Mateus 5.43-48
Chegamos a um dos pontos mais
difíceis do sermão do monte. Como amar a uma pessoa a quem detesto com todas as
minhas forças? Como amar a alguém que me humilhou, me fez grande mal ou até
mesmo não gosta de mim? Seria isto possível? Vamos ver o que Jesus orientou a
respeito disto no sermão do monte.
Está é a sexta das seis
ilustrações que Jesus se utiliza para nos ensinar sobre a lei de Deus, em
contraste com a interpretação dos escribas e fariseus. Eles ensinavam “amarás ao teu próximo e odiará ao teu inimigo”. Para eles o próximo
era sempre outro israelita. Porém, Jesus vai ensinar na parábola do ‘bom
samaritano’ que qualquer pessoa pode ser o seu próximo, até mesmo aquele a quem
você considera inimigo, por que Judeus consideravam samaritanos como povo
inimigo. Jesus declara para eles: “Eu,
porém, vos digo, amai a vossos inimigos e orai pelo que vos perseguem”.
Estas palavras de Jesus devem ter doído um bocado.
Origem da interpretação dos escribas e fariseus
Em que os escribas e fariseus se
basearam para chegar a esta interpretação? Segundo Lloyd-jones foi
no fato de
que o povo hebreu quando estava para entrar na terra prometida recebeu ordens
de Deus para exterminar aos cananeus. Para Lloyd-jones foi neste fato que eles
baseavam toda estrutura hermenêutica de interpretação. Durante toda a ocupação
da terra prometida, foi necessário cumprir esta ordem. Porém, o povo hebreu não
o fez em sua totalidade. O resultado foi que até o dia de hoje ainda existem
guerras naquele local.
O que Jesus está dizendo no
sermão do monte é que naquele tempo foi necessário agir daquela forma, mas que
agora é um novo tempo, e se faz necessário amar aos nossos inimigos. Nos versos
anteriores Jesus havia dito que é preciso oferecer a outra face e caminhar
outra milha, agora no verso 44 ele diz que precisamos amar estas pessoas.
Difícil, se pensarmos em fazer isto naturalmente. Mas se você rever as bem
aventuranças, há de se lembrar daquelas características: humilde de espírito,
quebrantado, manso... Portanto, para cumprir o que Jesus disse, só é possível
para aquele que genuinamente é dirigido pelo Espírito de Cristo.
Amai a vossos inimigos
Partindo deste princípio divino
precisamos urgente repensar a forma com que tratamos aos outros. Quais tem sido
os nossos pensamentos e sentimentos em relação a bandidagem que assolam o nosso
Rio de Janeiro. Já vi alguns posts na internet desejando que morram. Não estou
aqui defendendo bandidos e nem afirmando que são pessoas dignas de serem amadas.
Não devemos amá-los por que eles merecem, por que de fato, não merecem; estão
colocando terror nos cidadãos de bem. Não estou sequer advogando a seu favor,
por que são indignos aos nossos olhos. Entretanto a orientação de Jesus é que
devemos amá-los e orar por eles. Devemos amá-los por quem somos, pelo que há em
nós, por que Deus é amor e vivemos no seu amor.
A maioria das pessoas não pensam
assim por que são pessoas naturais, elas fazem tudo conforme a sua natureza
humana. Por que devemos agir de forma diferente destas pessoas? Por que somos
crentes e o crente é alguém que foi separado do mundo. Se vivermos conforme o
mundo, que diferença temos? O crente não pertence mais a este mundo, o nosso
Reino não é deste mundo. O crente é alguém transformado, é uma nova criatura;
por isto ele consegue ver as coisas a partir de uma perspectiva diferente. Ele
experimentou o amor de Deus e vive sobre este amor.
Amar não é uma questão sentimental
Perceba que não se trata aqui de
um sentimentalismo do tipo: eu vou ser bondoso com as pessoas e elas se
tornarão bondosas. Há muitas pessoas perversas no mundo que estão à procura de
pessoas bondosas somente para dar golpes e se aproveitar. Há pessoas ligadas
aos direitos humanos que advogam que todo bandido deve ser tratado com bondade
para que ele seja transformado; por causa disto muitos bandidos têm se
aproveitado do sistema para ter penas mais brandas. Penas mais brandas não
simbolizam amor e sim injustiça. O amor de Deus não está ligado a indolência e
nem a injustiça, pelo contrário, seu amor caminha junto com sua justiça.
Amar não quer dizer passar a mão
sobre a cabeça ou amenizar o castigo. Quem comete crimes precisa responder por
eles. Pais que dizem amar aos seus filhos, mas não impõe limites, não
estabelece regras e não pune os erros, certamente confundiu amor com
passividade. E esta criança irá crescer e se tornará um adulto sem limites. O
fato de amar as pessoas diz respeito a tratá-las com humanidade dentro de um
ambiente de justiça. E não apenas isto, devemos orar por elas, para que haja uma
transformação real, realizada pelo Espírito Santo.
Por que devemos orar pelos que nos perseguem?
Por dois motivos: 1. Por que a
oração pode transformar a vida daquela pessoa; 2. Por que a nossa oração nos
faz enxergar a situação pelos olhos espirituais. Quando oramos por alguém que
nos persegue o Senhor vai quebrantando o nosso coração e vai limpando o ódio e
o rancor.
Seja perfeito como Deus
No último verso deste capítulo
Jesus surpreende dizendo: “Sede
perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste”.
O sermão do monte é um discurso desafiador,
ele nos desafia a fazer coisas bastante difíceis. Vejamos: 1. A nossa justiça tem que exceder a
dos escribas e fariseus; 2. Não podemos olhar para uma mulher com intenção
impura; 3. Temos que dar a outra face; 4. Não podemos insultar, chamar o irmão
de idiota ou de maluco; 5. Temos que perdoar as pessoas antes de adorar a Deus;
6. Amar e orar por nossos inimigos. Por
outro lado, se conseguirmos fazer tais coisas, seremos parecidos com o Senhor.
O verso 45 diz “para que vos
torneis filhos do Pai”. Qual filho é inteiramente parecido com os seus
pais. Por
menos que se pareça, sempre temos algumas características, mas não todas. De
qualquer forma quando alguém olha pai e filho sempre diz que algo nos filhos
faz lembrar aos seus pais. Como não somos filhos naturais, e sim adotivos
mediante a sua graça, não iremos parecer tanto com ele. Jesus, seu filho
legitimo nos orienta o que devemos fazer para nos parecermos com o nosso Pai
adotivo.
Este texto é o nosso grande teste
para saber se você realmente foi adotado pelo Pai. Se for, em algum lugar irá
se parecer com ele de tal forma que as pessoas irão testemunhar que você
realmente é filho de Deus, por que se parece com Deus em alguns detalhes.
Quanto mais nos aproximamos de Deus e cumprimos sua vontade, mas ficamos
parecidos com ele.
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