homem a si
mesmo”. Este autoexame só é possível através da lente da graça. Olhamos
para dentro de nós e conseguimos ver o que realmente tem dentro. Através deste
diagnóstico lutamos para retirar aquilo que sabemos que está errado. Se
tentarmos nos examinar pela lente da lei, corremos o risco de tentar nos
absorver. Afinal, se ninguém viu, então, não há quem me condene.
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