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sexta-feira, 28 de abril de 2023

O poder da religião nas decisões das massas

Cada sociedade desenvolve a sua espiritualidade. Ninguém senta em uma prancheta e desenha uma religião, ela simplesmente vai acontecendo a partir de suas crenças, que vão sendo repassado de geração para geração. Na maioria das vezes, não se tem ideia de como se iniciou aquela religião, e neste momento nascem os mitos. A partir do momento em que ela começa a se tornar dominante, poderosos começam a apropriar-se dela como arma de controle e manipulação das massas. Algo que não há como fugir, a não ser pela revolução filosófica teológica.

Há pessoas que acham que pelo simples fato de não professar uma determinada fé ou seguir uma religião dominante está livre de ser manipulado por suas doutrinas. Ledo engano. A coisa é muito mais profunda do que se imagina e não se prende a um grupo ou a outro. A religião dominante está impregnada na cultura e moral de um povo, assim como o inverso é verdadeiro. Portanto, todas as decisões de massa que serão tomadas, estarão intimamente ligadas ao poder da religião dominante.

Vamos tomar alguns exemplos para entender isto de maneira macroscópica:

Povos nórdicos - Odin

Os vikings acreditavam em Odin como o seu deus principal. Odin era o deus da guerra e da morte. Em sua crença, eles acreditavam que vencer a guerra era um favorecimento de Odin. Quando o seu deus os fortalecia, eles venciam. O povo acreditava que após uma morte heroica em batalha eles iriam morar eternamente em Valhala (Salão de Odin) e iram banquetear eternamente com os bravos semelhantes e com Odin. Os medrosos ou quem morria de outra forma, não iria para o paraíso nórdico.

Este pensamento os estimulava para guerrear e não temer a morte violenta, ao contrário, eles até a buscavam. Isto fazia com que os exércitos nórdicos fossem poderosíssimos, o que muito explica as suas grandes vitórias contra os cristãos na idade média. Eles realizaram grandiosas conquistas, navegaram para muitas partes da Europa levando o terror e uma nova cultura.

É interessante notar que eles venceram a guerra, dominaram outros povos com os seus exércitos, mas, a sua filosofia e religião foi engolida pelo cristianismo.

Índia - Brahma

Na Índia há uma crença em diversas divindades, mas, a mais importante é Brahma, criador do universo, Vishnu e o sustentador do universo, e Shiva, o destruidor e regenerador da energia vital. Os três juntos formam a Trimúrti, a trindade sagrada do hinduísmo.

Os indianos vivem sobre um sistema de castas, que está intimamente ligado às suas crenças. Este sistema legal de castas foi abolido em 1950, com a nova Constituição. Porém, mesmo com a mudança da Constituição, nada se alterou na religião. A fé e a espiritualidade continuaram as mesmas. Trata-se de um problema religioso, moral, que está enraizado nas pessoas. O principal interessado na continuação deste pensamento é a casta dominante, que se beneficia com esta posição de subserviência. Enquanto eles acreditarem em suas divindades, jamais questionarão seriamente, jamais se rebelarão.

A crença na religião impede que haja revoluções para se quebrar as castas. As pessoas se colocam em posição de impedimento até mesmo para se casarem com pessoas de outras castas.

Europa e América - Jesus

O cristianismo em geral crê em Deus, o criador de todas as coisas. O Deus judaico-cristão se manifesta na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Durante o período em que a Igreja esteve no topo do poder em toda a Europa, ela exercia grande domínio sobre tudo. Ela ditava a forma que as pessoas viviam. Reis e governadores se dobravam ao domínio espiritual do santo Império romano. Até que começaram os questionamentos teológicos dos seus dogmas. Estes questionamentos se iniciaram a partir do uso da razão em detrimento a fé dogmática, no fim da idade média e início da idade moderna. Isto foi o estopim para muitas revoluções que varreram a Europa, modificando toda uma cultura.

A Reforma protestante foi resultado direto desta mudança de mente. A Reforma mudou o pensamento religioso da época. Após a Reforma Protestante o mundo ocidental experimentou o iluminismo e explodiu em revoluções. O rei deixou de ser o ungido intocável de Deus. Alguns dele foram depostos e até mortos. O cristianismo legitimava a figura do rei como soberano divino. Com a queda desta crença, muitos foram encorajados a lutar contra o absolutismo monárquico.

Conclusão

Seja em que lugar do mundo for, toda religião dominante está ligada diretamente à cultura. A cultura é reforçada pela religião e leva a hábitos e tomadas de decisões morais. O poder político estatal não está alheio a este fato. Ao contrário, utiliza-se deste expediente para manipular a religião e a cultura, para ter domímio pleno das massas, e assim, perpetuar-se no poder. Na maioria das vezes isto é feito de maneira mecânica, sem pensar, apenas praticando a mesma coisa e utilizando o mesmo expediente que todos. Todo poder dominante se enxerga como ‘o escolhido’ ou ‘agraciado’ pelo povo e pela divindade de seu povo. Sendo o rei escolhido por um deus, quem ousará a questionar?

Embora, em muitos países se defenda um estado laico, é impossível que o Estado seja totalmente laico, jamais será laico um país onde há uma religião dominante, a não ser que todos os cidadãos sejam ateus. Neste caso o ateísmo seria a forma condicionante sob a qual o povo viveria e nada mudaria, considerando que todo ateísmo está atrelado a uma doutrina filosófica, simplesmente iria se trocar um dogma religioso por um dogma filosófico.

Pr. Sergio Rosa