Este texto é um sermão onde Jesus
nos desafia a olhar para o outro. Quando olhamos para o outro com um pouco mais
de atenção, conseguimos enxergar a necessidade daquele que sofre. Lembro-me do
nascimento o Projeto Social Ágape na Bahia, paramos um pouco para observar a
cidade e ver suas dificuldades e não foi preciso olhar tanto para percebermos
as muitas crianças da cidade que precisavam de um apoio, um auxílio, algo que
lhes desse um empurrão. Logo entendemos que servir àquelas crianças seria uma
forma de cumprir parte do que Jesus nos desafiou a fazer, amar ao próximo.
Servir em um tempo de
pós-modernidade é algo realmente desafiador. Vivemos o tempo do isolamento em
meio a multidão. É impressionante como as pessoas se sentem tão solitárias em
um mundo cada vez mais populoso. Quando servimos, temos a oportunidade de
trazer a cura sobre este grande mal através do relacionamento saudável com o
indivíduo socialmente oprimido. Não trata-se de um ajudinha ou de um socorro
emergente apenas, trata-se de relacionar-se mais profundo com o desfavorecido compreendendo
sua real necessidade.
Para entender melhor o ágape é
importante compreender o princípio da alteridade.
1. Alteridade nos leva
refletir sobre o ágape
O
estresse do mundo moderno tem nos feito viver uma vida onde ligamos o
automático e seguimos, não sobra muito tempo para reflexões. Devido a esta
circunstância já não notamos mais a face do outro que nos fala mesmo sem
palavras. Seus gestos, suas rugas de tristeza, seu semblante de dor e de fome
nos fala profundamente se pararmos para notar.
A
alteridade nos leva a refletir de que estamos perdendo o amor: "e, por se multiplicar a iniquidade, o Ágape
de muitos se esfriará" (Mt 24.12). Note que o texto diz, o amor de muitos e não o amor de todos. Isto quer dizer que temos que lutar para não fazer parte desta maioria.
Ainda há muita gente boa neste mundo, e o nosso papel é promover o Ágape de
Deus. Lembro uma vez que fomos ao Mc Donald da Washington Luiz, RJ, o JP era
pequeno, e como estava frio la dentro ele pediu para ficar sentado na calçada
no sol, então, ele pegou o sanduiche e ficou sentadinho lá comendo, dentre
muitos transeuntes, passou um casal de meia idade, olhou pra ele, e ficou com
tanta dó que deu uma nota, acho que era uns R$ 5,00. Ele não sabia o que fazer,
daí veio falar conosco. Nós rimos um bocado aquele dia. Mas, percebemos que
ainda existem pessoas de coração generosos.
A
alteridade nos leva a refletir que necessitamos urgentemente perceber na face
do oprimido a sua real necessidade e partindo daí, promover a ação do ágape, ou
seja o amor. Por que o amor sem obras é morto em si mesmo.
A
reflexão do ágape nos incomoda a olhar mais atentamente, não aquele olhar de
quem apenas viu, mas, aquele olhar investigativo, de quem quer saber mais
profundamente da cosia. A alteridade nos leva a prestar mais atenção e enxergar
além da aparência, desta forma podemos compreender a necessidade das pessoas.
Quando
falamos de necessitados, sempre pensamos na pessoa que tem fome de pão, mas, a
visão precisa ser muito mais abrangente, há muitas pessoas que não tem
necessidade financeira, mas sim emocional. Para atender à este clamor a igreja
oferece o Celebrando a Recuperação, para pessoas que tem necessidade de
compartilhar suas crises e suas prisões emocionais.
Outras
pessoas necessitam de cursos, treinamentos e capacitações, para isto estamos
iniciando vários cursos. Já outras podemos ajudar com ginásticas, educação e
cursos. Esta é uma visão de alteridade, de querer servir, oferecendo às pessoas
aquilo que está ao nosso alcance.
Quando
olhamos mais atentamente para o outro é possível sentir um pouco de sua dor e
assim, dentro de nossos limites compartilhar o que podemos.
O ágape não é um sentimentozinho de remorso que temos quando vemos alguém necessitado e corremos para dar alguma coisa.
Certa
vez em Belmonte levamos a direção de uma grande empresa que atuava na região.
Foram gerentes, psicólogo e outros. Quando contamos pra eles a realidade
daquelas crianças, e sobretudo do João, um menino que havia quebrado as duas
pernas, e que estávamos ajudando, a psicóloga não aguentou e começou a chorar,
depois ela saiu, foi a um mercado próximo, e comprou algumas coisas e doou para
aquele menino. Mas, depois disto, ela nunca mais apareceu e não conseguimos
fechar uma parceria adequada com aquela empresa que só queria usar a imagem do
Projeto para se aparecer.
Dar
algumas coisas para se livrar da pessoa que te incomoda, ou para apenas se
sentir melhor ou dar alguma coisa para a pessoa que bate em seu portão para não
ser mais importunado não é servir.
"Servir
é dar a pessoa o que ela realmente necessita".
É
preciso sabedoria para buscar soluções inteligentes que afaste os devoradores
para que se possa ajudar àquele que realmente necessita.
Quando servimos as pessoas elas começam a enxergar em nós algo diferente, por que servir reflete o Ágape de Deus. Quando servimos proclamamos o evangelho da salvação sem palavras. Isto não quer dizer que todos irão converter-se, quer dizer que elas entenderão a mensagem mais facilmente. Nossas ações testemunha quem somos nós.
Conclusão
A minha proposta é chamar sua
atenção para o princípio da alteridade, a fim de que venhamos olhar para o outro, perceber suas necessidades reais e sentir a dor do que sofre. Sem este sentimento seremos incapazes de atender a grande responsabilidade cristã que é servir.