Quem sou eu

Minha foto
Um homem de Deus, buscando aproximar-se do seu ser essencial através de uma vida devocional meditativa, pesquisa, leitura de grandes autores, prática de uma vida piedosa, obras de amor ao próximo, oração e muito trabalho. Apaixonado por Jesus, por sua esposa, filho e nora. Siga no Instagran: sergiorosa50

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ENTRE PROFETAS E SACERDOTES DA ATUALIDADE

E Israel esteve por muitos dias sem o verdadeiro Deus, e sem sacerdote que o ensinasse, e sem lei. (2 Crônicas 15:3)
O peso que viu o profeta Habacuque. (Habacuque 1:1)

Quando parei para escrever este texto fiquei pensando, como escrever sobre algo tão profundo de maneira que todos possam entender? Difícil esta tarefa. Mas vamos tentar realizá-la de maneira simples, sem, no entanto, ser muito simplista.
Vamos pensar no sacerdote como aquela pessoa que tem por ofício dar continuidade ao sistema religioso. Se você frequenta uma igreja, já percebeu que existem pessoas que fazem a coisa acontecer e outras só participam das coisas que vão acontecendo. O sacerdote é aquele que faz com que o culto aconteça. A ele é conferido a autoridade de oficializar os cultos e zelar pela continuidade doutrinária e perpetuação dos ritos religiosos.
O fato de vivermos hoje em um sacerdócio universal, onde todos os remidos são sacerdotes, não faz de cada pessoa um sacerdote em potencial. Se não, teríamos que viver em uma anarquia, onde todos podem tudo e tem o papel de fazer o tudo acontecer: o culto, a perpetuação da religiosidade, o ensino religioso, os ritos, as práticas, o doutrinamento. Todos os remidos são sacerdotes na abertura que se tem de buscar a Deus sem a interferência de um mediador humano. Jesus é o único mediador entre o homem e Deus. Nas palavras de Paul Tillich dentro da Comunidade Espiritual todos são sacerdotes, mas, o mesmo não cabe dentro da Comunidade Eclesiástica.
Eu tive o privilégio de ter tido alguns pastores. Dentre eles, lembro de um que era extremamente ranzinza, ele vivia de cara fechada. Com o tempo de convivência percebemos que aquela cara era somente uma defesa para que as pessoas não se aproximassem demais. Lembro que ele tentava manter a disciplina e a ordem de maneira incisiva e a fisionomia sempre fechada testemunhava a favor de sua austeridade. Ele dizia: "quando o Pastor estiver de pé a congregação toda deve ficar de pé também". Lembro de sua firmeza doutrinária, defendendo a Carta Doutrinária Denominacional como sendo expressão fiel das verdades bíblicas.
A verdade é que precisamos de sacerdotes. Sem a existência do sacerdote, acontece o que aconteceu com Israel: "E Israel esteve por muitos dias sem o verdadeiro Deus". Qual a razão desta afirmação? por que eles estavam sem Deus? o texto responde, eles estavam "sem sacerdote que o ensinasse, e sem lei".
Este é um dado assustador, por que aqui percebe-se a relevância do sacerdócio. Sem sacerdotes que ensinem não há a perpetuação da religião, o povo cai em descrença, a presença de Deus desaparece em meio a incredulidade. Aqui não se discute o discipulado ou a qualidade do que se ensina ou como se ensina. Queremos nos ater aqui apenas na discussão do oficio sacerdotal.
A simples existência do sacerdote, embora garanta a continuidade da coisa, não é garantia de que tudo ande na linha e em perfeita harmonia com Deus. O teólogo Paul Tillich em seu livro de 'Teologia Sistemática' falando sobre 'a realidade da revelação' afirma que "uma administração mecânica de ritos religiosos pode excluir qualquer presença reveladora da realidade sagrada". Esta atitude sacerdotal pode levar a falência do sistema religioso. Ainda que em teoria continue funcionando, já não alcança mais seu objetivo.
Neste momento se faz necessário a interferência profética, a revelação divina e a orientação para o povo. No AT percebemos muita desta interferência no percurso da história. O Profeta Habacuque carrega a preocupação de um esfriamento religioso, o que para ele se transforma em um grande peso. A palavra então vem até ele. Ele sofre pelo povo, intercede pelo povo, e profetiza para o povo.
O profeta é aquele que tem uma experiência extática que muda a sua vida, a sua história, e a história de todos os que o cercam. A mensagem divina e divinamente recebida não se contém dentro do profeta. Ela exige que seja pronunciada, ainda que esta não seja a vontade de seu portador. Esta mensagem irá de encontro com as imperfeições de maneira contundente.
O profeta portanto é aquele que pronuncia o juízo divino e sua sentença, sua aliança ou destruição. O sacerdote irá acatar ou não a mensagem profética. Ele se encontra em uma situação dificílima por que não tem como provar que a mensagem profética é verdadeira ou falsa. Não há muitos parâmetros para julgá-la. Se por um lado ele aceitar a mensagem como divina, ele corre pelo menos dois grandes riscos: 1. Estar errado e a mensagem não ser verdadeira e levar a sua congregação à ruína. 2. Estar certo, e o povo rejeitá-lo por ir de encontro aos maus costumes que ficaram enraizados.
O oficio sacerdotal terá que viver com este dilema. Não há resposta segura para respondê-lo. Faz parte do desempenho de sua função vivenciar este problema. É viver pisando em ovos. O que de certa forma não é ruim, por que esta insegurança vai levá-lo a uma dependência do divino. A falsa segurança sacerdotal é demoníaca. Por demoníaca aqui entenda-se como processo destruidor do ser espiritual e o distanciamento da plenitude da espiritualidade autêntica. A confiança em si mesmo e no seu próprio eu leva o líder religioso à ruína espiritual.
Por outro lado, para o profeta não existe saída. Ele é o que é, um profeta. Ele sente antecipadamente a dor que o povo sentirá e vê aquilo que ningúem está vendo. Aquilo corrói a sua alma, queima em suas entranhas. Ele recebe a palavra e entrega para o povo. Por vezes será aceita e por vezes será rejeitada. Não é sua função convencer o povo de que suas palavras são verdadeiras e as vezes em sua ira humana nem quer que o povo realmente acredite. Não lhe cabe uma oratória convincente ou vibrante. A forma com que vai pronunciar o oráculo é sua última preocupação. Muito embora o profeta tema por sua vida, sua dignidade, seu status social, família, etc., ele não terá como rejeitar o anúncio sagrado.
Sabemos que o termo profeta está profundamente desgastado em nossos dias, e há uma profunda preocupação em se saber qual é o profeta verdadeiro e o falso. Este desgaste não é novo, desde a antiguidade sempre houve e sempre haverão profetas verdadeiros e falsos. E não há como saber qual é qual. Não existe uma fórmula humana para se saber. Esta dúvida sempre esteve presente no meio da religiosidade. Ainda que o que o profeta disse aconteceu, não é garantia de que seja verdadeiro, pode ter sido uma mera coincidência.
Isto nos tira um pouco a paz e a tranquilidade por que gostamos de certezas. Gostamos de respostas diretas. Gostamos de nos sentir seguros. Mas este não é o caminho profético. Na maioria das vezes o pronunciamento profético ira mexer com a 'zona de conforto'. Ele irá denunciar e trazer a tona a sujeira humana e o estado lamentável da alma, sobretudo entre os poderosos que estão assentados confortavelmente sobre a corrupção.
Há casos em que o oficio profético e sacerdotal será encontrado em uma mesma pessoa. Neste caso ele levará sobre si a responsabilidade sacerdotal e o peso profético. Ao mesmo tempo que precisará perpetuar a ordem religiosa ele será um agente contrário a ela, quando for o caso, não só de sua congregação, mas, de toda a existência religiosa. O que certamente o levará a um grande conflito pessoal.
Sei que nesta altura alguns já estão se perguntando se existem ainda hoje profetas, por que sacerdotes sabemos que existem. Lamento, mas, não posso responder à sua pergunta diretamente. Muitos tem se levantado como profeta em nossos dias e anunciado pretensos oráculos dizendo "assim diz o Senhor", quando o Senhor  não falou nada. O que é verificado da palavra profética é que ela é como uma bomba nuclear, quando proferida, nada pode pará-la, nem reis, nem sacerdotes e  nem mesmo o profeta.
Sobre a forma da revelação profética, que causa uma enorme dúvida, o que se pode afirmar é que o profeta não perde sua consciência no momento em que recebe a palavra, ainda que a mensagem seja recebida através de uma experiência extática. Quem faz o indivíduo perder sua razão são forças demoníacas e não o poder divino. O divino se apodera da pessoa e soma com ela. A revelação não se dá por uma perda de sentidos, embora o transe é uma particularidade profética. Não se fala aqui de um transe esotérico, de uma programação mental, mas de um estado onde a alma humana é ligada diretamente ao divino. E neste momento de contato o profeta entende e recebe o mistério do divino, que mesmo após revelado, ainda continua sendo misterioso.
 (texto ainda em elaboração, deixe sua participação para melhora desta construção)
Sergio Rosa