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Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

quinta-feira, 26 de março de 2015

Fundamentalismo x Liberalismo - Briga entre irmãos

"E disse: Um certo homem tinha dois filhos". (Lucas 15:11)
Gostaria de iniciar este texto com a afirmação de que não sou LIBERAL e muito menos FUNDAMENTALISTA. Penso que ambos estão completamente fora dos propósitos divinos. Como frequentemente sou abordado sobre o assunto, penso que deveria compartilhar um pouco de minha linha teológica utilizando um texto que gosto muito e que expõe de maneira clara o que Jesus pensava a respeito do assunto.
O texto de Lucas 15 a partir do verso 11, é conhecido como A Parábola do Filho Pródigo. Entretanto Jesus começa sua fala dizendo que haviam dois filhos, logo são duas estórias, dois posicionamentos e duas abordagens.  Se olharmos esta parábola apenas pela ótica do irmão mais novo acharemos que Jesus estava pregando apenas para os pecadores, mas se partirmos do princípio de que haviam dois irmãos na parábola, então veremos que Jesus também tinha a intenção de atingir ao grupo de escribas e fariseus que também estavam ouvindo sua mensagem. Isto nos coloca diante do antagonismo entre o irmão mais velho e o mais novo; entre o moralismo e a libertinagem; entre o fundamentalismo e o liberalismo.
Os versos 1 e 2 mostram claramente que haviam dois grupos para quem Jesus estava pregando. Os pecadores e os religiosos. "E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles". (Lucas 15:1-2).Os religiosos aparecem murmurando por que Jesus estava comendo com os publicanos e pecadores. Na visão deles, se Jesus era um rabino não deveria se misturar com aquele tipo de gente. Jesus então conta a parábola onde o irmão mais novo é apresentado como um libertino que gastou toda a fortuna do pai. Fica claro que o seu posicionamento estava errado. Mas ele se arrepende e volta para a casa do pai e o pai o aceita. O irmão mais velho é um filho dedicado à casa, mas ao ouvir que havia uma festa para seu irmão mais novo fica frustrado e não aceita de forma alguma a decisão do Pai. Jesus ensina com a parábola que tanto o posicionamento do irmão libertino quanto o do irmão moralista estão errados. O libertino precisava converter-se e deixar a libertinagem e o moralista deveria da mesma maneira converter-se e abandonar o legalismo moralista. O irmão mais velho deveria ter compaixão de seu irmão mais novo e recebê-lo juntamente com o seu pai. Escribas e fariseus  deveriam aceitar os publicanos e pecadores e ajudá-los a voltar para a casa do Pai. Mas eles os rejeitam e esta a acusação de Jesus para eles na parábola.
Fundamentalismo e liberalismo são dois posicionamentos antagônicos, porém oriundos da mesma raiz, o pensamento cristão. Dois filhos com pensamentos diferentes, mas gerados pelo mesmo pai, o cristianismo. Duas formas teológicas de abordagem do mesmo assunto, porém com posicionamentos distintos.
Tenho tentado me achar no meio destas duas abordagens antagônicas. Assistindo a um programa onde  Leonardo Boff estava sendo entrevistado, me veio um direcionamento. Foi perguntado a ele sobre política e ele fez uma leitura sensacional sobre o PT. Segundo ele, o PT dialogou muito bem com as categorias de base, conversou com os pobres. Fez uma boa política de base. Entretanto umas vinte ou trinta pessoas que ocupam altos cargos deveriam ser expulsas do partido por que seu procedimento não condiz com a ideologia partidária. Disse isto e complementou - não sou petista, não tenho partido político, sou um intelectual e penso que todo intelectual deve estar livre para poder se pronunciar sobre tudo.
A partir do pronunciamento de Boff me veio a pergunta: por que tenho que ser fundamentalista ou liberal? As pessoas ao nosso redor querem a todo custo nos rotular de alguma coisa: tradicional, pentecostal, fundamentalista, liberal, neo-liberal... Mas, como pensador de teologia preciso ser livre para ler, pesquisar e analisar todo material sério produzido. O interesse da pesquisa é buscar o conhecimento, tentando ao máximo se manter isento de uma posição partidária.
Claro que não se pode ficar em cima do muro a respeito de questões fundamentais, é preciso um posicionamento a respeito dos temas importantes da existência e da religião. Mas, quem disse que há de se concordar com tudo que há no sistema onde você encontrou uma das respostas para uma das suas questões. Por que preciso escolher um único sistema teológico e achar que ele está completamente correto? Ao se divinizar um sistema teológico corre-se o risco de idolatria ou fanatismo.
A parte que me toca do fundamentalismo e que não abro mão e que é a minha base, meu alicerce, meu fundamento, meu princípio inegociável é que a salvação vem exclusivamente por intermédio de Jesus, o filho de Deus, e que a Bíblia é Revelação de Deus para que o homem venha a conhecer esta tão grande salvação. A parte liberal que aceito é a vivência do Ágape, o olhar para o outro como pessoa e não como coisa, e o desapego supremo das estruturas religiosas como se elas fossem Deus. A liberdade de pesquisa e a crítica do pensamento teológico histórico também é uma grande contribuição liberal. 
Ed Rene Kivitz em seu sermão 'Qual é a vantagem', pregado ho Haggai 2014, pergunta (parafresando): "a qual tradição cristã você diz que segue, quando afirma que segue a sã doutrina? O apóstolo Paulo quando escreveu suas cartas desconhecia completamente toda e qualquer doutrina que foi formulada após ele". Creio que esta frase do Ed é para se pensar e refletir bastante. A bíblia é para mim a única regra de fé e prática ou são as doutrinas que foram formuladas a partir de uma interpretação? Haveria hoje um sistema teológico ou doutrinário, a prova de falhas, que seria a expressão fiel do que Jesus ensinou? Se concordarmos com isto, então estaremos repetindo a infalibilidade papal. 
Quando olho para o fundamentalismo teológico, vejo uma preocupação enorme em se manter a sã doutrina, a instituição e seus dogmas. Entretanto, a que custo? cria-se um dogma em determinado momento histórico, baseado nas crenças e verdades da cultura e época, e depois se diviniza este dogma e ele se torna imutável. Um complemento da Bíblia. Uma interpretação fiel ao texto sagrado. O problema é que com o tempo surgem novas descobertas, novas pesquisas, novas informações que o derrubam e ele se torna insustentável. Para que não haja discussões e fechar o assunto sobre ele é preciso colocá-lo como mistério indiscutível que deve ser somente aceito sem restrições. Portanto, um dogma.
Na parábola contada por Jesus percebe-se que era muito mais fácil o irmão mais novo ceder e ir até o irmão mais velho, do que o irmão mais velho aceitar qualquer coisa advinda do irmão mais novo. É muito mais fácil um liberal abrir para dialogar com um fundamentalista do que o inverso. Por que o segundo está fechado para qualquer possibilidade de diálogo. Óbvio que isto não faz do liberalismo a melhor forma de se fazer teologia, mas a abertura do diálogo mostra que talvez ele possa vir a converter-se, como acontece com o irmão mais novo. Por que a "fé vem pelo ouvir" (Rm 10.17). Portanto se os ouvidos estiverem fechados e a boca aberta, não se poderá ouvir nada. 
Como poderia os dois irmãos dialogar se ambos são completamente antagônicos entre sí? Será que são? Não é verdade. Tanto um quanto o outro queriam a casa do Pai. Então temos um ponto em comum. A forma que queriam é que era o problema. Um queria fazer da forma libertina, achando que poderia fazer de tudo e que tudo era permitido. A busca pelo prazer, o hedonismo, a completa ausência de senso de moral seria para ele algo normal. Entretanto, sua estória mostra que este caminho leva a destruição pessoal e não à realização. O outro queria a casa do pai, mas se recusava a aceitar a vontade do pai em aceitar o seu irmão. Achou inadmissível que o pai fizesse uma festa para aquele filho ingrato. Não quis entrar na casa e participar da festa. Não se prontificou a ajudar e aceitar ao seu irmão. Mas o fato é que ambos eram filhos e tinham direito na herança. O pai não recusa nem o filho libertino nem o moralista, mas chama os dois a um reposicionamento.
Os escribas e fariseus tinham uma grande preocupação com a instituição religiosa. O Fundamentalismo erra pensando na proteção da instituição. No fundamentalismo a preocupação última é a instituição e seus dogmas. A preocupação com as pessoas vem em segundo ou terceiro plano, quando há. E quando isto acontece, a preocupação é sempre trazer a pessoa para dentro do seu círculo dogmático, a preocupação é sempre proselitista voltada para a instituição, nunca para o ser humano. A ideia é sempre de missão. De realizar uma tarefa. Salvar almas, sem preocupar-se com o ser humano. Quase não há a preocupação real com gente. A evidência do ágape é rara. A alteridade não se vê, a não ser entre os pares. Por isto suas atitudes são sempre radicais e cruéis com aquele a quem é considerado como oponente. Contra quem não está dentro do círculo dogmático. Por isto a ala radical do Islamismo mata. Obvio que a preocupação com a instituição deve haver sempre para que ela não morra ou seja desmontada, entretanto, deve ser moderada e há de se pesar sempre a que custo. 
Os pecadores e publicanos não se preocupavam em nada com a instituição. O pensamento liberal é que a igreja é retrograda e ultrapassada. Desta forma o liberalismo erra ao se desfazer da instituição, mas o faz tendo como preocupação última o ser humano. Isto ficou bem evidenciado na Teologia da Libertação que demonstrou uma forte preocupação com a assistência e aceitação do outro. Entretanto sua banalização da Bíblia acabou conduzindo a uma certa libertinagem existencial e relaxamento moral. No liberalismo a preocupação com o indivíduo precede à instituição. A instituição só existe para atender ao indivíduo.
Alguém pensou que se conseguíssemos colocar os dois irmãos para conversarem e tentar achar o melhor que os dois tem, talvez o posicionamento de um seria a chave para complementar o outro. Tentativas assim foram feitas, mas, daí nasceu o terceiro filho o neo-liberalismo. Um dos maiores pensadores nesta linha talvez tenha sido Karl Barth. Que na verdade criou outra coisa, e não apenas a conversa entre os dois filhos, é mais um irmão que foi rejeitado pelos outros dois anteriores a ele.
Pr. Sergio Rosa.
(TEXTO EM CONSTRUÇÃO - DEIXE SUA CONTRIBUIÇÃO E CRÍTICA)



sexta-feira, 20 de março de 2015

"The walking dead!" Uma abordagem sobre a heteronomia espiritual na atualidade

"Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados". (Colossenses 1:13-14).

Virou moda lançar filmes sobre os mortos vivos. Eu mesmo já me peguei assistindo a dois ou três desta categoria, se assim podemos chamar. Antes este tipo de filme era classificado como terror ou espanto, mas parece que está se tornado uma categoria própria de tão massificado que está no cinema. Tanto é verdade que já existem vários comerciais de TV se utilizando deste 'potencial'. Em um dos filmes que assisti o zumbi era um rapaz que se apaixona por uma moça viva. Eles se enamoram e no final a força do amor faz com que o rapaz volte novamente à vida. Foi a primeira vez que vi um filme de mortos vivos onde um zumbi volta a viver.
Volta e meia temos nossos momentos de 'good-time', onde vem às nossas mentes lembranças de bons dias do passado. Lembrei-me da minha infância. Vivíamos em seis, meus pais e quatro filhos. Sendo eu o único filho homem no meio de três meninas, duas irmãs mais velhas e uma mais nova. Era uma farra, brincávamos e brigávamos como acontece na maioria das famílias. Mas, minha mãe, 'sargentona ditadora', vinha e acabava com toda a festa, e não podíamos nem retrucar. Ás vezes, como era de costume, soltávamos o famoso: "Ah mãe!" era o suficiente para tomar uma chinelada daquelas e 'fechar o bico'.
A heteronomia não é algo fácil de definir, devido às inúmeras discussões filosóficas sobre o assunto. Quero ficar aqui com o pensamento de Kant e Paulo Freire. É estar sujeito a normação ou regulação do outro. É achar-se sujeito à leis, sem o direito de uma decisão autônoma. Segundo Freire crianças na idade estudantil estão sujeitas às regras da instituição sem o poder da contestação. Portanto, educadores de infantes devem estar bastante atentos à difícil passagem da  heteronomia para a autonomia.
A criação que recebi por parte dos meus pais foi assim, bastante heteronoma durante a infância e adolescência. Mas lembro que minha mãe foi aos poucos me estimulando a desenvolver a autonomia através de pequenas coisas do tipo, comprar minhas próprias roupas, buscar meus próprios cursos, escolher a carreira... Pena que ela morreu antes de concluir os ensinos, apesar de que sua pouca instrução a desprovia de conhecimento o suficiente para me mostrar o horizonte da autonomia em um nível mais elevado. De qualquer forma, vínhamos de uma ditadura militar onde a filosofia havia sido caçada e o pensar vigiado. Éramos ensinados a obedecer sem questionar, seja nas leis domésticas, escolares ou do estado.
Voltando aos filmes dos zumbis, uma característica geral é que todos os mortos vivos querem a qualquer custo comer  carne humana. Eles não fazem outra coisa a não ser correr atrás dos vivos para comê-los. Eles querem apenas saciar a sua fome. Outra característica é que após se transformarem em zumbis eles perdem sua capacidade cognitiva. Já não raciocinam, são apenas guiados por uma necessidade que podemos classificar como heterônoma, se pensarmos que já não existe por parte deles uma autonomia que lhes permitam decidir. Neste caso a força da necessidade seria o heteros. Aquele quem governa suas decisões.
Quando penso no cristianismo atual sou tentado fazer uma analogia entre o the walking dead e os cristãos pós-modernos. O apóstolo Paulo afirma "Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados". (Colossenses 1:13-14).
Cristo nos resgatou da escuridão e nos trouxe para a sua luz, antes portanto nós éramos escravos de satanás, vivendo debaixo da heteronomia deste mundo, sobre a regulação do príncipe das trevas. Viver o evangelho é estar em liberdade plena como seres autônomos, tendo liberdade dada por Cristo para tomada de decisões. Desta forma  a nossa autonomia se transforma em teonomia. Entretanto, se ainda vivemos como escravos do prazer, buscando incansavelmente saciar uma necessidade hedonista, cada vez mais latente em nossa sociedade, concluí-se que ou há algum problema com o evangelho ou com a nossa forma de viver o evangelho.
C.S. Lewis falando a respeito da sexualidade em seu livro Cristianismo Puro e Simples, compara o apetite sexual com pecado de glutonaria. O indivíduo já está saciado, já comeu tudo o que caberia em seu estômago, mas, ele quer a todo custo comer mais. Assim, ele faz coisas absurdas que uma pessoa comum não faria. Coisas que só de falar embrulha nosso estomago. Desta forma se comporta aquele que é conduzido tão somente por suas paixões. A busca pelo prazer sexual se torna heteronoma em sua vida. O indivíduo perde a razão e faz coisas absurdas em busca do prazer. Não há limite para saciar sua apetite sexual.
O sexo foi só um exemplo. Não estou simplificando o pecado pós-moderno e nem mesmo colocando o sexo como a primazia dos pecados, por que não é. O pior pecado deste século continua sendo o hedonismo. Há um egocentrismo narcisista exarcebado, que chega às raias de uma heteronomia, como acontece com os mortos vivos dos filmes. Sobretudo com os mais jovens que perdem o domínio de suas atitudes em função de uma necessidade de saciar sua compulsão de ser feliz a qualquer custo.
A religião cristã, aquela que deveria ensinar o indivíduo a viver a sua liberdade em Cristo, aquela que deveria conduzir portando-se como um aio, levando da heteronomia para uma teonomia espiritual, não o faz. O cristianismo atual escraviza outra vez o indivíduo privando-o de toda a capacidade crítica profética. Jesus disse: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós". (Mateus 23:15). Eu imagino Jesus levantando-se no meio de uma convenção de qualquer denominação Cristã e proferindo estas palavras. Com certeza ele seria expulso. 
Viver na teonomia é caminhar sobre os princípios de Deus na prática da fé e do amor (ágape). É andar em conformidade com a Presença Espiritual (Paul Tillich). Teonomia não pode ser confundida com viver sob o jugo de uma religião manipuladora ou de um moralismo escravizador.  Nem mesmo uma observação literal cega às leis vetero-testamentária sem uma reflexão plausível. É um viver sob a Palavra de Deus. É viver em intimidade com Deus. A religião só será verdadeiramente espiritual se tiver a capacidade de levar o indivíduo à libertação da heteronomia do pecado, ensinando-o a viver uma liberdade em Cristo.
Desta forma concluo que uma religiosidade onde as pessoas são 'alcançadas' com finalidade de serem controladas, usadas, exploradas e manipuladas para um fim que não seja tão somente o pleno conhecimento de Deus, fracassou em sua missão de ser igreja de Jesus. Sua consequência será gerar pessoas que se concentram cada vez mais em si mesmas e em como saciar e preencher sua necessidade existencial.

Pr. Sergio Rosa.