Mateus 5.38-42
O que você sente quando alguém te
dá uma fechada no trânsito, ou quando alguém te apronta uma que te deixa todo
embaraçado na frente de todo mundo. Em geral sentimos uma revolta e queremos
descontar a ofensa. Isto é o que qualquer pessoa natural faria. Chegamos a um texto que muitos consideram
impossível de ser praticado. Será? Vamos examinar, a partir das ponderações de
Lloyd-jones e David Bosh, e tentar descobrir se é possível praticar este ensino, ou teria
Jesus ensinado algo que é descartável?
A declaração do AT “olho por
olho, dente por dente”, aparece nos trechos de Ex 21.24 e Dt 19.21. O principal
motivo pelo qual este preceito foi outorgado foi para controlar os excessos
praticados contra o outro. Era preciso regular a respeito da ‘desforra’ ou uma
espécie de indenização pelo mal praticado. Todos nós temos nos tornado culpados
desse pecado. O revide faz parte de nosso instinto natural. Basta uma pequena
ofensa para que a pessoa ofendida procure se vingar, podendo até mesmo matar.
Desde a mais tenra idade as crianças manifestam esse impulso para a vingança;
esse é um dos mais odiosos resultados da queda do homem. A finalidade desse
preceito mosaico foi o de controlar e reduzir esta inclinação, devolvendo certa
ordem à sociedade dos homens.
O que a lei de Moises veio normatizar? se um homem chegasse
a cegar a outrem, não deveria ser morto por esse motivo. Antes, seria “olho por
olho”. Ou então, se viesse a arrancar um dente de um seu semelhante, a vítima
só tinha o direito de exigir que o ofensor perdesse um dos seus dentes. Se tirasse a vida, pagaria com sua vida. O
castigo era sempre equivalente à ofensa, sem jamais excedê-la. Até hoje este é
o princípio do direito moderno de indenização, ou seja, ressarcir os danos causados a outrem.
É importante frisar que este preceito não foi dado para os indivíduos, mas antes, foi dirigido aos juízes, que eram os responsáveis
pela lei e pela ordem. Aos juízes competia averiguar se a justiça estava sendo
efetuada, não cabia isto aos indivíduos em particular. O seu principal objetivo era
introduzir o elemento de justiça e retidão, e não legalizar o que denominamos justiceiros, ou seja, aquele que faz justiça pelas próprias mãos. Quem cometeu o delito precisa
sofrer ou pagar o equivalente ao delito cometido, mas quem determinaria isto seriam os magistrados e não pessoas comuns.
No que diz respeito ao ensino
dos fariseus e escribas, a dificuldade central deles é que ignoravam totalmente
o fato de que esse ensino se destinava exclusivamente aos juízes, mas antes,
dele faziam uma questão de aplicação pessoal. Jesus apresenta uma nova interpretação
que era totalmente contrária ao conceito farisaico. Com isto, ele não estava estabelecendo uma
nova lei que iria substituir a lei de Moises; pelo contrário, o que ele
pretendeu foi enfatizar o espírito da lei, o por um fim ao entendimento farisaico da lei.
É importante frisar que este não é um texto que pode ser entendido isoladamente. Aliás, nenhum texto pode ser interpretado separadamente. Este bloco de texto faz parte do sermão do monte e portanto, precisa ser
entendido a partir de seu contexto. Jesus iniciou o sermão com as bem-aventuranças: “bem-aventurados os humildes de espírito”,
“aqueles que choram”, “os mansos”, “aquele que tem fome e sede de
justiça”. Desta forma o ensino de todo o restante precisa ser entendido a partir destas qualidades. O homem
natural será incapaz de entender, somente aquele que nasceu
de novo será capaz de aceitar o que Jesus ensinou.
O que Jesus está afirmando é que a justiça é expressa por meio da
fórmula “olho por olho, dente por dente” e que não havia nada de errado na lei. O individuo que não se põe debaixo da
graça divina, precisa ser mantido debaixo da lei. A lei, portanto, é necessária para manter o
perverso sob controle e puni-lo em caso de abusos, foi o próprio Deus quem
determinou assim.
Podemos ver neste texto os aspectos que versa sobre à reação pessoal
do crente diante das coisas que lhe acontecem. Certamente só existe um
princípio básico neste preceito, a saber, a atitude de uma pessoa para consigo
mesma. Jesus disse: “... mas a qualquer
que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”. E então Jesus diz, inesperadamente: “Dá a
quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”. E isso
nos impele imediatamente a indagar: Que tem a ver essa questão dos empréstimos
com a questão da não-resistência ao perverso, de não revidar e não brigar com o
próximo? Jesus estava interessado na questão do “eu”, está em pauta o que eu penso de mim mesmo, bem como
qual é a minha atitude para comigo mesmo diante da ofensa. Quem tem um senso de justiça próprio muito elevado será incapaz de enxergar o outro, ver a necessidade do outro, não consegue praticar a alteridade, sua visão é só de si mesmo.
Com isto Jesus não está dizendo para você se deixar ser esbofeteado por qualquer um. Se um bêbado ou louco quiser esbofetear sua face ou mesmo pegar um dinheiro emprestado, ele nãos sabe o que está fazendo. Na verdade ele não tem noção do mal que está praticando. O que Jesus está dizendo? que você não deve cobrar a divida ao perverso e não deve querer pagá-lo na mesma moeda, se você assim proceder, você se igualou a isto, você voltou a lei 'olho por olho' e portanto abandonou a graça.
Com isto Jesus não está dizendo para você se deixar ser esbofeteado por qualquer um. Se um bêbado ou louco quiser esbofetear sua face ou mesmo pegar um dinheiro emprestado, ele nãos sabe o que está fazendo. Na verdade ele não tem noção do mal que está praticando. O que Jesus está dizendo? que você não deve cobrar a divida ao perverso e não deve querer pagá-lo na mesma moeda, se você assim proceder, você se igualou a isto, você voltou a lei 'olho por olho' e portanto abandonou a graça.
Me permita ilustrar com um fato
real. Conta-se que certa vez o missionário Hudson Taylor estava na China quando
acenou para um barqueiro, quando o bote já estava se aproximando, um rico
chinês lhe empurrou, ele caiu na lama e o chinês quis entrar em sua frente.
Taylor não disse nada, mas o barqueiro indignado se recusou a levar o chinês e
disse, ele me chamou primeiro. Taylor então entrou no bote e logo em seguida convidou
o chinês para entrar e ir com ele. No bote Taylor aproveitou a oportunidade
para evangelizá-lo.
Jesus estava desmascarando tudo
aquilo que se refere ao espírito de autodefesa, que aflora prontamente quando
alguém nos faz alguma injustiça, esse espírito de retaliação, de justiça
própria, que tanto caracteriza o homem natural. Não deveríamos nos preocupar
tanto com ofensas e insultos pessoais que nos vitimam.
Jesus também fala “... e ao que
demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa”. Jesus aqui
falava a respeito de nossa tendência de exigirmos os nossos direitos. De
conformidade com as leis judaicas, um homem não podia de forma alguma ser
despojado de suas roupas mais externas, embora pudesse sê-lo de sua roupa
interior.
O crente não precisa preocupar-se
com insultos e ofensas pessoais. Porém quando se trata de uma questão de honra
e de justiça, de retidão e de verdade, o crente deve preocupar-se e fazer o seu
protesto. Quando a lei não é honrada, quando ela é quebrada de modo flagrante,
não por causa de algum interesse pessoal, e nem a fim de nos protegermos a nós
mesmos, mas para que se promova a justiça.
Sobre o que Jesus fala de “andar a segunda milha”. No mundo
antigo uma autoridade romana podia determinar a qualquer pessoa carregar uma
bagagem ou levar algo para outrem. O exército romano exercia controle sobre as
vidas dos judeus e com frequência exigia que levasse suas bagagens, o que despertava
revolta. Jesus disse, se alguém te obrigar ir uma, vai duas com ele. Desta
forma o teu testemunho falará mais do que muitas palavras.
O crente não deve exibir o
amargor de espírito do homem natural. Mas, isto não quer dizer que ele
precisa
se conformar e não lutar por mudanças na lei de uma forma geral, mas sim que
ele não deve viver amargurado. Martin Luther King foi alguém que lutou contra
leis injustas que oprimiam o seu povo, sem usar o revide ou a revolta. Apenas
lutou contra leis injustas por que tinha fome e sede de justiça.
Uma ultima coisa que Jesus levanta é sobre a questão de emprestar. “Dá a quem te pede, e não voltes
as costas ao que deseja que lhe emprestes”. Isto não quer dizer que devemos dar
dinheiro a todos que nos pedirem, mas sim que devemos ter os olhos abertos ao
necessitado. Se você der um dinheiro para um bêbado ou drogado estará
contribuindo para sustentar o seu vício e isto não é correto, da mesma forma se
você der dinheiro a um golpista não estará o ajudando. O que Jesus estava
considerando é a tendência do ser humano em só olhar para si mesmo e não ajudar
ao próximo. I João 3.17-18 diz que devemos ajudar ao nosso semelhante por que
isto é a manifestação do amor de Deus.