João 15.15
"Já não vos chamo servo, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas; tenho vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer".
O trabalho desenvolvido por Jesus foi totalmente diferenciado de todos
estes e outros modelos existentes, isto fica evidenciado em suas mensagens,
principalmente no Sermão do Monte, quando ele ensinou a respeito da ética do
seu Reino. A sua forma de ensinar cativava as multidões; o seu desapego ao
poder, irritava aos seus opositores. Jesus não desejou ser um líder
proeminente, não correu atrás de fama ou prestígio, ele queria apenas servir.
Isto vinha na contramão de tudo o que todos os demais grupos ensinavam.
Principalmente quando ele disse: “Mas entre vós não é assim; pelo contrário,
quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem
quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.” (Marcos 10.43-44)
A palavra utilizada por João neste texto para amigo é phílos. Phílos
vem da raiz phileō, que significa “amar com afeição”, “gostar”, ou “ter carinho
por”. É usado para descrever amizade íntima e voluntária. Na cultura grega,
assim como em nossa cultura ocidental, phílos indica alguém com quem se
compartilha a vida, os segredos e os valores. Em todos esses textos, phílos
carrega a ideia de proximidade natural, diferente de obrigações formais. O
discipulado cristão, portanto, é marcado por essa amizade profunda com Cristo,
que se reflete na vida do seu próximo.
A palavra amigo traduz uma leveza que a religiosidade corrói. O
ambiente religioso faz parte do desenvolvimento de nossa crença, mas, às vezes
ele se torna tóxico, quando se afasta dos princípios ensinados por Jesus. Portanto,
se olharmos para o discípulo cristão através de uma lente meramente religiosa, tudo
se transforma em uma pesada obrigação. Neste momento, a satisfação em servir, o
prazer da proximidade vai-se embora, e fica o enfado e o cansaço de se cumprir
os ritos e as regras religiosos.
Olhando por este prisma, entendo que ser discípulo e fazer discípulo
deve ser tão leve quanto desenvolver uma amizade. Não é algo que se consegue
fazer rapidamente, demanda tempo e dedicação. O problema atual da igreja é que
não queremos fazer discípulos, queremos formar prosélitos, apenas atrair
pessoas para a igreja. E, muitos entendem que depois que uma pessoa levantou a
mão pra Jesus, acabou a responsabilidade. Não é preciso mais cuidar.
Não foi este o exemplo que Jesus nos deixou. Isto não é discipular, é
linha de produção religiosa.
Separei cinco características que acredito que todo amigo, portanto todo discípulo, deve desenvolver:
1. Lealdade
Um amigo está presente nos bons e maus momentos. Ele não abandona
quando surgem dificuldades. Assim como um discipulador não abandona o seu
discípulo.
2. Sinceridade
Um amigo fala a verdade, mesmo quando dói. Ele corrige com amor e busca
o bem do outro. Um discipulador também corrige a quem discipula.
3. Empatia
Um amigo sofre junto, celebra junto, compartilha alegrias e tristezas. Ele
se coloca no lugar do outro, oferecendo apoio emocional e espiritual. O
discipulador sem empatia não consegue alcançar o coração de seus discípulos.
4. Confiança
Um amigo verdadeiro abre o coração, confia e é confiável. Em geral o
amigo sabe o que está acontecendo com quem mantém amizade. Assim é a relação do
discipulador e discípulo, ela se desenvolve na base da confiança.
5. Sacrifício
A amizade verdadeira envolve doação, tempo, energia e até renúncia.
Jesus é o modelo supremo de amigo — Ele deu a vida por nós. Assim deve ser o
relacionamento discipulador e discípulo, um vida de doação:
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos.”
Jo 15:13
Conclusão
Esta proximidade dá-se primeiramente com Deus, e depois, com o seu
próximo. Acredito que uma pessoa cheia de Deus não queira o mal do seu próximo,
mas, apenas o bem.
Uma igreja onde os membros desenvolvem tal grau de amizade, não apenas
com os que já estão, mas, com os que estão chegando e os que estão de fora,
torna-se uma igreja rica em comunhão, um lugar saudável para se frequentar e
atrair multidões para fazer o mesmo. Como disse Bonhoeffer, a comunhão dos
santos é um vislumbre do céu.
